Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Meios de preparar-se para a morte


Todos cremos que temos de morrer, que só uma vez havemos de morrer e que não há coisa mais importante que esta, porque do instante da morte depende a eterna bem-aventurança ou a eterna desgraça. Todos sabemos também que da boa ou má vida depende o ter boa ou má sorte. Como se explica, pois, que a maior parte dos cristãos vivem como se nunca devessem morrer, ou como se importasse pouco morrer bem ou mal? Vive-se mal porque não se pensa na morte: “Lembra-te de teus novíssimos, e não pecarás jamais.” É preciso persuadirmo-nos de que a hora da morte não é o momento próprio para regular contas e assegurar com elas o grande negócio da salvação. As pessoas prudentes deste mundo tomam, nos negócios temporais, todas as precauções necessárias para obter tal benefício, tal cargo, tal casamento conveniente, e, com o fim de conservar ou restabelecer a saúde do corpo, não deixam de empregar os remédios adequados. Que se diria de um homem que, tendo de apresentar-se ao concurso de uma cadeira, esperasse, para adquirir a indispensável habilitação, até ao momento de acudir aos exercícios? Não seria um louco o comandante de uma praça que esperasse vê-la sitiada para fazer provisões de víveres e armamentos? Não seria insensato o navegante que aguardasse a tempestade para munir-se de âncoras e cabos?… Tal é, todavia, o procedimento do cristão que difere até à hora da morte o regular o estado de sua consciência. “Quando cair sobre eles a destruição como uma tempestade… então invocar-me-ão e não os escutarei… Comerão os frutos do seu mau proceder” (Pr 1,27.28.31).


A hora da morte é tempo de confusão é de tormenta. Então os pecadores implorarão o socorro do Senhor, mas sem conversão verdadeira, unicamente com o receio do inferno, em que se vêem próximos a cair. É por este motivo justamente que não poderão provar outros frutos que os de sua má vida. “Aquilo que o homem semeou, isto também colherá” (Gl 6,8). Não bastará receber os Sacramentos, mas será preciso morrer detestando o pecado e amando a Deus sobre todas as coisas. Como, porém, poderá aborrecer os prazeres ilícitos aquele que até então os amou?… Como amará a Deus sobre todas as coisas aquele que até esse instante tiver amado mais as criaturas do que a Deus?


O Senhor chamou loucas — e na verdade o eram — as virgens que queriam preparar as lâmpadas quando já chegava o esposo. Todos temem a morte repentina, que impede regular as contas da alma. Todos confessam que os Santos foram verdadeiros sábios, porque souberam preparar-se para a morte antes que essa chegasse… E nós, que fazemos nós? Queremos correr o perigo de nos prepararmos para bem morrer, quando a morte nos estiver já próxima? Façamos agora o que nesse transe quiséramos ter feito… Oh! quanto é terrível então recordar o tempo perdido, e sobretudo o tempo mal empregado!… O tempo que Deus nos concedeu para merecer, mas que passou para nunca voltar.


Que angústia nos dará o pensamento de que já não é possível fazer penitência, freqüentar os sacramentos, ouvir a palavra de Deus, visitar Jesus Sacramentado, fazer oração! O que está feito, está feito. Seria necessário ter então mais presença de espírito, mais tranqüilidade e serenidade para confessar-se bem, para dissipar graves escrúpulos e tranqüilizar a consciência… mas já não é tempo! (Ap 10,6).


Já que é certo, meu irmão, que tens de morrer, prostra-te aos pés do Crucifixo; agradece-lhe o tempo que sua misericórdia te concede para regular tua consciência, e passa em revista a seguir todas as desordens de tua vida passada, especialmente as de tua mocidade. Considera os mandamentos divinos: recorda os cargos e ocupações que tiveste, as amizades que cultivastes; anota tuas faltas e faze — se ainda a não fizeste — uma confissão geral de toda a tua vida… Oh! quanto contribui a confissão geral para pôr em boa ordem a vida de um cristão. Cuida que essa conta sirva para a eternidade, e trata de resolvê-la como se a apresentasses no tribunal de Jesus Cristo. Afasta de teu coração todo afeto mau e todo rancor ou ódio. Satisfaze qualquer motivo de escrúpulo acerca dos bens alheios, da reputação lesada, de escândalos dados, e propõe firmemente fugir de todas as ocasiões em que possas perder a Deus. Pensa que aquilo que agora parece difícil, impossível te parecerá no momento da morte.


O que mais importa é que resolvas pôr em execução os meios de conservar a graça de Deus. Esses meios são: ouvir Missa diariamente; meditar nas verdades eternas; fazer, ao menos uma vez por semana, a confissão e receber a comunhão; visitar todos os dias o Santíssimo Sacramento e a Virgem Maria; assistir aos exercícios das congregações ou irmandades a que pertenças; praticar a leitura espiritual; fazer todas as noites exame de consciência; escolher alguma devoção especial à Virgem, como jejuar todos os sábados, e, por fim, propor recomendar- se a Deus e à sua Mãe Santíssima, invocando a miúdo, sobretudo no tempo da tentação, os santíssimos nomes de Jesus e Maria.


Tais são os meios com que podemos alcançar uma boa morte e a salvação eterna. Exercer essas práticas será sinal evidente de nossa predestinação.


Pelo que diz respeito ao passado, confiai no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que vos dá estas luzes porque quer salvar-vos, e esperai na intercessão de Maria, que vos obterá as graças necessárias. Com a vida assim regulada, e a esperança posta em Jesus e Maria, quanto nos ajuda Deus, e que força não adquire a alma!


Coragem, pois, meu leitor, entrega-te todo a Deus, que te chama, e começa a gozar dessa paz que até agora, por culpa tua, não experimentaste. Pode, porventura, uma alma desfrutar paz maior que a de poder dizer todas as noites, ao descansar: se viesse esta noite a morte, morreria, segundo espero, na graça de Deus? Que consolação se, ao ouvir o fragor do trovão, ao sentir a terra tremer, pudermos esperar resignadamente a morte, se Deus assim o tiver determinado!


É necessário o cuidado de nos acharmos em qualquer tempo, como quiséramos estar na hora da morte. “Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor” (Ap 14,13). Diz Santo Ambrósio que morrem felizmente aqueles que ao morrer já estão mortos para o mundo, ou seja desprendidos dos bens que por força então hão de deixar. Por isso, é necessário que desde já aceitemos o abandono de nossa fazenda, a separação de nossos parentes e de todos os bens terrenos. Se não o fizermos voluntariamente durante a vida, forçosa e necessariamente o teremos de fazer na morte, com a diferença de que então não será sem grande dor e grave perigo de nossa salvação eterna. Adverte-nos, neste propósito, Santo Agostinho, que constitui grande alívio, para morrer tranqüilo, regular em vida os interesses temporais, fazendo previamente as disposições relativas aos bens que temos de deixar, a fim de que na hora derradeira somente pensemos em nossa união com Deus. Convirá então só ocupar-se das coisas de Deus e da glória, pois são demasiadamente preciosos os últimos momentos da vida para dissipá-los em assuntos terrenos. No transe da morte se completa e se aperfeiçoa a coroa dos justos, porque é então que se recolhe a melhor soma de méritos, abraçando as dores e a própria morte com resignação ou amor.


Mas não poderá ter na morte estes bons sentimentos quem neles não se exercitou durante a vida. Para este fim alguns fiéis praticam, com grande aproveitamento, a devoção de renovar em cada mês o protesto da morte, com todos os atos em tal transe próprios de um cristão, e isto depois de receber os sacramentos da confissão e comunhão, imaginando que se acham moribundos e a ponto de sair desta vida.


O que se não faz na vida, difícil é fazê-lo na morte. A grande serva de Deus, irmã Catarina de Santo Alberto, filha de Santa Teresa, suspirava na hora da morte, exclamando: “Não suspiro, minhas irmãs, por temor à morte, pois há vinte e cinco anos que a espero; suspiro porque vejo tantos pecadores iludidos que esperam para reconciliar-se com Deus até à hora da morte, quando apenas poderão pronunciar o nome de Jesus”.


Examina, pois, meu irmão, se teu coração tem apego a qualquer coisa da terra, a determinadas pessoas, honras, riquezas, casa, sociedade ou diversões, e considera que não hás de viver aqui eternamente. Virá o dia, talvez próximo, em que deverás deixar tudo. Por que, neste caso, manter o afeto nessas coisas, correndo risco de ter morte inquieta?…Oferece-te, desde já, por completo a Deus, que pode, quando lhe aprouver, privar-te desses bens. Quem quiser morrer resignado, há de ter resignação desde agora em todos os acidentes contrários que lhe possam suceder; e há de afastar de si os afetos às coisas da terra. — Afigura-te que vais morrer — diz São Jerônimo — e facilmente conseguirás desprezar tudo.


Se ainda não escolheste estado de vida, toma aquele que na hora da morte quererias ter escolhido e que possa proporcionar-te um trânsito mais consolador à eternidade. Se já tens um estado, faze tudo que ao morrer quiseras ter feito nesse estado. Procede como se cada dia fosse o último da vida, cada ação a derradeira que praticas; a última oração, a última confissão, a última comunhão. Imagina que estás moribundo, estendido sobre o leito, e que ouves aquelas palavras imperiosas: Sai deste mundo. Quanto estes pensamentos nos podem ajudar a caminhar bem e a menosprezar as coisas mundanas! “Bem-aventurado aquele servo, a quem o seu senhor, quando vier, achar procedendo assim” (Mt 24,46). Aquele que espera a toda hora a morte, ainda que esta venha subitamente, não pode deixar de morrer bem.


(Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração X, Pontos I, II e III) - destaques nossos.

***Ouça também: Novíssimos.


segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ladainha de São Rafael Arcanjo


Senhor, tende piedade de nós

Cristo, tende piedade de nós


Senhor, tende piedade de nós


Jesus Cristo, ouvi-nos


Jesus Cristo, atendei-nos


Deus, Pai Celestial, criador dos Espíritos Celestes, tende piedade de nós;

Deus Filho, Redentor do mundo, a quem os Anjos desejam sempre contemplar, tende piedade de nós;


Deus Espírito Santo, felicidade dos Espíritos Bem-aventurados, tende piedade de nós;


Santíssima Trindade que sois um só Deus, Glória dos Santos Anjos, tende piedade de nós;


São Rafael, Anjo da Saúde, rogai por nós;


São Rafael, um dos sete espíritos que estão sempre diante do trono de Deus, rogai por nós;

São Rafael, que afastais para longe de nós os espíritos malignos, rogai por nós;


São Rafael, fiel condutor de Tobias, rogai por nós;


São Rafael, que levais nossas preces ao trono de Deus, rogai por nós;

São Rafael, que curastes a cegueira de Tobit pai de Tobias, rogai por nós;


São Rafael, auxílio nas tribulações, rogai por nós;


São Rafael, consolo nas necessidades, rogai por nós;


São Rafael, que tornais felizes os vossos devotos, rogai por nós;

Jesus Cristo, felicidade dos Anjos, perdoai-nos; Jesus Cristo, glória dos Espíritos Celestes, ouvi-nos;

Jesus Cristo, esplendor dos exércitos celestiais, tende piedade de nós.

Oremos:

Ó Deus, que, em vossa inefável providência, fizestes São Rafael o condutor fiel de vossos filhos em suas viagens, humildemente vos imploramos que possamos ser conduzidos por ele no caminho da salvação e experimentemos seu auxílio nas doenças do corpo e da alma. Por Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Amém.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

São João Crisóstomo - Parte II

PAPA BENTO XVI

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007

São João Crisóstomo (2)

Queridos irmãos e irmãs!

Continuamos hoje a nossa reflexão sobre São João Crisóstomo. Depois do período passado em Antioquia, em 397 ele foi nomeado Bispo de Constantinopla, a capital do Império romano do Oriente. Desde o início, João projectou a reforma da sua Igreja: a austeridade do palácio episcopal devia servir de exemplo para todos clero, viúvas, monges, palacianos e ricos.

Infelizmente, muitos destes, atingidos pelos seus juízos, afastaram-se dele. Solícito pelos pobres, João foi chamado também "Esmoler". De facto, como administrador atento ele conseguiu criar instituições caritativas muito apreciadas. O seu arrojo nos vários âmbitos fez com que ele se tornasse para alguns um rival perigoso. Ele, contudo, como verdadeiro Pastor, tratava todos de modo cordial e paterno. Sobretudo, destinava considerações sempre ternas às mulheres e cuidados especiais ao matrimónio e à família. Convidava os fiéis a participar na vida litúrgica, por ele tornada esplendorosa e atraente com genial criatividade.

Não obstante o coração generoso, não teve uma vida tranquila. Pastor da capital do Império, viu-se com frequência envolvido em questões e intrigas políticas, devido aos seus contínuos relacionamentos com as autoridades e as instituições civis. Depois, a nível eclesiástico foi acusado de ter superado os confins da própria jurisdição, e tornou-se assim alvo de fáceis acusações. Outro pretexto contra ele foi a presença de alguns monges egípcios, excomungados pelo patriarca Teófilo de Alexandria que se refugiaram em Constantinopla. Uma acesa polémica foi depois originada pelas críticas feitas por Crisóstomo à imperatriz Eudóxia e às suas palacianas, que reagiram desacreditando-o e insultando-o. Chegou-se assim à sua deposição, no sínodo organizado pelo mesmo patriarca Teófilo em 403, com a consequente condenação ao primeiro breve exílio. Depois do seu regresso, a hostilidade suscitada contra ele desde o protesto contra as festas em honra da imperatriz que o Bispo considerava como festas pagãs, sumptuosas e a expulsão dos presbíteros encarregados dos Baptismos na Vigília pascal de 404 marcaram o início da perseguição de Crisóstomo e dos seus seguidores, os chamados "Joanitas".

Então João denunciou através de carta os factos ao Bispo de Roma, Inocêncio I. Mas já era demasiado tarde. No ano de 406 teve de novo que se refugiar no exílio, desta vez em Cucusa, na Arménia. O Papa estava convencido da sua inocência, mas não tinha o poder de o ajudar. Um Concílio, querido por Roma para uma pacificação entre as duas partes do Império e entre as suas Igrejas, não pôde ser realizado. O deslocamento extenuante de Cucusa para Pytius, meta nunca alcançada, devia impedir as visitas dos fiéis e interromper a resistência do exiliado extenuado: a condenação ao exílio foi uma verdadeira condenação à morte! São comovedoras as numerosas cartas do exílio, nas quais João manifesta as suas preocupações pastorais com tonalidades de participação e de sofrimento pelas perseguições contra os seus. A marcha rumo à morte terminou em Comano no Ponto. Aqui, João moribundo, foi levado para a capela do mártir São Basilisco, onde rendeu a alma a Deus e foi sepultado, mártir ao lado do mártir (Palladio, Vita 119). Era o dia 14 de Setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz. A reabilitação teve lugar em 438 com Teodósio II. As relíquias do santo Bispo, colocadas na igreja dos Apóstolos em Constantinopla, foram depois trasladadas em 1204 para Roma, para a primitiva Basílica constantiniana, e agora jazem na capela do Coro dos Cónegos da Basílica de São Pedro. A 24 de Agosto de 2004 uma considerável parte delas foi doada pelo Papa João Paulo II ao Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla. A memória litúrgica do santo celebra-se a 13 de Setembro. O beato João XXIII proclamou-o padroeiro do Concílio Vaticano II.

Foi dito acerca de João Crisóstomo que, quando foi colocado no trono da Nova Roma, isto é, Constantinopla, Deus mostrou nele um segundo Paulo, um doutor do Universo. Na realidade, em Crisóstomo há uma unidade substancial de pensamento e de acção tanto em Antioquia como em Constantinopla. Mudam só o papel e as situações. Meditando sobre as oito obras realizadas por Deus no suceder-se dos seis dias no comentário do Génesis, Crisóstomo deseja reconduzir os fiéis da criação ao criador: "É um grande bem", diz, "conhecer o que é a criatura e o que é o Criador".

Mostra-nos a beleza da criação e a transparência de Deus na sua criação, a qual se torna assim quase que uma "escada" para subir a Deus, para o conhecer. Mas a este primeiro passo acrescenta-se um segundo: este Deus criador é também o Deus da condescendência (synkatabasis). Nós somos débeis na "subida", os nossos olhos são débeis. E assim Deus torna-se o Deus da condescendência, que envia ao homem pecador e estrangeiro uma carta, a Sagrada Escritura, de modo que criação e Sagrada Escritura completam-se. À luz da Escritura, da carta que Deus nos deu, podemos decifrar a criação. Deus é chamado "pai terno" (philostorgios) (ibid.), médico das almas (Homilia 40, 3 sobre o Génesis), mãe (ibid.) e amigo afectuoso (Sobre a providência 8, 11-12). Mas a este segundo passo primeiro a criação como "escada" para Deus e depois a condescendência de Deus através duma carta que nos deu, a Sagrada Escritura acrescenta-se um terceiro passo. Deus não só nos transmite uma carta: em definitiva, desce Ele mesmo, encarna-se, torna-se realmente "Deus connosco", nosso irmão até à morte na Cruz. E a estes três passos Deus é visível na criação, Deus dá-nos uma sua carta, Deus desce e torna-se um de nós acrescenta-se no final um quarto passo. No arco da vida e da acção do cristão, o princípio vital e dinâmico é o Espírito Santo (Pneuma), que transforma as realidades do mundo. Deus entra na nossa existência através do Espírito Santo e transforma-nos do interior do nosso coração.


Nesta panorâmica, precisamente em Constantinopla João, no comentário continuativo dos Actos dos Apóstolos, propõe o modelo da Igreja primitiva (Act 4, 32-37) como modelo para a sociedade, desenvolvendo uma "utopia" social (quase uma "cidade ideal"). De facto, tratava-se de dar uma alma e um rosto cristão à cidade. Por outras palavras, Crisóstomo compreendeu que não é suficiente dar esmola, ajudar os pobres sempre que precisem, mas é necessário criar uma nova estrutura, um novo modelo de sociedade; um modelo baseado na perspectiva do Novo Testamento. É a nova sociedade que se revela na Igreja nascente. Portanto João Crisóstomo torna-se assim realmente um dos grandes Padres da Doutrina Social da Igreja: a velha ideia da "polis" grega é substituída por uma nova ideia de cidade inspirada na fé cristã. Crisóstomo defendia com Paulo (cf. 1 Cor 8, 11) a primazia de cada cristão, da pessoa como tal, também do escravo e do pobre. O seu projecto corrige assim a tradicional visão grega da "polis", da cidade, na qual amplas camadas de população eram excluídas dos direitos de cidadania, enquanto na cidade cristã todos são irmãos e irmãs com iguais direitos. A primazia da pessoa é também a consequência do facto que realmente partindo dela se constrói a cidade, enquanto que na "polis" grega a pátria era superior ao indivíduo, o qual estava totalmente subordinado à cidade no seu conjunto. Assim com Crisóstomo tem início a visão de uma sociedade construída pela consciência cristã. E ele diz-nos que a nossa "polis" é outra, "a nossa pátria está no céu" (Fl 3, 20) e esta nossa pátria também nesta terra nos torna iguais, irmãos e irmãs, e obriga-nos à solidariedade.

No final da sua vida, do exílio nos confins da Arménia, "o lugar mais remoto do mundo", João, voltando à sua primeira pregação de 386, retomou o tema que lhe era tão querido do plano que Deus prossegue em relação à humanidade: é um plano "indizível e incompreensível", mas certamente guiado por Ele com amor (cf. Sobre a providência 2, 6). É esta a nossa certeza.

Mesmo se não podemos decifrar os pormenores da história pessoal e colectiva, sabemos que o plano de Deus se inspira sempre no seu amor. Assim, apesar dos sofrimentos, Crisóstomo reafirmava a descoberta de que Deus ama cada um de nós com um amor infinito, e por isso deseja que todos se salvem. Por seu lado, o santo Bispo cooperou nesta salvação generosamente, sem se poupar, ao longo de toda a sua vida. De facto ele considerava o fim último da sua existência a glória de Deus, que já agonizante deixou como extremo testamento: "Glória a Deus por tudo!" (Palladio, Vita 11).

* * *

Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2007/documents/hf_ben-xvi_aud_20070926_po.html

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Próxima reunião do grupo...

REUNIÃO ADIADA!!!

Em breve uma nova postagem agendará uma nova data e os detalhes da próxima reunião!

Obrigado pela compreensão.

-----

Salve Maria a todos!

Próxima reunião do Grupo de Estudo Veritas marcada.

-----------------------------
Data: 14.10.2007 [DOMINGO]
Hora: 9:30 da manhã.
Local: IMC, Manaus.
-----------------------------

Contamos com presença dos membros e a quem desejar.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

São João Crisóstomo - Parte I

Queridos amigos,
Salve Maria!

Serão postados uma série de belos textos provindos das audiências gerais do Papa Bento XVI.
São textos profundos e precisos que mostram todo conhecimento teológico do Papa. Iniciaremos com a série Grandes Padres da Igreja. Aproveitem a leitura.


----

PAPA BENTO XVI

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 19 de Setembro de 2007

São João Crisóstomo (1)

Queridos irmãos e irmãs!

Celebra-se este ano o 16º centenário da morte de São João Crisóstomo (407-2007). Pode-se dizer que João de Antioquia, chamado Crisóstomo, isto é "Boca de ouro", ainda hoje está vivo devido à sua eloquência e também às suas obras. Um copista anónimo deixou escrito que elas "atravessam toda a terra como relâmpagos buliçosos". Os seus escritos permitem também a nós, como aos fiéis do seu tempo, que foram repetidamente privados dele por causa dos seus exílios, de viver com os seus livros, apesar da sua ausência. Foi quanto ele próprio sugeriu do exílio numa sua carta (cf. A Olimpiade, Carta 8, 45).

Nascido por volta de 349 em Antioquia da Síria (hoje Antakaya, no sul da Turquia), ali desempenhou o ministério presbiteral durante onze anos, até 397, quando, nomeado Bispo de Constantinopla, exerceu na capital do Império o ministério episcopal antes dos dois exílios, que foram um a pouco tempo do outro, entre 403 e 407. Limitamo-nos hoje a considerar os anos antioquenos de Crisóstomo.

Tendo ficado órfão de pai em tenra idade, viveu com a mãe, Antusa, que lhe transmitiu uma requintada sensibilidade humana e uma profunda fé cristã. Tendo frequentado os estudos primários e superiores, coroados pelos cursos de filosofia e retórica, teve como mestre Libânio, pagão, o mais célebre mestre de retórica da época. Na sua escola, João tornou-se o maior orador da antiguidade grega tardia. Baptizado em 368 e formado na vida eclesiástica pelo Bispo Melézio, foi por ele instituído leitor em 371. Este acontecimento marcou a entrada oficial de Crisóstomo no cursus eclesiástico. Frequentou, de 367 a 372, o asceterio, uma espécie de siminário de Antioquia, juntamente com um grupo de jovens, alguns dos quais se tornaram depois Bispos, sob a guia do famoso exegeta Diodoro de Tarso, que iniciou João na exegese histórico-literária, característica da tradição antioquena.

Retirou-se depois durante quatro anos entre os eremitas no vizinho monte Silpio. Prosseguiu aquele retiro por outros dois anos, que viveu sozinho numa gruta sob a orientação de um "idoso". Naquele período dedicou-se totalmente à meditação "das leis de Cristo", dos Evangelhos e especialmente das Cartas de Paulo. Tendo adoecido, encontrou-se impossibilitado de se curar sozinho, e por isso teve que regressar à comunidade cristã de Antioquia (cf. Palladio, Vita 5). O Senhor explica o biógrafo interveio com a enfermidade no momento justo para permitir que João seguisse a sua verdadeira vocação. De facto, escreverá ele mesmo que, colocado na alternativa de escolher entre as adversidades do governo da Igreja e a tranquilidade da vida monástica, teria preferido mil vezes o serviço pastoral (cf. Sul sacerdocio, 6, 7): precisamente para isto Crisóstomo se sentia chamado. E realiza-se aqui a mudança decisiva da sua história vocacional: pastor de almas a tempo inteiro! A intimidade com a Palavra de Deus, cultivada durante os anos da eremitério, tinha amadurecido nele a urgência irresistível de pregar o Evangelho, de doar aos outros o que tinha recebido nos anos da meditação. O ideal missionário lançou-o assim, alma de fogo, no cuidado pastoral.

Entre 378 e 379 regressou à cidade. Diácono em 381 e presbítero em 386, tornou-se célebre pregador nas igrejas da sua cidade. Pronunciou homilias contra os arianos, seguidas pelas comemorativas dos mártires antioquenos e por outras sobre as principais festas litúrgicas: trata-se de um grande ensinamento da fé em Cristo, também à luz dos seus Santos. O ano de 387 foi "o ano heróico" de João, o da chamada "revolta das estátuas". O povo derrubou as estátuas imperiais, em sinal de protesto contra o aumento das taxas. Naqueles dias de Quaresma e de angústia por causa das punições infligidas por parte do imperador, ele pronunciou as suas 22 vibrantes homilias sobre as estátuas, finalizadas à penitência e à conversão. Seguiu-se o período da serena actividade pastoral (387-397).

Crisóstomo coloca-se entre os Padres mais fecundos: dele chegaram até nós 17 tratados, mais de 700 homilias autênticas, os comentários a Mateus e a Paulo (Cartas aos Romanos, aos Coríntios, aos Efésios e aos Hebreus), e 241 cartas. Não foi um teólogo especulativo. Mas transmitiu a doutrina tradicional e segura da Igreja numa época de controvérsias teológicas suscitadas sobretudo pelo arianismo, isto é, pela negação da divindade de Cristo. Portanto, ele é uma testemunha credível do desenvolvimento dogmático alcançado pela Igreja nos séculos IV-V. A sua é uma teologia requintadamente pastoral, na qual é constante a preocupação da coerência entre o pensamento expresso pela palavra e a vivência existencial. É este, em particular, o fio condutor das maravilhosas catequeses, com as quais preparava os catecúmenos para receber o Baptismo.

Próximo da morte, escreveu que o valor do homem consiste no "conhecimento exacto da verdadeira doutrina e na rectidão da vida" (Carta do exílio). As duas coisas, conhecimento da verdade e rectidão na vida, caminham juntas: o conhecimento deve traduzir-se em vida. Cada uma das suas intervenções tinha sempre por finalidade desenvolver nos fiéis o exercício da inteligência, da verdadeira razão, para compreender e traduzir em prática as exigências morais e espirituais da fé.

João Crisóstomo preocupa-se por acompanhar com os seus escritos o desenvolvimento integral da pessoa, nas dimensões física, intelectual e religiosa. As várias fases do crescimento são comparadas a outros tantos mares de um oceano imenso: "O primeiro destes mares é a infância" (Homilia 81, 5 sobre o Evangelho de Mateus). De facto "precisamente nesta primeira idade se manifestam as inclinações para o vício e para a virtude". Por isso a lei de Deus deve ser desde o início impressa na alma "como numa tábua de cera" (Homilia 3, 1 sobre o Evangelho de João): de facto esta é a idade mais importante. Devemos ter presente como é fundamental que nesta primeira fase da vida entrem realmente no homem as grandes orientações que dão perspectiva justa à existência. Por isso Crisóstomo recomenda: "Precavei as crianças desde a mais tenra idade com armas espirituais, e ensinai-lhes a persignar a fronte com a mão" (Homilia 12, 7 sobre a primeira Carta aos Coríntios). Vêm depois a adolescência e a juventude: "à infância segue-se o mar da adolescência, onde os ventos sopram violentos..., porque cresce em nós... a concupiscência" (Homilia 81, 5 sobre o Evangelho de Mateus). Por fim, chegam o noivado e o matrimónio: "À juventude segue-se a idade da pessoa madura, na qual chegam os compromissos de família: é o tempo de procurar esposa" (ibid.).(Homilia 12, 5 sobre a Carta aos Colossences), e os três constituem "uma família, pequena Igreja" (Homilia 20, 6 sobre a Carta aos Efésios). Do matrimónio, ele recorda as finalidades, enriquecendo-as com a referência à virtude da temperança de uma rica trama de relações personalizadas. Os esposos bem preparados impedem o caminho do divórcio: tudo se desenvolve com alegria e podem-se educar os filhos para a virtude. Depois, quando nasce o primeiro filho, ele é "como uma ponte; os três tornam-se uma só carne, porque o filho une as duas partes".

A pregação de Crisóstomo realizava-se habitualmente durante a liturgia, "lugar" no qual a comunidade se constrói com a Palavra e com a Eucaristia. Nela, a assembleia reunida expressa a única Igreja (Homilia 8, 7 sobre a Carta aos Romanos), a mesma palavra dirige-se em qualquer lugar a todos (Homilia 24, 2 sobre a primeira Carta aos Coríntios), e a comunhão eucarística torna-se sinal eficaz de unidade (Homilia 32, 7 sobre o Evangelho de Mateus). O seu projecto pastoral estava inserido na vida da Igreja, na qual os fiéis leigos com o Baptismo assumem o ofício sacerdotal, real e profético. Ele diz ao fiel leigo: "Também a ti o Baptismo torna rei, sacerdote e profeta" (Homilia 3, 5 sobre a segunda Carta aos Coríntios). Provém daqui o dever fundamental da missão, porque cada um de certa forma é responsável da salvação dos outros: "Este é o princípio da nossa vida social... não nos interessarmos apenas de nós!" (Homilia 9, 2 sobre o Génesis). Tudo isto se desenvolve entre dois pólos: a grande Igreja e a "pequena Igreja", a família, em relação recíproca.

Como podeis ver, queridos irmãos e irmãs, esta lição de Crisóstomo sobre a presença autenticamente cristã dos fiéis na família e na sociedade, permanece ainda hoje actual como nunca. Rezemos ao Senhor para que nos torne dóceis aos ensinamentos deste grande Mestre da fé.

* * *

Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2007/documents/hf_ben-xvi_aud_20070919_po.html


Orações


Sub tuum praesidium
À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.
R. Amen.
--

Sub tuum praesidium confugimus, sancta Dei Genetrix; nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus nostris, sed a periculis cunctis libera nos semper, Virgo gloriosa et benedicta.
R. Amen.

Fonte: http://www.montfort.org.br/index.php?secao=oracoes&subsecao=oracoes
&artigo=sub_tuum&lang=bra

Página de Downloads Atualizada!

Pessoal,
Salve Maria!

Está disponível na página de Download do Grupo Veritas a apostila "A Antiga Aliança" de autor desconhecido. É um resumo que mostra os acontecimentos principais da história do Povo de Deus até a iminência da chegada do Messias.

O link direto é http://grupoveritas.googlepages.com/ebooks

Pax Christi!

Seja Bem-Vindo(a) ao Blog do Grupo de Estudo Veritas !

Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade.(II Coríntios 13,8)