Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Encíclica "Fides et Ratio"

Oferecemos ao leitor um breve apanhado da Encíclica "Fides et Ratio" de Sua Santidade o Papa João Paulo II. Trata-se de um dos documentos mais importantes de seu pontificado.
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Referência: João Paulo II. Encíclica Fides et Ratio (14-9-98)
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A Encíclica divide-se em nove partes: a Introdução, sete capítulos e a conclusão.

Introdução. Entre o homem e os brutos há uma grande distinção, pois que ele - o homem - é um buscador de si mesmo, da verdade sobre si mesmo e, por isso, da verdade enquanto tal. Conhece-te a ti mesmo! - é a grande máxima que cada um se impõe. A filosofia tem um papel fundamental nesse campo: "A filosofia tem a grande responsabilidade de formar o pensamento e a cultura por meio do apelo perene à busca da verdade". A Igreja, tendo a consciência de ser a depositária da relevação do próprio Deus para a salvação do homem, não é alheia a essa busca.
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A Revelação da Sabedoria de Deus. A fé cristã sustenta que Deus, soberanamente bom e misericordioso, que não pode enganar-se nem enganar ninguém, revelou o seu plano de Salvação por meio do Verbo feito carne na força do Espírito Santo. De modo que a "Revelação coloca dentro da história um ponto de referência de que o homem não pode prescindir, se quiser chegar a compreender o mistério de sua existência" (n. 14). Mergulho no mistério. Eus nos chama ao mergulho em sua própria vida. O homem é resposta pequena demais para o homem (contra o imanentismo e os diversos reducionismos);
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Credo ut inttellegam (Creio para entender). A sabedoria de Deus é infinitamente grande. Ela manifesta-se pela revelação natural e pela revelação especial na história. O homem está aberto à sabedoria, e a ela se chega não apenas pela observação atenta da natureza ou pela especulação científica e filosófica, mas também, e de modo mais sublime, pelo acolhimento na fé da Revelação da Sabedoria, que é anterior, superior e mais profunda do que o homem, isto é, a Sabedoria que é o próprio Deus. Quem não reconhece que há um mistério que o envolve e que o homem não é a última instância da sabedoria, engana-se a si mesmo. O homem é finito, e seu valor está em reconhecer o mistério que o envolve por todos os lados (aliás, pela simples razão natural, o homem pode reconhecer a existência de Deus, no qual reside toda a Sabedoria.) Israel é exemplo: ao mesmo tempo que observava o mundo, a história e o próprio homem, soube abrir-se para a luz superior que lhe vinha de Deus. Na Nova Aliança, a Sabedoria de Deus, manifestada na Cruz, pode parecer loucura para uma razão fechada em si mesma; no entanto, para a razão aberta à luz superior, a Cruz, embora ultrapassando toda capacidade de previsão da razão, é a resposta adequada aos seus anseios: pelo mistério da Cruz, posso dizer: “o Amor me amou”.
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Intellego ut credam (Entendo para crer). O homem é um buscador da verdade. Qual o sentido da vida? Questões fundamentais! Há quatro níveis de verdade: a) da vida cotidiana; b) científica; c) filosófica; d) teológica. "O homem, por sua natureza, procura a verdade. Essa busca não se destina apenas à conquista de verdades parciais, físicas ou científicas; não busca só o verdadeiro bem em cada uma das suas decisões. Mas a sua própria pesquisa aponta para uma verdade superior, que seja capaz de explicar o sentido da vida; trata-se, por conseguinte, de algo que não pode desembocar senão no absoluto" (n. 33). Na busca do entendimento, o homem depara-se ante o mistério de Deus, que lhe exige a fé.
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A relação entre fé e razão. A fé cristã, desde seus primórdios históricos, encontrou-se com a filosofia e os filósofos. Do séc. II, com os apologistas, ao séc. XIII, com Santo Tomás, os pensadores alcançaram uma bela harmonia entre fé e razão. Em Santo Tomás essa harmonia atinge o seu auge e seu máximo esplendor. Deus, sendo ao mesmo tempo o criador da razão humana e o autor da fé, é o garante da harmonia entre ambas. No entanto, já a partir da escolástica decadente, foi-se dando a dramática separação fé e razão. A filosofia moderna, por ser imanentista em sua base, afastou-se do auxílio de Deus. Hoje, até mesmo a filosofia se vê ameaçada. Se não há um absoluto, em vão o homem procura afirmar-se.
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Intervenções do Magistério em matéria filosófica. O Magistério, em virtude de seu ofício defender a verdade, sempre mostrou-se solícito pela filosofia, incentivando o cultivo de uma reflexão autêntica, reconhecedora da Transcendência e da dignidade do homem. A Igreja não poderá conformar-se com uma filosofia que negue a capacidade metafísica do homem, fechando-lhe as portas para o Transcendente. Por isso, cabe ao Magistério da Igreja, em sua diaconia da verdade, intervir quando as grandes verdades sobre Deus, o mundo e o homem forem postas em causa. O Magistério não quer regular a filosofia a partir de dentro, pois assim a destruiria, mas tem consciência de que não pode concordar com teses que neguem verdades já conquistadas pelo espírito humano.
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Interação da filosofia com a teologia. A filosofia pode e deve demonstrar os preambula fidei (a existência de Deus, o fato da Revelação, a imortalidade pessoal...), preparando, assim, o homem para acatar as verdades sobrenaturais (Trindade, encarnação do Verbo...). Necessidade de um conhecimento natural: o conhecimento das coisas criadas (naturais) pode contribuir enormemente para o conhecimento de Deus e do diálogo entre fé e cultura. A teologia, por sua vez, contribui com a filosofia no sentido de purificá-la, pois a razão não está livre de equívocos, e de lhe abrir perspectivas inauditas, como o conceito de criação, que, embora sendo uma verdade filosófica e não somente teológica, filosofia só a atingiu por influência da teologia.
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Exigências e tarefas atuais. Que a filosofia volte a encontrar sua dimensão sapiencial, vencendo doutrinas que lhe apequenam a visão e são inconciliáveis com a fé: imanentismo, relativismo, historicismo, positivismo, existecialismo ateu, pragmatismo... Passar dos fenômenos para o fundamento é a grande tarefa. A verdade existe objetivamente e pode ser alcançada pelo homem, e ela não se restringe ao conhecimento empírico, próprio das ciências naturais.
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Conclusão. Pensadores, filósofos e teólogos católicos devem ter a coragem de desenvolver e aprofundar as justas relações entre fé e razão, para mostrar ao mundo que uma não exclui a outra; ao contrário, ambas são como que asas de um pássaro que nos levam à contemplação da verdade, de Deus.
Padre Elílio de Faria Matos Júnior

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