Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Milagre: o que é?

por Paulo Faitanin - UFF

1. Definição: Por milagre – do latim ‘miraculum’ – entende-se o acontecimento incomum e admirável que causa em algo uma alteração súbita que é inexplicável pelas leis da natureza, com indício de participação divina na vida humana [Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 1ª. Edição. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, verbete – milagre]. Isso não se distancia do que define o Catecismo da Igreja Católica , nº 2003 que afirma ser o milagre um dom – uma graça – extraordinário que o Espírito Santo concede ao homem para a sua justificação e salvação.

2. Natureza: O milagre é uma graça – em latim ‘gratia’ e em grego ‘charis’ – dada gratuitamente – dom – pela qual se produz um efeito sobrenatural [STh. II-II, q. 178, a.1, c.]. Segundo Tomás de Aquino, o amor de Deus causa a bondade do objeto; ora, o amor de Deus pelo homem causa-lhe a bondade; a graça é justamente o amor de Deus por nós, enquanto causa em nós o que lhe é agradável: o bem [STh. I-II, q. 110, a. 1, c. e ad. 1]. Ora, se toda graça provém do Espírito Santo, o dom do milagre, que é uma graça, igualmente provém d’Ele. O Espírito é, pois, a origem de toda graça.

3. Tipologia: Mas que tipo de graça é o milagre? Segundo Tomás é conveniente dividir a graça em graça que torna agradável a Deus e graça dada gratuitamente. A graça que torna agradável a Deus é a que une o homem a Deus. A graça dada gratuitamente é a que faz com que alguém ajude o outro a chegar a Deus [STh. I-II, q. 111, a.2, c.]. A graça dada gratuitamente serve para instruir os outros sobre as verdades divinas que ultrapassam a razão [STh. I-II, q. 111, a.4, c.]. Contudo, esta graça dada gratuitamente pode ser operante, quando a graça opera em nós e somos movidos por ela e Deus é o seu único motor. Neste caso, a operação deve ser atribuída a Deus, por isso denomina-se graça operante. Ela é cooperante, quando justamente a operação não é atribuída somente a Deus, senão também à alma [STh. I-II, q. 111, a.2, c.]. Neste aspecto, a graça do milagre pode ser tanto uma graça operante, quando Deus opera por nós o milagre, quanto uma graça cooperante, quando Deus opera conosco o milagre. Ora, como a graça causa cinco efeitos em nós: curar a alma; querer o bem; tornar eficiente para fazer o bem; perseverar no bem e conduzir à glória [STh. q. 111, a.3, c.], o primeiro efeito da graça em nós é preveniente e o segundo que se segue deste é subseqüente. Isso significa que o milagre é uma graça eficiente, porque produz muitos efeitos correlatos ao principal. Em qualquer caso, o milagre é uma graça dada gratuitamente por Deus a nós, por cujo efeito sobrenatural o homem é levado a um certo conhecimento sobrenatural das coisas da fé, para que o homem se volte mais prontamente para Deus [STh. II-II, q. 178, a.1, c.].

4. Graça e Natureza: É conhecida a sentença de Agostinho, retomada por Tomás, que afirma que a graça supõe a natureza. Sendo assim, o milagre, que é uma graça extraordinária, não faz na natureza o que seja contraditório a ela, mas o que a natureza, naquela ocasião em que ocorre o milagre, em sua condição e por si mesma, não reúne as possibilidades de fazer sob aquelas circunstâncias. Mas isso não significa dizer que há um limite do poder de Deus, de fazer na natureza o que ela não comporta. Isso Ele pode, se não contradiz a natureza. Deste modo, nenhum milagre, enquanto princípio sobrenatural da graça, contradiz a lei que rege a natureza. Se houvesse contradição, a graça não poderia atuar na natureza. Pode ocorrer, no entanto, que o homem em sua condição limitada de conhecimento, desconheça as razões da natureza, sobre as quais atuem a graça. Isso faz parecer-lhe que o milagre contradiz a natureza. O que ocorre é que o milagre transcende a natureza, mas não na medida em que se lhe opõe, mas enquanto atua segundo a sua ordem, o que pode ser desconhecido para nós. Por isso, o milagre não é a realização do impossível para a natureza, enquanto isso fosse a contradição. Como ensina Tomás: “o impossível que se diz com relação a alguma potência pode ser considerado de dois modos. Um modo por causa do defeito da própria potência, em razão de si mesma, porque de alguma maneira não pode estender-se a aquele efeito, quando um agente natural não pode modificar alguma matéria. Outro modo, a partir de algo extrínseco, quando a potência de algo está impedida ou limitada. Assim, portanto, diz-se que algo é impossível de ser feito de três maneiras: uma maneira, por causa do defeito da potência ativa, seja na modificação da matéria ou qualquer outro motivo; outra maneira por causa de algo que resista ou impeça; terceira maneira por causa disso que se diz que é impossível de ser feito, porque não pode ser término da ação” [De potentia, q.1, a.3, c.]. E conclui o Aquinate, na mesma obra, ao dizer: “Logo, as coisas que são impossíveis para a natureza, conforme a primeira e a segunda maneira, Deus as pode fazer, porque sua potência que é infinita não padece nenhum defeito, nem há matéria que Ele não possa livremente mudá-la; pois ela não pode resistir à sua potência. Ora, o que se diz que é impossível, segundo a terceira maneira, Deus não pode fazê-las, porque Deus é maximamente ato e principalmente ser. Por isso sua ação não pode dirigir-se senão principalmente ao ente e não consequentemente ao não ente. E por isso não pode fazer que a afirmação e a negação simultaneamente sejam verdades, nem aquelas coisas nas quais se inclua esta impossibilidade. Não se diz que não possa fazer isso por causa do defeito de sua potência, mas por causa do defeito de possibilidade daquilo que carece do caráter do possível; por causa disso alguns preferem dizer que Deus pode fazer algo, mas algo não pode ser feito”. Assim, pois, fica claro que o milagre é o que realiza algum efeito na natureza, que seria impossível de ser realizado pela própria natureza, na medida em que se entende esta impossibilidade não como uma contradição, mas como defeito da própria potência da natureza, em razão de si mesma, porque de alguma maneira não pode estender-se a aquele efeito ou porque a sua potência está impedida ou limitada por algo extrínseco. Por tudo isso, o milagre não contradiz as leis essenciais da natureza, mas se realiza para além das circunstâncias ordinárias em que se aplicam tais leis, porque tais circunstâncias são sempre acidentais; por isso mesmo, o milagre causa um efeito extraordinário e nos dá a impressão, pela maravilha que causa, que é algo inclusive contraditório à lei da natureza. Mas se a graça supõe a natureza, a lei da graça não pode contradizer a lei da natureza. E dada a ignorância humana acerca de alguma lei da natureza, o milagre parecerá ainda mais maravilhoso aos olhos de quem o testemunha. Por isso, nada impede que o milagre siga algumas leis da natureza que conhecemos e, por outras vezes, pareça não seguir, como quando se realiza instantaneamente e não captamos a lei natural que o explique.

5. Conclusão: O milagre é, portanto, uma graça dada gratuitamente pela onipotência divina [STh. II-II, q. 178, a.1, ad. 1], que produz um efeito sobrenatural na natureza, por cujo dom se faz com que alguém - algum santo - ajude o outro pelo testemunho do milagre realizado por Deus, a chegar a Deus [STh. I-II, q. 111, a.2, c.], sejam estes efeitos sinais, prodígios, portentos ou virtudes [STh. II-II, q. 178, a.1, c.], como o milagre da cura, profecia, línguas, ubiqüidade, estigmas, levitação, sinais e prodígios astronômicos, expulsão de demônios e ressurreição [STh. II-II, q. 178, a.1, ad. 1 e ad. 4]. A causa e a autoria é a onipotência divina, seu objeto é tudo o que pode ser feito sobrenaturalmente, sua finalidade é a salvação do homem, seus instrumentos são tanto a alma (intenção), como o corpo humano (atos) e tudo o mais que providencie o poder divino. Deus pode inclusive valer-se dos maus para manifestar a sua bondade, como valer-se de homens maus ou demônios, para realizar milagres [Super Evang. S. Ioannis. c. X, lec. 5, n. 1431] . De fato, os anjos, nem os bons e nem os maus, têm o poder para fazê-lo por contra própria, senão só pelo consentimento e poder divinos. Contudo, os demônios, para enganar e afastar os homens de Deus, fazem parecer aos homens serem capazes de realizarem milagres, seja enganando os sentidos dos homens ou incitando sua imaginação, fazendo parecer fazer algo que na realidade não fazem; fazem inclusive algo que podem fazer, segundo a sua potência, sendo tais sinais verdadeiros, mas não são verdadeiros milagres e nem graça o que fazem e nem a finalidade é converter o homem a Deus [STh. II-II, q. 178, a.2, c.].

Fonte: Aquinate

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Dez datas chaves da História da Igreja e da civilização

Julia Duin A professora Julia Duin [foto], especialista em história medieval do Northern Virginia Community College (EUA), deplora que os católicos estejam esquecidos de sua história e da importância do catolicismo na História Universal.

“A história católica é a história da civilização ocidental”, escreveu ela no diário Washington Times. “Os católicos não apreciam a herança de sua fé e não tem noção do que está sendo perdido. Ainda mais, sabem pouco das heresias e do Islã”.

Por isso ela propõe as “Dez datas que todo católico deve conhecer”. Eis elas:

Catedral de Winchester1) 313: Edito de Milão acaba com as perseguições aos cristãos;

2) 452: S. Leão Papa salva Roma dos hunos;

3) 496: batismo de Clovis, rei da França;

4) 800: sagração de Carlos Magno imperador da Cristandade;

5) 910: fundação do mosteiro de Cluny;

6) 1000: novo impulso do cristianismo na Europa;

7) 1517: Lutero inicia a revolta em Wittenberg;

8) 1571: católicos derrotam muçulmanos em Lepanto;

9) 1789: Revolução Francesa ataca a Igreja Católica;

10) 1917: revolução comunista e aparição de Fátima.

Para a professora o auge do catolicismo deu-se na civilização medieval. O período preferido dela é o século XIII porque foi “o maior de todos os séculos” e porque foi a época em que a Igreja Católica estava no seu melhor nível.

“A civilização medieval foi grande porque estava centrada em Deus, era Cristocentrica”, explicou, “a Igreja modelava todas as instituições. Ela era a campeã dos direitos dos servos e dos pobres”.

“Foi o século mais criativo, o período de criatividade mais concentrado desde o século V a. C. [N.R.: século de grandes filósofos gregos como Sócrates e Platão].

Idade Média, representação simbólica da Igreja“Nesse século, São Tomás de Aquino ensinava a Filosofia, aproveitando as recentes traduções de Aristóteles para o latim. O alto estilo gótico florescia e era o mais recente estilo arquitetônico criado em 700 anos”.

Santos como São Francisco, São Boaventura, Santa Isabel de Hungria, São Luis rei da França iluminavam os horizontes.

Para a professora Duin, o século XIV trouxe uma série de desastres que começaram com a peste negra por volta de 1340 e que fez morrer um terço da população européia.

Outras desgraças foram a Guerra dos Cem Anos iniciada em 1337, e o Grande Cisma de Ocidente que instalou anti-papas em Avignon, França.

“Hoje, concluiu, os estudantes não tem senso do tempo nem das datas. Os rapazes se perguntam se Napoleão veio antes ou depois de Colombo. Não podemos cair tão baixo, se queremos ter estudantes brilhantes a nível colegial”.

Fonte: http://gloriadaidademedia.blogspot.com/2008/09/dez-datas-chaves-da-histria-da-igreja-e.html



domingo, 7 de setembro de 2008

Restaurando a Beleza na Liturgia

Por Rev. Scott A. Haynes, S.J.C.
Cônegos Regulares de São João

A Festa de Casamento do Cordeiro descrita no Livro da Revelação na verdade descreve a Sagrada Liturgia da Igreja. No clímax do seu divino oficio a noiva reflete a imagem do noivo – a imagem do Verbo encarnado, que é Beleza encarnada. Para o mundo, a máxima “a beleza está nos olhos de quem vê” é um tema subjetivo. Para a noiva de Cristo isto é uma realidade concreta da Encarnação!

Tristemente em nosso tempo, o banal e vulgar invadiram nossos santuários, seguindo um desorientado senso de criatividade. Nada, entretanto, é mais importante atualmente do que a restauração da beleza na Sagrada Liturgia, a restauração do sagrado.

Quando se celebra a Sagrada Liturgia com verdadeira reverência e beleza, a Igreja deve ser capaz de “distinguir entre o sagrado e o profano”. Quando falsas “inculturações” poluem o serviço litúrgico nós podemos estar certos de que “tudo não é válido; tudo não é licito; tudo não é bom”. O secular, o barato, o inferior e o não-artístico “não são maneiras de se cruzar o templo do Senhor”

Para se "restaurar o sagrado" nós devemos primeiro e principalmente contemplar a beleza de Cristo na Sagrada Liturgia - uma ação sacra que supera todas as outras. Isto começa com a fidelidade exterior às rubricas, mas leva a interna união com Cristo, para "aqueles que o servem devem servi-lo em espírito e verdade". A beleza espiritual da Sagrada Liturgia transforma as vidas dos católicos. De fato, "o encontro com a beleza se transforma na ponta da flecha que acerta o coração e desta forma abre os nossos olhos". Esta beleza espiritual molda o coração como o de Cristo na beleza moral. E quando a a beleza espiritual da Sagrada Liturgia transforma uma alma, o ser humano pode criar coisas belas, como arte, arquitetura, poesia e música.

Esta beleza humana, formada pela beleza de Cristo na Sagrada Liturgia, imita o gênio criativo de Deus que deu a este mundo uma beleza natural inerente. Quando a bela e radiante face de Cristo Nosso Salvador tornasse o centro do ofício sagrado toda a criação clama com o salmista: tudo o que Ele fez é cheio com o esplendor e beleza".

Se a beleza da Santa Missa não repousa, em essência, sobre a esplendida beleza da iconografia, das vestimentas, do canto gregoriano ou da arquitetura barroca, por que então a Igreja investiu tanto do seu patrimônio patrocinando estas artes sacras? Deus colocou um desejo legítimo na alma humana para criar coisas belas porque Ele deseja que os homens compartilhem a criação, uma criação que é boa e bela.

Beleza na liturgia resulta do antigo. É por isso que a liturgia, pela sua própria natureza, necessita do antigo, e assim a liturgia não pode existir sem as rubricas ou cerimônias. A beleza erradia pelos gestos da Sagrada Liturgia. Os atos exteriores do culto, como fazer o sinal da cruz, genuflexão, ajoelhar e sentar, tornam-se meios de interiorizar a reverência e beleza nas nossas vidas.

"Todo gesto litúrgico, sendo um gesto de Cristo, é invocado para expressar beleza". E a beleza transcendental da Liturgia permeia os corações dos homens e nos forma para termos relacionamentos adequados, não apenas com Deus, mas também com nosso vizinho e nos ajuda a transformar a cultura humana. Este é o significado genuíno de "inculturação". Se nós católicos queremos que a beleza inerente da liturgia transforme a "cultura da morte", nós devemos permitir que a Sagrada Liturgia nos molde pelo seu espírito, que é o Espírito de Cristo.

Isto significa que, humildemente, nos devemos renunciar a qualquer desejo de fazer a liturgia conforme as modas passageiras. Conseqüentemente, renunciemos às inovações não autorizadas, improvisações, banalidades e ao desorientado senso de criatividade.

(Revista Mater Ecclesia, edição 0, 2008, pg. 14 , disponível em: http://igrejauna.blogspot.com/)

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