Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Carta de Mons. Guido Pozzo: "os fiéis não são obrigados a ter vastos conhecimentos da língua latina, bastando um missal bilíngüe ou qualquer folheto."

Muito prezado professor Orlando,
Salve Maria!

Enviei nove perguntas à Ecclesia Dei no final de Abril deste ano. Mas, responderam a carta dia 18 de Julho. Isto é muito imp
ortante. Temos então, uma resposta já da nova situação em que se encontra a Ecclesia Dei -- incorporada à Doutrina da Fé.
Carta de monsenhor Guido Pozzo, o novo secretário. Assim, ninguém poderá argumentar que não tem mais valor a carta que recebi, afinal já está com a nova configuração da Ecclesia Dei.

Das nove perguntas, a nona era a mais espinhosa. Monsenhor Pozzo respondeu a nona questão chamando-a como "questões ulteriores". Deixa na resposta a clara importância do motu proprio Summorum Pontificum e declara a autoridade do Santo Padre. Fala de obediência... de modo que até o Núncio Apostólico no Brasil deve ser obediente ao Santo Padre.

Creio que as duas coisas mais importantes estão nas duas primeiras questões. Não precisamos de permissão do Bispo. Os fiéis não precisam dominar o Latim, basta apenas um folheto bilíngue ou qualquer folheto. E essa resposta veio em documento oficial e para fiéis brasileiros.

As perguntas que fiz: (em anexo a carta de monsenhor Pozzo em formato PDF)

1- Após ter entrado em vigor o Motu Proprio "Summorum Pontificum", é necessária a permissão do Bispo Diocesano para que algum padre possa celebrar a Missa Gregoriana?

2- Os fiéis devem dominar a língua latina para poderem assistir a Missa Gregoriana? Ou bastaria apenas um folheto do missal em formato bilíngue (Latim - Português) para que os fiéis possam assistí-la?

3- Um grupo pequeno de fiéis (por exemplo: 8 pessoas), embora seja estável, é insuficiente para que seja celebrada a Missa na Forma Extraordinária?

4- O Bispo Diocesano deve cooperar para que o pedido de Missa Gregoriana feito por um grupo estável de fiéis seja realizado?


5- Os fiéis que não fazem parte do grupo estável poderão assistir a Missa Gregoriana?

6- Poderão ser realizados matrimônios na Forma Extraordinária do Rito Romano?

7- Com a publicação do Motu Proprio "Summorum Pontificum", o Papa Bento XVI deseja que a Missa Gregoriana seja amplamente ofertada nas Dioceses?

8- O Santo Padre deseja que o ensino do Latim volte a fazer parte do currículo dos seminários para que os futuros padres possam celebrar Missas na língua latina?

9- Os Bispos Diocesanos devem seguir as orientações da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei sobre a aplicação do Motu Proprio "Summorum Pontificum" mesmo que o Núncio Apostólico no Brasil possa, hipoteticamente, emitir opinião contrária?

Forte abraço!

Em Cristo,
Carlos Eduardo Monteiro



Muito prezado Carlos Eduardo, salve Maria!
Que grande vitória foi essa carta que você recebeu como resposta de Monsenhor Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, agora vinculada à Congregação da Doutrina da Fé!
Mons. Pozzo é, atualmente, uma das mais altas autoridades no Vaticano e essa carta é a primeira - e bem decisiva — que ele redige em seu novo cargo. E tratando de uma questão tão importante e tão candente!
Parece-me evidente que ele aproveitou sua carta para mandar o seguinte recado a todos os Bispos do Brasil e do Mundo, que estão fazendo oposição ao Papa e colocando obstáculos à aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum: obedeçam ao Santo Padre, que quer a liberação total da Missa de sempre.
Sendo assim, ele não lhe mandaria essa carta, sem proibição de publicação, sem antes ter recebido aprovação de sua missiva de “autoridades superiores” a ele, no Vaticano.
E superiores a ele, na Santa Sé, hoje, há bem poucas pessoas.
Creio que os Bispos do Brasil entenderão o recado. O resultado será a liberação mais franca da Missa em toda a parte.
E não só no Brasi.
Quantas graças e bênçãos virão ao mundo por meio dessa carta que, graças a Deus, você conseguiu.
É com muita alegria, e mais, com grande honra, que publico sua carta e a resposta de Monsenhor Guido Pozzo no site Montfort, cartas que terão uma repercussão enorme no mundo inteiro.
Que Deus o abençoe, e que Nossa Senhora o guarde.
In Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli

Fonte: Monfort


quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Santa Inquisição

Por Juan Carlos Ossandón Valdés

Informações recentes, provenientes de Roma e de outras cidades européias, reabriram a polêmica sobre o tribunal da Santa Inquisição. Como quase todos pensam saber o suficiente sobre tão famosa instituição, talvez careça de interesse ler algo mais sobre o particular.

Você gostaria de por à prova sua erudição? Rogo, pois, ao senhor leitor, se digne responder tão somente a três perguntas:

1. Qual foi a Inquisição medieval mais cruel?

A: a francesa.

B: a alemã.

C: a espanhola.

2. A quem perseguiu com mais afinco?

A: aos anglicanos.

B: aos luteranos.

C: aos judeus.

3. Quantas pessoas condenou à morte?

A: 100.000.

B: 200.000.

C: 300.000

Se na primeira pergunta elegeu a alternativa C, equivocou-se mais ou menos; exatamente ocorre algo similar se na segunda elegeu a mesma alternativa. Em quanto à terceira, as três são igualmente falsas. Satisfeito? Se errou as três respostas, você precisa seguir lendo este artigo.

Depois de muitos anos de manipulação midiática, conseguiu-se instalar na consciência da maior parte dos católicos uma disparatada ideia do que foi realmente a Inquisição. Já não somente não se pensa em seu caráter de santa, senão que, esquecendo-se que era um simples tribunal, muitos imaginam cenas ridículas como essas, dignas de qualquer "lenda das trevas".

Origem do tribunal

Nada é mais conveniente para conhecer a natureza de uma instituição humana que conhecer sua origem. Nela encontramos claramente expressa a finalidade perseguida por seus autores, à que se adéquam os meios empregados que permitem julgar seu êxito ou fracasso. Mas, antes de narrá-lo, devemos remontar-nos ao século XII e aclarar os fatos que o iluminam: o redescobrimento do direito romano e o nascimento da heresia albigense.

Para dizer a verdade, o direito romano nunca se perdeu ao todo, mas desse século datam os grandes glosadores e comentaristas - Irnerio e Búlgaro - que lhe deram grande autoridade. Então descobriu-se que a justiça romana torturava os réus se eram bárbaros ou escravos; porque, segundo criam, seu testemunho somente poderia ser aceitado se se mantinha sob tortura. Até essas datas na Idade Média não se aplicava tão cruel método judicial, simplesmente porque os bárbaros germanos o desconheciam - salvo a flagelação, como castigo e não como tortura - e custou muito que se impusesse, pois monges e teólogos o consideraram indignos de almas cristãs. Desgraçadamente, as últimas resistências cessaram quando Inocêncio IV, mediante a Bula Ad Extirpandam de 15 de Maio de 1252, autorizou seu emprego na Inquisição. Esta Bula contradizia a decisão de Nicolas I, quem, em 866, a tinha proibido. Claro que os tribunais civis tinham esquecido fazia muito tempo o Papa Nicolas, apesar de que, no começo, a Inquisição se abstinha completamente de seu uso. Além da tortura, os medievais encontraram outra pena surpreendente: a de morta na fogueira para os que praticassem a magia negra e que, nos últimos anos imperiais, aplicou-se aos hereges.

Sua Santidade Gregório IX (reinou entre os anos 1227 e 1241). Entre outras obras de seu pontificado, instituiu a Santa Inquisição e preparou a sexta Cruzada.

A heresia dos albigenses (ou cátaros) produziu comoção nas autoridades civis e religiosas da época. Sua doutrina destruía por completo seu mundo, pelo qual não a podiam tolerar. No âmbito civil se proibia o juramente, fundamento de toda estrutura feudal da época; além disso, ao proibir o matrimônio, afetava tanto a sociedade civil como a religiosa. Mas isto não é tudo: aprovavam o suicídio e rejeitavam toda guerra, ainda a defensiva e, evidente, a pena de morte. Foi tal a indignação que produziu essa doutrina, que a Santa Sé mudou sua doutrina multissecular. Assim, por exemplo, quando o imperador Máximo condenou à morte o herege Prisciliano - sob instâncias dos Bispos Hidácio e Itácio - em 385, o Papa São Sirício e os Bispos Santo Ambrósio de Milão e São Martin de Tours protestaram indignados contra a pena. São Leão Magno estabeleceu que o derramamento de sangue repugnava a Igreja e o XIº Concílio de Toledo proibiu participar em juízos de sangue (ou seja, que implicassem a pena de morte) os que administravam os sacramentos. Até estas datas - ou seja, até o século XII - a Igreja contentava-se com as penas espirituais. Mas diante da perversidade da nova heresia, destruidora por completo da vida social, decidiram acudir ao poder secular e pregar a cruzada. A guerra desatada por estes fatos foi de extraordinária crueldade; a que já se tinha manifestado em outros lugares, como na Espanha sob Pedro II de Aragão.

Até o século XII, em consequência, não se aplicava, de ordinário, a pena de morte aos hereges; nos poucos casos conhecidos, o normal era o cárcere, o desterro ou a confiscação de seus bens. Evidente que, se havia arrependimento, não se impunha nenhuma pena. Pelo mais, o cárcere se reduzia, na maioria das vezes, à obrigação de habitar em um convento. Ainda não havia um tribunal ad hoc: a Santa Inquisição ia nascer no século seguinte em muito curiosas circunstâncias.

O imperador Federico II, bastante indiferente em matéria de fé e entusiasta admirador da cultura árabe, foi quem desencadeou os acontecimentos que levaram à sua criação. Em 1224 se restabeleceu a pena de morte no fogo decretada pelo antigo direito romano e a aplicou com rigor e critério mais político que religioso. Em verdade, a arbitrariedade do imperador e sua codícia são bem conhecidos. Quantos inocentes condenou? O Papa Gregório IX, em 1231, teve de sair ao passo de tanta injustiça do único modo que lhe era possível: já que as acusações eram de índole espiritual, o juiz devia ser adequado à natureza do delito perseguido. Em consequência, entre o tribunal civil que acusava o réu e este, introduziu-se uma cunha: a Santa Inquisição. Deste modo, poderia desaparecer a paixão política e a codícia que tanto dano tinham feito. E, para assegurar a independência do tribunal, centralizou-o em Roma e o encarregou à Ordem dos Pregadores, que tinha sido recentemente fundada por Santo Domingo de Gusmão. Deste modo os inquisidores procediam com total independência e buscavam, em primeiro lugar, a conversão do herege. Como num começo somente havia suspeita, bastava que este jurasse submissão ao Pontífice para ficar livre de toda suspeita. Somente se julgava os obstinados, sempre que a evidência fosse abrumadora. Se durante o juízo o réu abjurava de seu erro, ficava livre do tribunal civil e a Santa Inquisição impunha-lhe penas espirituais, como rezar os salmos, fazer jejuns, etc. Se persistia em sua atitude herética, era entregue ao tribunal civil, quem o condenava à pena que estimasse conveniente. Pouco a pouco se foi generalizando a de morte na fogueira, em conformidade com o direito romano, tal como o conheceram naquela época.

São Domingos de Gusmão, o primeiro inquisidor, numa gravura que demonstra qual deve ser o destino dos maus livros.

Respondendo às perguntas

Estamos já em condições de responder ao perguntado ao começar estas breves linhas.

Á primeira pergunta, para dizer a verdade, não se pode responder corretamente, posto que, nessa época não existiam os países atuais. Onde mais atuou a Inquisição foi, naturalmente, no sul da França e na Itália. Na Espanha somente houve Inquisição em Aragão; não houve em Castela nem em Portugal. Na Alemanha durou pouco tempo, se bem que o inquisidor Conrado de Marburg é famoso por seus abusos. De modo que, com as exceções postas, a resposta correta seria a alternativa B.

A segunda pergunta tampouco tem resposta, posto que não existiram nem anglicanos nem luteranos durante toda a Idade Média. Pelo demais, jamais a Santa Inquisição perseguiu os judeus, pela simples razão de que não são hereges. Na Idade Média a tolerância chegou ao extremo de proporcionar tal liberdade a judeus e árabes, que nas cidades havia bairros inteiros onde a vida era regida pelo Talmud ou pelo Alcorão e não pelas leis cristãs. Desde modo ficava protegida a liberdade de cultos. O que sim tinham proibido era o ascender a determinados cargos públicos e molestar os cristãos no exercício de sua fé; ou seja, exercer o proselitismo. Tal como hoje em dia se proíbe a cristãos em todos os países árabes e Israel. A única diferença radica em que hoje não há bairros cristãos nesses países.

A terceira pergunta tampouco tem resposta, posto que a Inquisição medieval jamais condenou ninguém à pena de morte. O tinha expressamente proibido, como vimos mais acima. Ela se limitava a "relaxar ao braço secular" - se se confirmava a denuncia - a quem o tribunal civil já tinha acusado. Por isso seu nome é "Inquisição", isto é, "Investigação". Se trabalho se limitava a exatamente isso: investigar se a acusação era correta ou não. Como seus membros eram frades, procuravam, por todos os meios a seu alcance, convencer os réus da verdade da religião católica. Por desgraça, por pressão do tribunal civil, creu-se conveniente fazer uso da tortura. Neste ponto somente se pode dizer que a Santa Inquisição foi a que limitou seu uso, com a intenção de não danificar a saúde do réu. Por isso os piores instrumentos de tortura logo foram distanciados do tribunal. Ainda se costuma mostrar em museus em diversos lugares do mundo sem distinguir os que punham em prática o tribunal civil e os que usava a Santa Inquisição. Mas é bom consignar que, na maioria dos juízos, jamais foram usados.

Juízo Liberal

Apesar do dito, o "juízo liberal" - ou seja, o fato em virtude das ideias liberais dominantes desde o século XVIII no Ocidente - foi de condenação sem atenuantes. Por que?

Em certa medida se deve às calúnias que com tanta facilidade e pouca cautela se creram. Não pouco se referem à Idade Média como 1.000 anos iluminados pelas fogueiras da Inquisição, a despeito da circunstância de que, como vimos, a Santa Inquisição nasceu no fim desses 1.000 anos. A ignorância chega a ser tal, que se supõe que jamais ninguém tivesse tomado banho nesses obscuros e tenebrosos séculos; quando o banho público era muito praticado na Idade Média, sendo suprimido durante o renascimento pela convicção de que as pestes se propagavam graças à água. A lista de calúnias é infinita e afeta todas as manifestações próprias dessa Idade sem que, por cento, a Santa Inquisição pudesse escapar delas. É tão grande o ódio contra este período histórico que o pouco de bom que não poderia ser negado, se atribui à influência oriental.

Mas isto não explica tudo. Também os horroriza o emprego da tortura. O curioso é que não julgamos da mesma forma o Império Romano, que tão abundantemente fez uso dela, nem aos tempos modernos e contemporâneos que bem poderia dar lições aos medievais nesta matéria.

Foi precisamente a Santa Inquisição a que começou a mitigar a dureza dos tribunais de justiça, e inclusive chegou a limitar a sessão de tortura a meia hora, depois da qual, o réu deveria se declarado inocente.

Proibiu-se todo método de danificar a saúde do réu e, finalmente, ordenou-se a presença de um médico que velasse pela saúde do torturado e de um advogado encarregado de sua defesa.

Há um argumento que, ainda que deixe frios aos não católicos, a nós nos resulta bastante convincente. Ocorre que a Inquisição de Aragão era regida pelo "Diretório" escrito por São Raimundo de Peñafort. Como se pode duvidar da legitimidade dos procedimentos inquisitoriais emanado da pluma deste Santo inquisidor?

Evidente que tudo isto não nos deixa satisfeitos, mas temos de ter cuidado ao julgar homens com outros costumes e convencidos por deferentes ideias que as nossas. De fato, neste século, presenciamos as piores torturas da história, e, como todos sabemos, seguem sendo empregadas um pouco por todo o mundo. Mas como não se reconhece o fato, não há medida alguma que proteja realmente o réu.

Há algo muito mais grave: o que menos pode suportar uma mente liberal é que alguém seja condenado por uma diferença de opinião. Já vimos que, na Idade Média, ninguém foi condenado por isso, senão pelo delito de heresia, ou seja, de traição. E não qualquer heresia, senão a dos albigenses, que provocou tantos distúrbios e uma sangrenta guerra. Os medievais julgaram que era necessário ir à raíz: às concepções destruidoras da paz social. Ainda que não o creia, querido leitor, hoje está sucedendo algo parecido. Na Alemanha, se você opina sobre a perseguição dos judeus pelos nazistas de maneira distinta da adotada pelo Estado Alemão, pode ser levado aos tribunais e julgado: tudo por uma diferença de opinião. Nos Estados Unidos, nenhum professor de biologia pode referir-se à criação dos seres vivos: tem que ensinar a hipótese de Darwin, a aceite ou não. Por acaso não estamos afirmando que, ao menos na América, não toleramos um governo que não seja democrático? Em virtude do qual não há escrúpulo algum em invadir uma pacífica nação que nenhum perigo encerra.

Tal qual parece que a Inquisição voltou, só que agora não pode ser chamada de "santa".

Juan Carlos Ossandón Valdés

Tradução do artigo "La Santa Inquisición" de Juan Carlos Ossandón Valdés, publicado na revista "Iesus Christus" nº 56 do Distrito da América do Sul da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.


Fonte: http://www.fsspx-brasil.com.br/page%2006-9-santa-inquisicao.htm

terça-feira, 14 de julho de 2009

EXORCISMO DO PAPA LEÃO XIII - forma completa

Autor: Papa Leão XIII

Fonte: Raccolta

Tradução: Rodrigo Santana

EXORCISMO CONTRA
SATANÁS E OS
ANJOS REBELDES
(forma completa)

Publicado por ordem de Sua Santidade o Papa Leão XIII

Em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo

Salmo 67

Levanta-se Deus e sejam dispersos seus inimigos e fujam de sua presença os que lhe odeiam.
Como se dissipa o fumo se dissipem eles, como se derrete a cera ante o fogo, assim perecerão os impíos ante Deus.

Salmo 34

Senhor, peleja contra os que me atacam; combate aos que lutam contra mim.
Sofram uma derrota e caiam envergonhados os que me perseguem à morte.
Retornem a espada cheios de vergonha os que maquinam minha perdição.
Sejam como a palha levada pelo vento, quando o anjo do Senhor vier acossá-los.
Torne-se tenebroso e escorregadio o seu caminho, quando o anjo do Senhor vier perseguí-los.
Porque sem motivo me armaram laços; para me perder, cavaram um fosso sem motivo.
Que lhes surpreenda um desastre imprevisto; apanhe-os a rede por eles mesmos preparada, caiam eles próprios na cova que abriram. Minha alma se alegra com o Senhor e gozará de sua salvação.Glória ao Padre, ao Filho, e aoEspírito Santo.Como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Súplica a São Miguel Arcanjo.

Gloriosíssimo Príncipe da Milícia Celestial, São Miguel Arcanjo, defendei-nos na luta que temos combatido “contra os principados e potestades, contra os chefes deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares”. Vinde em auxílio dos homens que Deus criou incorruptíveis à sua imagem e semelhança, e a tão “grande preço resgatados” da tirania do demônio. Com os exércitos dos anjos bons peleja hoje os combates do Senhor, como outrora lutaste contra Lúcifer, chefe da soberba e contra seus anjos apóstatas. Eles não puderam vencer, e perderam seu lugar no céu. “Foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente e denominado diabo e satanás, o sedutor do universo: foi precipitado na terra e com ele foram lançados seus anjos” (Apoc. 12,8-9)

Eis que o antigo inimigo e homicida tem se erguido com impetuosidade. Transfigurado em “anjo de luz” (II Cor. 11, 14), com a escolta de todos os espíritos malignos, cercou e invadiu a terra inteira, e se instala em todo lugar, com o desígnio de manchar ali o Nome de Deus e de Seu Cristo, de roubar as almas destinadas à coroa da Glória Eterna, de destruí-las e perdê-las para sempre.

O dragão maldito transvasou, como rio imundíssimo, o veneno de sua iniqüidade em homens depravados de mente e corruptos de coração: incutiu-lhes o espírito de mentira, impiedade, blasfêmia, e seu hálito mortífero de luxúria, de todos os vícios e iniqüidades.

Os mais maliciosos inimigos tem enchido de amargura a Igreja, esposa do Cordeiro Imaculado, tem-lhe dado a beber absinto, tem posto suas mãos ímpias sobre tudo o que para Ela é mais sagrado. Onde foram estabelecidas a Sé do Beatíssimo Pedro e a Cátedra da Verdade como Luz para as Nações, eles tem erguido o Trono da Abominação e da Impiedade, de sorte que, ferido o Pastor, possa dispersar-se o rebanho.
Ó invencível Príncipe, ajuda o povo de Deus contra a perversidade dos espíritos que lhes atacam e dai-lhes a vitória. Amém.
indulgência de 500 dias (Leão XIII, Motu proprio, 25 de setembro de 1.888; S.P.Ap., 4 de maio de 1.934)
A Igreja te venera como seu guardião e patrono, se gloria que és seu defensor contra os poderes nocivos terrenos e infernais; Deus te confiou as almas dos redimidos para colocá-los no estado de suprema felicidade. Roga ao Deus da Paz que esmague Satanás sob os nossos pés, para que já não possa reter cativos os homens e prejudicar a Tua Igreja. Oferece nossas orações ao Altíssimo, para que o quanto antes desçam sobre nós as misericórdias do Senhor (Salmo 78,8), e sujeita o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e satanás, para o precipitar encadeado nos abismos, de modo que não possa nunca mais, seduzir as nações. ( Apoc.20,3). Segue…

Depois disto, confiados em tua proteção e patrocínio, com a sagrada autoridade da Santa Mãe Igreja, nos dispomos a rechaçar a peste das fraudes diabólicas, confiados e seguros em nome de Jesus Cristo, Nosso Deus e Senhor.

Eis aqui a Cruz do Senhor, fugi potências inimigas !

R. Venceu o Leão da tribo de Judá, o descendente de Davi.
Que a tua misericórdia, Senhor, seja sobre nós.
R.Como nós esperamos em Ti.
Senhor, escuta nossa oração.
R. E chegue a Ti nosso clamor
O Senhor esteja convosco. (Somente o sacerdote)
R. E com teu espírito).

Oremos: Deus e Pai de Nosso Señor Jesus Cristo, invocamos Teu Santo Nome e suplicantes imploramos Tua clemência, para que, por intercessão da Imaculada Sempre Virgen Maria Mãe de Deus, de São Miguel Arcanjo, de São José esposo da Santíssima Virgen, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os Santos, dignai-Vos prestar-nos Vosso auxílio contra Satanás e todos os demais espíritos imundos que vagam pelo mundo para dar a perder o gênero humano e para a perdição das almas. Amém.

Exorcismo: Te exorcizamos, espírito imundo, potência satânica, invasão do inimigo infernal, legião ou seita diabólica, em nome e virtude de Nosso Senhor Jesus Cristo +sejas desarreigado e expulso da Igreja de Deus, das almas criadas à imagem de Deus e resgatadas pelo Precioso Sangue do Divino Cordeiro +. Desde esse momento, não te atrevas mais, pérfida serpente , a enganar o gênero humano, perseguir+ a Igreja de Deus e sacudir e joeirar como trigo os eleitos de Deus +. No-lo manda Deus Altíssimo, a quem em tua insolente soberba ainda pretendes assemelhar-te, “o qual quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (II Tim. 2).
Manda-to Deus Pai +.
Manda-to Deus Filho +.
Manda-to Deus Espírito Santo +.
Manda-to a Majestade de Cristo, o Verbo Eterno de Deus feito homem, que para salvação de nossa progênie perdida pôr tua inveja-se humilhou e “tornou obediente até à morte”. (Fil. 2,8).Ele que edificou a Sua Igreja sobre pedra firme e prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam jamais contra Ela, querendo permanecer com Ela “todos os dias até ao fim do mundo”(Mat 28,20). Manda-to o sinal sagrado da Cruz, e a virtude de todos os Mistérios de nossa Fé Cristã+. Manda-to a poderosa Mãe de Deus, a Virgem Maria, que desde o primeiro instante da sua Imaculada Conceição, pela sua humildade esmagou a tua cabeça orgulhosa +.
Manda-to a Fé dos Apóstolos Pedro e Paulo e todos os outros Santos Apóstolos+. Manda-to o sangue dos mártires e a piedosa intercessão de todos os Santos e Santas +.Então, dragão amaldiçoado e toda legião diabólica, nós te esconjuramos:Pelo Deus+Vivo, Pelo Deus+ Verdadeiro, Pelo Deus+ Santo,
Pelo Deus que tanto amou o mundo que lhe deu Seu Único Filho, para quem crer n’Ele, não pereça mas tenha a vida eterna ( Jo, 14-15)

Cessa de enganar as criaturas humanas e de derramar sobre elas o veneno da condenação eterna. Cessa de danificar a Igreja e de armar laços à sua liberdade.Vai-te embora satanás, inventor e mestre de enganos, inimigo da salvação dos homens.Cede lugar a Cristo, em Quem não encontraste nada em tuas obras.
Cede o lugar à Igreja - Única, Santa, Católica, Apostólica - que o próprio Cristo adquiriu com o Seu Sangue. Humilha-te sob a poderosa Mão de Deus, treme e foge à invocação, feita por nós, do Santo e terrível Nome de Jesus que faz tremer o inferno: a Quem as Virtude dos Céus, as Potestades e as Dominações estão submissas; e que os Querubins e os Serafins louvam sem cessar, dizendo:
“Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos Exércitos.”

Senhor, ouvi a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor.
O Senhor esteja convosco...(para os sacerdotes)
R. E com teu espírito.

Oração final ( de joelhos)

Oremos:Deus do Céu, Deus da Terra, Deus dos Anjos, Deus dos Arcanjos.Deus dos Patriarcas, Deus dos Profetas, Deus dos Apóstolos.Deus dos Mártires, Deus dos confessores, Deus das Virgens.Deus que tendes o poder de dar a vida depois da morte, o repouso depois do trabalho.Porque não há outro Deus senão vós; e, que não pode haver outro a não ser Vós: Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, cujo Reino não terá fim.Com humildade, suplicamos que a Vossa Gloriosa Majestade se digne livrar-nos poderosamente, e sãos e salvos de todo o poder, laço e mentira e malvadez dos espíritos infernais.

Das emboscadas do demônio,
R. Livrai-nos Senhor.
Dignai-vos conceder à nossa Igreja a segurança e a liberdade para Vos servir.
R. Nós Vos suplicamos, ouvi-nos Senhor.
Dignai-vos humilhar os inimigos da Santa Igreja.
R. Nós Vos suplicamos, escutai-nos Senhor.
(Aspergir com água benta as pessoas e o lugar.)

Senhor, não recordes nossos delitos nem os de nossos pais, nem tomes vingança de nossos pecados (Tobias, 3,3)
Pai nosso …
Bibliografia:

Livro: The Raccolta or a Manual of Indulgences
Por Christopher, Joseph P., Spence, Charles E., Rowan, John F.
Editora: Saint Athanasius Press – setembro 2003 – pág. 339-340
ISBN-13: 9780970652669

O leitor ainda tem a possibilidade de consultar o livro citado acima em sua versão digital que contém o mesmo exorcismo em inglês, que pode ser acessado no seguinte link, na página nº 340:
http://books.google.com/books?id=aJHKTdv3gncC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s

outra edição: The Raccolta, 1930, Benziger Bros., pp. 314-315

Fonte-base: http://doctorisangelici.blogspot.com/2009/07/exorcismo-do-papa-leao-xiii-forma.html

terça-feira, 7 de julho de 2009

CARITAS IN VERITATE

CARTA ENCÍCLICA
CARITAS IN VERITATE
DO SUMO PONTÍFICE
BENTO XVI
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
AOS FIÉIS LEIGOS
E A TODOS OS HOMENS
DE BOA VONTADE
SOBRE O DESENVOLVIMENTO
HUMANO INTEGRAL
NA CARIDADE E NA VERDADE

INTRODUÇÃO

1. A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e sobretudo com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira. O amor — « caritas » — é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projecto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projecto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (cf. Jo 8, 22). Por isso, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade. Esta, de facto, « rejubila com a verdade » (1 Cor 13, 6). Todos os homens sentem o impulso interior para amar de maneira autêntica: amor e verdade nunca desaparecem de todo neles, porque são a vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada homem. Jesus Cristo purifica e liberta das nossas carências humanas a busca do amor e da verdade e desvenda-nos, em plenitude, a iniciativa de amor e o projecto de vida verdadeira que Deus preparou para nós. Em Cristo, a caridade na verdade torna-se o Rosto da sua Pessoa, uma vocação a nós dirigida para amarmos os nossos irmãos na verdade do seu projecto. De facto, Ele mesmo é a Verdade (cf. Jo 14, 6).

2. A caridade é a via mestra da doutrina social da Igreja. As diversas responsabilidades e compromissos por ela delineados derivam da caridade, que é — como ensinou Jesus — a síntese de toda a Lei (cf. Mt 22, 36-40). A caridade dá verdadeira substância à relação pessoal com Deus e com o próximo; é o princípio não só das micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro-relações como relacionamentos sociais, económicos, políticos. Para a Igreja — instruída pelo Evangelho —, a caridade é tudo porque, como ensina S. João (cf. 1 Jo 4, 8.16) e como recordei na minha primeira carta encíclica, « Deus é caridade » (Deus caritas est): da caridade de Deus tudo provém, por ela tudo toma forma, para ela tudo tende. A caridade é o dom maior que Deus concedeu aos homens; é sua promessa e nossa esperança.

Estou ciente dos desvios e esvaziamento de sentido que a caridade não cessa de enfrentar com o risco, daí resultante, de ser mal entendida, de excluí-la da vida ética e, em todo o caso, de impedir a sua correcta valorização. Nos âmbitos social, jurídico, cultural, político e económico, ou seja, nos contextos mais expostos a tal perigo, não é difícil ouvir declarar a sua irrelevância para interpretar e orientar as responsabilidades morais. Daqui a necessidade de conjugar a caridade com a verdade, não só na direcção assinalada por S. Paulo da « veritas in caritate » (Ef 4, 15), mas também na direcção inversa e complementar da « caritas in veritate ». A verdade há-de ser procurada, encontrada e expressa na « economia » da caridade, mas esta por sua vez há-de ser compreendida, avaliada e praticada sob a luz da verdade. Deste modo teremos não apenas prestado um serviço à caridade, iluminada pela verdade, mas também contribuído para acreditar a verdade, mostrando o seu poder de autenticação e persuasão na vida social concreta. Facto este que se deve ter bem em conta hoje, num contexto social e cultural que relativiza a verdade, aparecendo muitas vezes negligente senão mesmo refractário à mesma.

3. Pela sua estreita ligação com a verdade, a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, nomeadamente de natureza pública. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé, através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente. A verdade liberta a caridade dos estrangulamentos do emotivismo, que a despoja de conteúdos relacionais e sociais, e do fideísmo, que a priva de amplitude humana e universal. Na verdade, a caridade reflecte a dimensão simultaneamente pessoal e pública da fé no Deus bíblico, que é conjuntamente « Agápe » e « Lógos »: Caridade e Verdade, Amor e Palavra.

4. Porque repleta de verdade, a caridade pode ser compreendida pelo homem na sua riqueza de valores, partilhada e comunicada. Com efeito, a verdade é « lógos » que cria « diá-logos » e, consequentemente, comunicação e comunhão. A verdade, fazendo sair os homens das opiniões e sensações subjectivas, permite-lhes ultrapassar determinações culturais e históricas para se encontrarem na avaliação do valor e substância das coisas. A verdade abre e une as inteligências no lógos do amor: tal é o anúncio e o testemunho cristão da caridade. No actual contexto social e cultural, em que aparece generalizada a tendência de relativizar a verdade, viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral. Um cristianismo de caridade sem verdade pode ser facilmente confundido com uma reserva de bons sentimentos, úteis para a convivência social mas marginais. Deste modo, deixaria de haver verdadeira e propriamente lugar para Deus no mundo. Sem a verdade, a caridade acaba confinada num âmbito restrito e carecido de relações; fica excluída dos projectos e processos de construção dum desenvolvimento humano de alcance universal, no diálogo entre o saber e a realização prática.

5. A caridade é amor recebido e dado; é « graça » (cháris). A sua nascente é o amor fontal do Pai pelo Filho no Espírito Santo. É amor que, pelo Filho, desce sobre nós. É amor criador, pelo qual existimos; amor redentor, pelo qual somos recriados. Amor revelado e vivido por Cristo (cf. Jo 13, 1), é « derramado em nossos corações pelo Espírito Santo » (Rm 5, 5). Destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade.

A esta dinâmica de caridade recebida e dada, propõe-se dar resposta a doutrina social da Igreja. Tal doutrina é « caritas in veritate in re sociali », ou seja, proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade; é serviço da caridade, mas na verdade. Esta preserva e exprime a força libertadora da caridade nas vicissitudes sempre novas da história. É ao mesmo tempo verdade da fé e da razão, na distinção e, conjuntamente, sinergia destes dois âmbitos cognitivos. O desenvolvimento, o bem-estar social, uma solução adequada dos graves problemas sócio-económicos que afligem a humanidade precisam desta verdade. Mais ainda, necessitam que tal verdade seja amada e testemunhada. Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a actividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade, sobretudo numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os actuais.

6. « Caritas in veritate » é um princípio à volta do qual gira a doutrina social da Igreja, princípio que ganha forma operativa em critérios orientadores da acção moral. Destes, desejo lembrar dois em particular, requeridos especialmente pelo compromisso em prol do desenvolvimento numa sociedade em vias de globalização: a justiça e o bem comum.

Em primeiro lugar, a justiça. Ubi societas, ibi ius: cada sociedade elabora um sistema próprio de justiça. A caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao outro do que é « meu »; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é « dele », o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. Não posso « dar » ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça. Quem ama os outros com caridade é, antes de mais nada, justo para com eles. A justiça não só não é alheia à caridade, não só não é um caminho alternativo ou paralelo à caridade, mas é « inseparável da caridade »[1], é-lhe intrínseca. A justiça é o primeiro caminho da caridade ou, como chegou a dizer Paulo VI, « a medida mínima » dela[2], parte integrante daquele amor « por acções e em verdade » (1 Jo 3, 18) a que nos exorta o apóstolo João. Por um lado, a caridade exige a justiça: o reconhecimento e o respeito dos legítimos direitos dos indivíduos e dos povos. Aquela empenha-se na construção da « cidade do homem » segundo o direito e a justiça. Por outro, a caridade supera a justiça e completa-a com a lógica do dom e do perdão[3]. A « cidade do homem » não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres, mas antes e sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão. A caridade manifesta sempre, mesmo nas relações humanas, o amor de Deus; dá valor teologal e salvífico a todo o empenho de justiça no mundo.

7. Depois, é preciso ter em grande consideração o bem comum. Amar alguém é querer o seu bem e trabalhar eficazmente pelo mesmo. Ao lado do bem individual, existe um bem ligado à vida social das pessoas: o bem comum. É o bem daquele « nós-todos », formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios que se unem em comunidade social[4]. Não é um bem procurado por si mesmo, mas para as pessoas que fazem parte da comunidade social e que, só nela, podem realmente e com maior eficácia obter o próprio bem. Querer o bem comum e trabalhar por ele é exigência de justiça e de caridade. Comprometer-se pelo bem comum é, por um lado, cuidar e, por outro, valer-se daquele conjunto de instituições que estruturam jurídica, civil, política e culturalmente a vida social, que deste modo toma a forma de pólis, cidade. Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum que dê resposta também às suas necessidade reais. Todo o cristão é chamado a esta caridade, conforme a sua vocação e segundo as possibilidades que tem de incidência na pólis. Este é o caminho institucional — podemos mesmo dizer político — da caridade, não menos qualificado e incisivo do que o é a caridade que vai directamente ao encontro do próximo, fora das mediações institucionais da pólis. Quando o empenho pelo bem comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular e político. Aquele, como todo o empenho pela justiça, inscreve-se no testemunho da caridade divina que, agindo no tempo, prepara o eterno. A acção do homem sobre a terra, quando é inspirada e sustentada pela caridade, contribui para a edificação daquela cidade universal de Deus que é a meta para onde caminha a história da família humana. Numa sociedade em vias de globalização, o bem comum e o empenho em seu favor não podem deixar de assumir as dimensões da família humana inteira, ou seja, da comunidade dos povos e das nações[5], para dar forma de unidade e paz à cidade do homem e torná-la em certa medida antecipação que prefigura a cidade de Deus sem barreiras.

8. Ao publicar a encíclica Populorum progressio em 1967, o meu venerado predecessor Paulo VI iluminou o grande tema do desenvolvimento dos povos com o esplendor da verdade e com a luz suave da caridade de Cristo. Afirmou que o anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento [6] e deixou-nos a recomendação de caminhar pela estrada do desenvolvimento com todo o nosso coração e com toda a nossa inteligência[7], ou seja, com o ardor da caridade e a sapiência da verdade. É a verdade originária do amor de Deus — graça a nós concedida — que abre ao dom a nossa vida e torna possível esperar num « desenvolvimento do homem todo e de todos os homens »[8], numa passagem « de condições menos humanas a condições mais humanas »[9], que se obtém vencendo as dificuldades que inevitavelmente se encontram ao longo do caminho.

Passados mais de quarenta anos da publicação da referida encíclica, pretendo prestar homenagem e honrar a memória do grande Pontífice Paulo VI, retomando os seus ensinamentos sobre o desenvolvimento humano integral e colocando-me na senda pelos mesmos traçada para os actualizar nos dias que correm. Este processo de actualização teve início com a encíclica Sollicitudo rei socialis do Servo de Deus João Paulo II, que desse modo quis comemorar a Populorum progressio no vigésimo aniversário da sua publicação. Até então, semelhante comemoração tinha-se reservado apenas para a Rerum novarum. Passados outros vinte anos, exprimo a minha convicção de que a Populorum progressio merece ser considerada como « a Rerum novarum da época contemporânea », que ilumina o caminho da humanidade em vias de unificação.

9. O amor na verdade — caritas in veritate — é um grande desafio para a Igreja num mundo em crescente e incisiva globalização. O risco do nosso tempo é que, à real interdependência dos homens e dos povos, não corresponda a interacção ética das consciências e das inteligências, da qual possa resultar um desenvolvimento verdadeiramente humano. Só através da caridade, iluminada pela luz da razão e da fé, é possível alcançar objectivos de desenvolvimento dotados de uma valência mais humana e humanizadora. A partilha dos bens e recursos, da qual deriva o autêntico desenvolvimento, não é assegurada pelo simples progresso técnico e por meras relações de conveniência, mas pelo potencial de amor que vence o mal com o bem (cf. Rm 12, 21) e abre à reciprocidade das consciências e das liberdades.

A Igreja não tem soluções técnicas para oferecer [10] e não pretende « de modo algum imiscuir-se na política dos Estados »[11]; mas tem uma missão ao serviço da verdade para cumprir, em todo o tempo e contingência, a favor de uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade, da sua vocação. Sem verdade, cai-se numa visão empirista e céptica da vida, incapaz de se elevar acima da acção porque não está interessada em identificar os valores — às vezes nem sequer os significados — pelos quais julgá-la e orientá-la. A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade (cf. Jo 8, 32) e da possibilidade dum desenvolvimento humano integral. É por isso que a Igreja a procura, anuncia incansavelmente e reconhece em todo o lado onde a mesma se apresente. Para a Igreja, esta missão ao serviço da verdade é irrenunciável. A sua doutrina social é um momento singular deste anúncio: é serviço à verdade que liberta. Aberta à verdade, qualquer que seja o saber donde provenha, a doutrina social da Igreja acolhe-a, compõe numa unidade os fragmentos em que frequentemente a encontra, e serve-lhe de medianeira na vida sempre nova da sociedade dos homens e dos povos[12].


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Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade.(II Coríntios 13,8)