Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A Fé é uma arte

de A novíssima igreja da Santíssima Trindade em Fátima - vulgo "ETAR" - tem surpreendido sempre quem a visita. Em conversa com inúmeras pessoas que se lá dignaram entrar, ouço palavras de admiração. Há coisa de uma semana, falei com o meu pároco sobre o este assunto e, invariavelmente, acabou por me confessar o espanto que a obra lhe provocou, qual "maravilha arquitectónica" de "invulgar beleza". Em tentativa de contraponto, questionando-o quanto à remota possibilidade da existência de alguma "maravilha religiosa" em todo aquele betão circular, por pouca que seja, lá me respondeu que, nesse aspecto, pode ser considerada como uma "aberração". Menos mal! Confirmei que ainda é plausível acreditarmos em encontrar em Portugal quem não tenha a vista assim tão curta. No meio de tanta "maravilha" e do deslumbramento aparente, aparece uma ponta de sanidade, mesmo de quem menos a esperamos.

A realidade incontornável da "ETAR" de Fátima é pois esta: para além da espectacularidade, que seria o orgulho de qualquer projectista, existe ali uma gravíssima "aberração religiosa". Mais, existe o espelho da aberração modernista em si que, pela arte, demonstra bem por que linhas se cosem as premissas essenciais dos seus objectivos.

A expressão da Fé católica pela arte perpassou estilos, alguns com inúmeras ramificações, e neles encontramos espelhada a evolução da vivência da própria Fé, a forma como a fomos descobrindo e cimentando. A arte templar da cristandade é uma das faces visíveis do depósito de Verdade da Igreja, empenho inestimável de fazer aplicar o melhor engenho na edificação física da casa de Deus. Por outro lado, a arte do templo serve também a liturgia que aí se pratica, aquela que cresce e se renova organicamente para ser fonte sacramental, espiritual e catequética, pelo que, ao entrar numa igreja, podemos vislumbrar a resposta do homem ao apelo divino e de que maneira se processa a adesão da sua vontade e da sua inteligência à Mensagem.

Chegados ao ponto crítico da modernidade, julgamos ser aceitável construir segundo estilos que em nada se preocupam com estes propósitos. Aliás, a desculpa que está na base desta realidade permite recorrer a arquitectos ateus que não saberão - pelo menos assim se subentende como óbvio... - fazer qualquer expressão que não seja da sua condição de "não crentes". Nada mais provável em tempos que vivem de revolução, ou dos seus cacos. Porque não então recorrer a quem partilhe da mesma visão conciliar de abertura da Igreja ao mundo, à sua conduta e à sua arte profana? Porque não misturar o sagrado com o que lhe é completamente estranho? Porque não fazer disso a visibilidade da desconstrução sacramental, espiritual e catequética?

No caso específico da auto-denominada "nova basílica", não só é evidente a arte de ateus - muita em figuras rupestres, elevada a sublime inovação - como a concordância total com a referida revolução: paredes vazias, sentimento permanente de vazio, disposição em anfiteatro, horizontalidade, imagética desconcertante, etc. Ou seja, a igreja da Santíssima Trindade, por maior valor arquitectónico que tenha, não é arte de Fé, na mesma medida que que a Fé deixou de ser uma arte. O mesmo é dizer que não é arte da verdadeira Fé, mas de uma outra que abraçámos em meados de 60. E se o objectivo era edificá-la, nesse caso estão todos de parabéns: está ali materializada a deriva da Igreja.

Nota: O autor do post é português, logo a escrita utilizada é o português de portugal.
Fonte: Gazeta da Restauração

2 comentários:

Anônimo disse...

Meus caros amigos, o meu obrigado pela referência.

Recebam as melhores saudações de Portugal.

Gabriel Leitão disse...

Bem-vindo de volta!!! =D

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