Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Cartas sobre Fé - Terceira Carta


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Por Pe. Emmanuel-André.


COMO A FÉ É UM DOM DE DEUS

A Fé é um dom de Deus. Hoje gostaria de fazer com que a senhora compreendesse ainda melhor a natureza íntima deste dom precioso.

Adão o teria recebido de Deus e nos teria transmitido, se ele não tivesse pecado; mas tendo acreditado em Eva e, por Eva, em Satã mais do que em Deus, perdeu a Fé que Deus lhe havia dado, perdendo-a para ele e para nós (Adão pôde conservar o hábitus da Fé; mas perdeu a Fé enquanto virtude informada pela Caridade; e este hábitus não era transmissível à sua descendência, pois era uma disposição pessoal de sua alma). Por sua vez, quando o filho de Adão entra neste mundo já não tem mais Fé e só pode recupera-la se esta for dada pelo próprio Deus.

A Igreja reza para pedir a Deus a Fé para os infiéis e o aumento de Fé para os fiéis, de modo que o começo, o aumento e a conservação da Fé nas almas, são pura e simplesmente um dom que Deus nos dá pelos méritos de nosso único Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Mas chego agora ao ponto que tinha prometido abordar hoje: a natureza íntima deste dom.

A Fé é um ato em parte da inteligência que crê, e em parte da vontade que quer crer. Ao perguntarem se a Fé é um dom de Deus do lado da inteligência que crê ou do lado da vontade que quer crer, é preciso responder que há um dom de Deus na inteligência e um dom na vontade.
Pois para o que concerne à inteligência é preciso notar duas coisas: primeiramente as verdades em que devemos crer estão tão acima do espírito humano, que este nunca poderia atingi-las naturalmente. Assim, o adorável mistério da Santíssima Trindade, as profundezas da sabedoria de Deus na Encarnação de Nosso Senhor, a Redenção e a salvação dos homens, sem o dom da Fé, seriam para sempre tesouros escondidos às inteligências humanas. Em segundo lugar, além do ministério da Igreja ensinando essas sublimes verdades, é necessário ainda para que nós creiamos, uma graça interior que clareie nossa inteligência e a faça receber com docilidade a palavra da Fé, a Fé falada, como dissemos antes.

Com efeito, por assim dizer, o espírito humano imaginaria ter motivos para ver na pregação evangélica uma tolice, se não fosse animado por uma sabedoria superior, como nos diz São Paulo nos capítulos I e II da sua primeira Epístola aos Coríntios.

Do ponto de vista da vontade, a Fé, ainda uma vez, é um dom de Deus. Pois, para que a vontade humana se submeta humildemente, docilmente e alegremente à verdade divina e leve a inteligência a dar seu pleno consentimento a esta mesma verdade, esta vontade tão frágil precisa de um socorro divino que a arrebate à sua própria fraqueza, e a ponha em conformidade com a vontade de Deus.

Faço questão de confirmar estas sérias doutrinas, pelas próprias orações da Igreja. Escolhi para esse fim as orações da Sexta-feira Santa, que são cantadas depois da Paixão.

O padre proclama: «Oremos caríssimos irmãos pela Santa Igreja de Deus». Depois reza:

«Deus eterno e onipotente que em Jesus Cristo haveis revelado a vossa glória às nações, conservai a obra da vossa misericórdia, para que a vossa Igreja espalhada por todo o mundo persevere com fé constante na confissão do vosso nome. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor».

A senhora já se associou de coração a esta prece para pedir a Deus que a Igreja persevere na Fé?

Mais adiante, o padre proclama ainda:

«Oremos também pelos nossos catecúmenos, para que Deus Nosso Senhor lhes abra os ouvidos do coração e a porta da misericórdia!».

Quer dizer: os disponham para ouvir, para querer crer e lhes dê em seguida, por sua misericórdia, o dom da Fé.

Depois ele reza:

«Deus eterno e onipotente, que sem cessar fecundais a vossa Igreja pelo nascimento de novos filhos, dai mais Fé e inteligência aos nossos catecúmenos, para que renascidos na fonte do batismo, sejam contados no número de vossos filhos adotivos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo».

O padre proclama outra vez: «Oremos também pelos heréticos e pelos cismáticos».

Depois ele reza:

«Deus eterno e onipotente que a todos salvais e não quereis que pereça ninguém, olhai com misericórdia para as almas que andam envolvidas nas redes do demônio, para que os corações extraviados, abjurando a perversidade da heresia, entrem no caminho reto e voltem à luz da verdade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo». [A versão em português das orações da Sexta-feira Santa foram tiradas do Missal Quotidiano e Vesperal de Dom Gaspar Lefebvre O.S.B., Desclée de Brouwer & Cia. - Bruges Bélgica 1951].Ele reza também pelos pérfidos judeus [per-fides= os que se transviaram da fé] e pelos infelizes pagãos, e para todos esses ele implora o dom da Fé.Penetre, peço-lhe, no espírito dessas orações as mais santas, as mais antigas, as mais suplicantes que pertencem à Igreja; e então, compreendendo melhor do que nunca como a Fé é um dom de Deus, a senhora dirá bem o seu Credo.

Continua...

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