Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Dominus Iesus e as religiões (parte I)

VATICANO - “A Dominus Iesus e as religiões” de Dom Angelo Amato, Arcebispo Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé (primeira parte)

Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Graças à gentil concessão do “L’Osservatore Romano”, a Agência Fides publica o texto integral do discurso do Ano Acadêmico 2007-2008 do Instituto Teológico de Assis, proferida por Dom Angelo Amato, Arcebispo Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre o tema “A Dominum Iesus e as religiões”. A tradução em português é de autoria da Agência Fides, e não foi revista pelo Autor.

Em 1990, o Servo de Deus João Paulo II, em sua encíclica missionária Redemptoris missio, afirmou que a missão de Cristo redentor, confiada à Igreja, estava bem distante de sua realização, e que, estava ainda no começo.

E ainda, evocando as palavras de São Paulo — “Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1 Coríntios, 9, 16) — relevou que, em suas numerosas viagens, até os confins mais extremos da terra, o contato direto com os povos que não conhecem Cristo o convenceu sempre mais sobre a urgência da missão, que pertence à identidade profunda da Igreja, fundada dinamicamente na própria missão trinitária. Enfim, considerando que a fé se reforça, ao doá-la, definia a missão como o primeiro serviço que a Igreja podia doar aos homens e à humanidade, pois o anúncio da redenção atuada por Cristo mediante a cruz, restituiu ao homem a dignidade e o real sentido de sua existência no mundo.

A missio ad gentes

Todavia, o Pontífice não podia ocultar “uma tendência negativa”, ou seja, que a missão específica ad gentes estava em fase de estagnação: “Dificuldades internas e externas enfraqueceram o impulso missionário da Igreja aos não-cristãos, e este é um fator que deve preocupar todos os cristãos” (Redemptoris missio, 2).

Para enfrentar esta preocupação, ele re-propô,s nos primeiros capítulos da encíclica, três alicerces doutrinais sólidos: 1. o anúncio de Jesus Cristo como salvador único de toda a humanidade, e de sua Igreja como sinal e instrumento de salvação, 2. a realização completa do Reino de Deus em Cristo ressuscitado, 3. a presença do Espírito de Jesus Cristo como protagonista da missão.

Após indicar os imensos horizontes da missio ad gentes, assinalou também os “caminhos” concretos para realizá-las. Antes de tudo, o testemunho, em seguida o primeiro anúncio de Cristo Salvador, a conversão e o batismo. Outros caminhos são: a formação das Igrejas locais e das comunidades eclesiais de base; a inculturação do Evangelho; o diálogo com os irmãos de outras religiões; a promoção do desenvolvimento e, enfim, o testemunho da caridade, fonte e critério da missão.

Como notamos, entre os caminhos da missão está também o diálogo inter-religioso, que não constitui um caminho primário, já que os caminhos principais são o anúncio, a conversão e o batismo. Além disso, o Papa não situa o diálogo fora da missão ad gentes. A partir do momento que a salvação provém de Cristo, ele reafirma que “o diálogo não prescinde da evangelização”. É preciso compor o anúncio de Cristo e o diálogo inter-religioso no âmbito da missio ad gentes. Não se pode confundi-los, deturpa-los, e nem julga-los “equivalentes como se fossem intercambiáveis” (Ivi, 55).

Pode-se questionar, portanto, que acolhimento esta encíclica recebeu entre a comunidade eclesial em geral, e por parte dos teólogos, em especial. Pode-se dizer que a encíclica foi recebida com admiração, mas foi imediatamente qualificada como “encíclica missionária”: foram destacadas a pastoral e a espiritualidade missionária. Por sua vez, os teólogos mantiveram uma atitude cauta, quase de desatenção, por dois motivos: aqueles que - principalmente na área asiática e norte-americana - haviam já elaborado uma própria teologia pluralista das religiões não podiam concordar com a posição do Papa. Os outros, sobretudo os teólogos europeus, ainda não haviam sido sensibilizados sobre diversas teorias da teologia das religiões. Para eles, a encíclica era pouco inovadora, já que apenas reiterava a bem conhecida afirmação de fé sobre a universalidade salvífica de Cristo e de sua Igreja. Além disso, a reflexão sobre o diálogo inter-religioso, no ocidente, estava no início.

Em todo caso, a encíclica teve o mérito de abrir uma década marcada justamente pela questão teológica sobre o significado e o valor salvífico das outras religiões, a partir da revelação cristã. Naquele período, delinearam-se com bastante clareza as várias propostas da teologia das religiões, uma nova disciplina, que anteriormente se limitava ao âmbito específico da missiologia, e que hoje pertence aos da metodologia teológica. (1 - continua)

Fonte: (Agência Fides 8/2/2008)

2 comentários:

JSF disse...

A questão do "ecumenismo" é muito profunda e pessoalmente vejo que precisa ser aprofundada desde o CVII.

Por exemplo é muito estranho o que o texto expressa: "o valor salvífico das outras religiões" ???

No mínimo leva a interpretações de que fora da Igreja há salvação de forma consciente.

Gabriel Leitão disse...

Vejo essa questão do diálogo inter-religioso como algo importante para que possamos evangelizar de forma mais eficiente (conhecendo melhor aqueles que são diferentes). Mas é complicado porque não podemos perder de vista os nossos valores e aquilo que nos caracteriza como católicos (diálogo sim, perda da identidade não) e, na minha opinião, esse é um dos principais problemas a enfrentar: Como dialogar sem relativizar a Fé Católica?

Existem alguns teólogos que tentam elucidar essa questão que o Junio recordou("fora da Igreja não há salvação") mas ainda há muito o que discutir sobre o tema... E fica também a questão (proposta pelo Junio)... o que quer dizer "valor salvífico das outras religiões"?

Imagino que respondendo uma ajudemos a responder a outra... Mas com certeza isso não vai ser de hoje pra amanhã.

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