Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Aniversário do Grupo Veritas - 2 anos


Salve Maria!
Dia 21 de Dezembro de 2008 o Grupo de Estudo Veritas - Fides et Ratio completou 2 anos de existência. Não poderíamos deixar esse data passar em branco, então vamos relembrar a primeira reunião de estudo do grupo, que foi no dia 21 de Dezembro de 2006, quinta-feira, aproximadamente às 21 horas, na casa de meu Padrinho Edson Mendonça e de nosso amigo Henrique seu filho. Nessa reunião participaram apenas quatro pessoas, eu (Júnio), o Henrique, a Luzia (irmã do Henrique) e o Marcelo. Dessa forma, o grupo iniciou sua existência estudando o início do Catecismo de São Pio X e do primeiro artigo do Credo, como descrito abaixo:
Lição Preliminar
Da Doutrina Cristã e suas partes principais

“Em seguida Barnabé foi para Tarso, à procura de Saulo. Encon­trou-o e o levou para Antioquia. Durante um ano estiveram juntos na­quela igreja e instruíram muita gente. Foi em Antioquia que, pela pri­meira vez, os discípulos foram chamados cristãos.”
At 11, 25-26.


  • Sois cristão?
    Sim, sou cristão pela graça de Deus.
  • Por que dizeis pela graça de Deus?
    Digo: pela graça de Deus, porque o ser cristão é um dom de Deus, inteiramente gra­tuito, que nós não podemos merecer.
  • E quem é verdadeiro cristão?
    Verdadeiro cristão é aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece aos legítimos Pastores da Igreja.
  • Que é a Doutrina Cristã?
    A Doutrina Cristã é a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para nos mostrar o caminho da salvação.
  • É necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo?
    Certamente, é necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo, e cometem falta grave aqueles que se descuidam de o fazer.
  • Os pais e patrões estão obrigados a mandar ao catecismo os seus filhos e dependentes?
    Os pais e patrões são obrigados a procurar que seus filhos e dependentes aprendam a Doutrina Cristã; e são culpados diante de Deus, se desprezarem esta obrigação.
  • De quem devemos nós receber e aprender a Dou trina Cristã?
    Devemos receber e aprender a Doutrina Cristã da Santa Igreja Católica.
  • Como é que temos a certeza de que a Doutrina Cristã, que recebemos da Santa Igreja Católica, é verdadeira?
    Temos a certeza de que a Doutrina Cristã, que recebemos da Igreja Católica, é verda­deira, porque Jesus Cristo, autor divino desta doutrina, a confiou por meio aos seus A - póstolos à Igreja Católica, por Ele fundada e constituída Mestra infalível de todos os ho­mens, prometendo-Lhe a sua divina assistência até à consumação dos séculos.
  • Há mais provas da verdade da Doutrina Cristã?
    A verdade da Doutrina Cristã é demonstrada ainda pela santidade eminente de tantos que a professaram e professam, pela heróica fortaleza dos mártires, pela sua rápida e ad­mi rável propagação no mundo, e pela sua plena conservação através de tantos sécu los de muitas e contínuas lutas.
  • Quantas e quais são as partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã?
    As partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã são quatro: o Credo, o Padre-Nosso, os Mandamentos e os Sacramentos.
  • Que nos ensina o Credo?
    O Credo ensina-nos os principais artigos da nossa santa Fé.
  • Que nos ensina o Padre-Nosso?
    O Padre-Nosso ensina-nos tudo o que devemos esperar de Deus, e tudo o que Lhe devemos pedir.
  • Que nos ensinam os Mandamentos?
    Os M andamentos ensinam-nos tudo o que devemos fazer para agradar a Deus; em resumo, amar a Deus sobre todas as coisas, e amar ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
  • Que nos ensina a doutrina dos Sacramentos?
    A doutrina dos Sacramentos faz-nos conhecer a natureza e o bom uso desses mei­os que Jesus Cristo instituiu Para nos perdoar os pecados, comunicar-nos a sua graça, e infundir e aumentar em nós as virtudes da fé, da esperança e da caridade.
    1. Primeira Parte
      Do Símbolo dos Apóstolos, chamado vulgarmente o Credo

      “A fé é o fundamento do que se espera e a convicção das realida­des que não se vêem. Foi a fé que fez a glória dos antigos. Pela fé sabemos que o universo foi criado pela palavra de Deus, de sorte que do invisível teve origem o visível. Pela fé Abel ofereceu a Deus sacrifício melhor do que Caim e por ela foi declarado justo, tendo Deus aprovado as suas ofe­rendas, e é pela fé que depois de morto Abel continua a falar.”
      Epístola aos hebreus 4, 1-4


      CAPÍTULO I
      Do Credo em geral

    2. Qual é a primeira parte da Doutrina Cristã?
      A primeira parte da Doutrina Cristã é o Símbolo dos Apóstolos, chamado vulgarmente Credo.
    3. Por que chamamos ao Credo Símbolo dos Apóstolos?
      O Credo chama-se Símbolo dos Apóstolos, porque é um compêndio das verdades da Fé, ensinadas pelos Apóstolos.
    4. Quantos artigos tem o Credo?
      O Credo tem treze artigos.
    5. Dizei-os.
      1. Creio em Deus Padre, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.
      2. E em Jesus Cristo, um só seu Filho, Nosso Senhor.
      3. O qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem.
      4. Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
      5. Desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu doi mortos.
      6. Subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso.
      7. De onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
      8. Creio no Espírito Santo.
      9. Na Santa Igreja Católica.
      10. Na comunhão dos Santos.
      11. Na remissão dos pecados.
      12. Na ressurreição da carne.
      13. Na vida eterna. Amém
    6. Que quer dizer a palavra Credo, eu creio que dizeis no começo do Símbolo?
      A palavra Credo, eu creio quer dizer: eu tenho por absolutamente verdadeiro tudo o que nestes treze artigos se contém; e o creio mais firmemente do que se o visse com os meus olhos, porque Deus, que não pode nem enganar-Se nem enganar-nos, revelou estas verdades à Santa Igreja Católica, e por meio dEla eis revela também a nós.
    7. Que contêm os artigos do Credo?
      Os artigos do Credo contêm tudo o que de mais importante devemos crer acerca de Deus, de Jesus Cristo e da Igreja, sua Esposa.
    8. É muito útil rezar freqüentemente o Credo?
      É utilíssimo rezar freqüentemente o Credo, para imprimirmos cada vez mais no coração as verdades da Fé.

    CAPÍTULO II
    Do primeiro artigo do Credo

    Imediatamente Jesus obrigou os seus discípulos a subir para a barca e a passarem antes dele à outra margem do lago, en quanto ele d es-pedia as turbas, Despedidas as turbas, subiu só a um monte para orar. Quando chegou a noite, achava-se ali . Entretanto, a barca achava-se a muitos estádios da terra e era batida pelas ondas, porque o vento era con­trário. Porém, na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. E (os discípulos), quando o viram andar sobre o mar, turba­ram-se dizendo : E um fantasma. E, com medo, começaram a gritar. Mas Jesus falou-lhes imediatamente, dizendo: Tende confiança; sou eu, não reinais.
    Respondendo Pedro, disse: Senhor, se és tu, manda-me ir até on
    ­de estás por sobre as águas. Ele disse: Vem. Descendo Pedro da barca, ca­minhava sobre a água para ir a Jesus. Vendo, porém, que o vento era for-te, temeu, e, começando a submergir-se, gritou, dizendo: Senhor, sal­va-me! Imediata mente Jesus estendendo a mão, o tomou e lhe disse: Homem de pouca fé, porque duvidaste? Depois que subi ram para a barca, o vento cessou. Os que estavam na barca aproximaram-se dele e o adora­ram, dizendo: Verdadeiramente tu és o Filho de Deus. (
    Mt 14, 22-33)

    ---

    Dois anos se passaram e como o Gabriel descreveu anteriormente, o Veritas se desenvolveu nesse passar de tempo, mas ainda precisa definitivamente terminar de preparar os seus pilares, para que aí sim, possamos levar, como leigos confiantes, o Depósito Sagrado às pessoas que precisam, inclusive a nós mesmos. De qualquer forma, agradeço em nome do Grupo Veritas, a todos que direta e indiretamente nos ajudaram a permanecer firmes para

    ...aprender, divulgar e defender a doutrina e a história da Igreja através do seu Depósito Sagrado: a Verdade

    Peçamos a Deus que não permita que a chama que fez o grupo surgir e que está em cada um de nós, se apague. E que nossos padroeiros Santo Tomás e Santo Agostinho roguem por todos nós junto a Deus para que Ele nos guie nesse caminho duro e tortuoso e que Ele nos ajude nos nossos próximos estudos e atividades, tudo para Sua Maior Glória.


    Feliz 2009 Ano Novo Cheio de Graças, Amor e Verdade!!!

    À Maria por São Afonso

    À Imaculada e sempre Virgem Maria,

    À cheia de graça,
    À bendita entre todos os filhos de Adão,
    À Pomba, à Rola, a dileta de Deus,
    Honra do gênero humano, delícia da Santíssima Trindade,
    Habitáculo de amor,
    Modelo de humildade,
    Espelho de todas as virtudes.
    Mãe do belo amor,
    Mãe da santa esperança e Mãe de misericórdia,
    Advogada dos desgraçados,
    Amparo dos fracos, Luz dos cegos e saúde dos enfermos,
    Âncora de confiança,
    Cidade de refúgio, Porta do céu,
    Arca da vida, Íris da paz, Porto de salvação,
    Estrela do mar e Mar de doçura,
    Intercessora dos pecadores,
    Esperança dos desesperados, Socorro dos desamparados,
    Consoladora dos aflitos,
    Alívio dos moribundos e Alegria do universo:

    Um afetuoso e amante servo,
    ainda que indigno e vil,
    humildemente dedica esta obra

    quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

    Mensagem de Fim de Ano

    "Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor" (Lc 2,11)



    Queridos irmãos e irmãs,

    O ano de 2008 foi um ano de maior recolhimento e aprofundamento da nossa identidade, da nossa verdadeira missão como leigos católicos. Neste período, nos concentramos apenas na missão proposta para o ano: catequizar. Assim, assumimos turmas de catequese com crianças e adolescentes e turmas de preparação para os sacramentos da Eucaristia e Crisma (este último estamos com uma segunda turma, pois, a primeira já recebeu o sacramento em Setembro/2008) na Paróquia Cristo Libertador.

    Nos meses de Outubro e Novembro tivemos duas novidades: o início de um inédito curso de pós-Crisma (sobre a História da Igreja) e a publicação do nosso primeiro folheto catequético (sobre a Eucaristia e a Transubstanciação).

    Vislumbrando tudo o que fizemos neste ano, com segurança, podemos afirmar que no nosso recolhimento não ficamos inertes, ao contrário, trabalhamos muito mais do que em outras épocas. Sempre influenciando e incentivando as pessoas a mudarem suas vidas por causa da Verdade, por causa de Nosso Senhor.

    Obviamente, acreditamos que todo esse trabalho não seria possível sem a graça de Deus e o auxílio e compreensão dos amigos que nos cercam. Por isso, nesta mensagem, agradecemos a todos aqueles que nos incentivaram em nosso empenho apostólico - seja com apoio moral, espiritual ou material. E rogamos a benção e proteção divinas a todos esses amigos.

    Com o pensamento e a esperança em Cristo, cujo nascimento celebramos no dia de hoje, desejamos a todos os amigos e colaboradores da nossa missão um Feliz Natal e que em 2009 cresçamos ainda mais na Fé e no conhecimento da Verdade.

    Um fraterno abraço em Cristo.


    Manaus, 25 de Dezembro - Solenidade do Natal do Senhor - de 2008.


    Grupo de Estudos Veritas
    (fides et ratio)

    sábado, 20 de dezembro de 2008

    Lauda et laetare : Solta gritos de alegria!

    Sermão de São Tomás de Aquino

    Solta gritos de alegria, regozija-te, filha de Sião.
    Eis que venho residir no meio de ti - oráculo do Senhor. (Zacarias 2, 14)

    Prólogo

    Como diz o bem-aventurado Bernardo: “Refletindo amiúde o ardor desejoso de nossos pais, enquanto esperavam o advento do Cristo Jesus, fico perturbado eu comigo.” Com efeito, quem reflete sob os suspiros daqueles que clamam, sob os desejos daqueles que esperam, sob a alegria daqueles que anunciam a vinda do Salvador, podem com razão se dar conta da tibieza própria em comparação com as benesses já recebidas desde sua vinda. Clamava Isaías por esta vinda com freqüentes gemidos (16, 1): Enviai o cordeiro ao soberano etc.. Também em 63, 19: Oh! Se rasgásseis os céus etc.. Esperava-o Jeremias mui ansiadamente: Eis que o Senhor criou uma coisa nova sobre a terra etc. Como citado mais acima, é com alegria que o anunciava Zacarias.

    Nestas palavras, faz o profeta três coisas: em primeiro lugar, revela neste passo os sentimentos dos santos pais que precederam o advento do Salvador, insistindo continuamente nos louvores: Solta gritos de alegria, regozija-te, filha de Sião. Em segundo lugar, revela que o Filho de Deus verdadeiro descerá do céu: Eis que venho. Em terceiro lugar, mostra [o Salvador] aparecendo humilde na carne humana: Venho residir no meio de ti.

    Primeira Parte
    [A alegria da vinda do Senhor]

    Antes de tudo, revela-se a alegria da vinda [do Salvador], na repetição da palavra “alegria”: alegria perfeita. Acerca disso, é forçoso notar que, para atingir a alegria perfeita, são necessárias três coisas: em primeiro lugar, a elevação da alma até a mercê divina, como indicado neste trecho: Filha de Sião; em segundo lugar, a dilatação do amor como resultado dum gozo espiritual: Regozija-te; em terceiro lugar, o estímulo da língua para tecer os louvores divinos: Solta gritos de alegria! De fato, se tu consideras com atenção os favores divinos, serás pois “filha de Sião”; se exaltado cantas e cumula de louvores e elogios a glória de Deus, conhecerás a alegria perfeita; se dessa consideração nasce o gozo espiritual, então, filha de Sião, regozijarás, conforme a ordem do profeta: Solta gritos de alegria, regozija-te, filha de Sião!

    Em primeiro lugar, para se atingir a alegria perfeita, há de a alma se elevar até a mercê divina, como se indica em Filha de Sião. Com efeito, Sião significa “lugar elevado”, e segundo a interpretação espiritual unânime, a palavra simboliza a alma contemplativa. Passou um homem para anunciar a vinda do Senhor, por sua pregação (Is. 52, 7): Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade! E mais adiante: [é o] que diz a Sião: Teu Deus reina! Merece realmente escutar a pregação aquele que só quer falar “do Cristo e com Cristo”. Assim o Senhor, em Mateus 21, 5, e Zacarias 9, 9: Dizei à filha de Sião, i. é, a alma transida, pela meditação, na contemplação dos favores de Deus: “Eis que teu rei vem a ti!” Dirigi-vos, afirmo eu, aos sequiosos da palavra da alegria de sua vinda, a fim de serem consolados. Isaias 12, 6: Exultai de gozo e alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel. Com efeito, segundo a palavra do bem-aventurado Bernardo: “É dada abundantemente a consolação de Deus aos que não admitem nenhum outro além dele.” Esta são as filhas de Sião, a quem se anunciou e prometeu a visão contemplativa de sua vinda, Zacarias 9, 9: Exulta de alegria, filha de Sião! Cânticos 3, 11: Saí, ó filhas de Sião, contemplai etc.. Saí das perversões do vício, e sede as filhas de Sião, pela contemplação das realidades excelsas, para assim admirardes o rei Salomão, i. é, o Senhor dos Anjos, ostentando o diadema recebido de sua mãe, i. é, segundo a Glosa, “na humanidade recebida da ascendência judia”.

    Em segundo lugar, para alcançar a alegria perfeita, é preciso que se dilate o amor como resultado duma alegria espiritual, o que está apontado neste lugar: Regozija-te!

    Ora, é com justiça que deve exultar a alma fiel, mais ainda, deve transbordar a natureza humana inteira de gozos espirituais abundantes, quando se vê unida à sociedade divina. Com efeito, a natureza humana, que outrora fora um como deserto e terra inóspita em razão da ausência da graça celeste, agora está luxuriante em vegetação, pejada de frutos e flores, desde que o Filho de Deus a assumira na unidade de sua pessoa. Isaias 35, 1-2: O deserto e a terra árida regozijar-se-ão. A estepe vai alegrar-se e florir. Como o lírio ela florirá, exultará de júbilo e gritará de alegria. Em seguida: A glória do Líbano lhe será dada. Mais adiante, em Isaias 62, 4, está escrito: não mais serás chamada a desamparada.

    [A natureza humana deve ainda exultar de gozos espirituais] quando se sente fortificada pelo auxílio dos céus. Outrora, estava marcada a natureza humana inteira com a tristeza, devido à ausência da graça, ao fechamento das portas [do céu], à opressão da antiga prisão. Ora, agora se derramou a graça divina, por que, como consta em Atos 2, 3 e 4: Eles foram cheios do Espírito Santo. Descerrou-se a porta do céu, Apocalipse 4, 1: Vi uma porta aberta no céu. Esmagou-se o poderio do demônio, João 12, 31: Agora será lançado fora o príncipe deste mundo. Apocalipse 12, 10: Foi precipitado o acusador de nossos irmãos, e mais a frente: Por isso alegrai-vos, ó céus, e todos que aí habitais. Predisse-o Isaias 9, 2: Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos.

    Em terceiro lugar, para se alcançar a alegria perfeita, é forçoso o estímulo da língua para a proclamação do louvor divino, o que se indica neste passo: Solta gritos de alegria. Desde então, o conhecimento de Deus é tão agradável à nossa inteligência, quanto é ao nosso amor o transporte do gozo interior. Só nos sobra cantar, por todos os sentidos, o louvor [de Deus]. Eis porque diz o autor: Solta gritos de alegria! A alma fiel tem com que largamente comunicar seus louvores ao Redentor, pois se afirma em Filipenses 4, 7: E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus. De igual modo, no Sirácida 43, 30: Que podemos nós fazer para glorificá-lo? Pois o Todo-poderoso está acima de todas as suas obras.

    Devemos verdadeiramente louvar o poder do Defensor que nos afastou dos perigos, pois que é terrível perigo estar a serviço do demônio e do pecado: isso é de fato como o jugo de Faraó. Romanos 6, 22: Mas agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo é a vida eterna, cantemos ao Senhor. Êxodo 15, 2: O Senhor é a minha força e o objeto do meu cântico; foi ele quem me salvou. Ele é o meu Deus – eu o celebrarei; o Deus de meu pai – eu o exaltarei.

    [Devemos também louvar] a justiça do Redentor, por que “ao morrer, destruiu a morte”. De fato, a morte expiar a morte era justiça; mas o Cristo expiar a morte era misericórdia, pois que pagou o que não roubara, e isso com justiça soberanamente digna de louvor. Sirácida 16, 22: Os louvores são ditados pela justiça, e Isaias 61, 11: O Senhor Deus fará germinar a justiça e a glória diante de todas as nações.

    [Devemos ainda louvar] a clemência do Salvador, que nos conduziu à vida eterna. Como o disse o Apóstolo aos Colossensses 1, 13: Ele nos arrancou do poder das trevas e nos introduziu no Reino de seu Filho muito amado no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Por isso aquilo de Isaias 44, 23: Céus, regozijai-vos, pois o Senhor agiu [com misericórdia].

    Segunda Parte
    [A vinda do Filho de Deus sob forma visível]

    Em segundo lugar, nas palavras citadas ao início, descreve o profeta a proximidade da vinda [do Cristo], apresentado como se bem próximo estivesse, neste trecho: Eis que venho. Venho, disse ele, de modo visível, com forma humana, em que se revela inaudita novidade: Eis!, disse ele.

    Neste modo de falar, excita o profeta nossa tibieza para ir e compor-se diante dele. Isaias 25, 9: Eis nosso Deus do qual esperamos nossa libertação. Zacarias 9, 9: Eis que vem a ti o teu rei. Mostra assim a novidade dessa vinda, para que o esperemos e sejamos cheios de admiração. Assim canta a Esposa do Cântico 2, 8: - Oh, esta é a voz do meu amado! Ei-lo que aí vem, saltando sobre os montes, pulando sobre as colinas. Isaias 43, 19: Eis que vou fazer obra nova, a qual já surge. Comunica ao entendimento a proximidade [de sua vinda] para que nos disponhamos a recebê-lo. Malaquias 3, 1: E imediatamente virá ao seu templo o Senhor. Daniel 7, 13: Vi um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu. Neste modo de falar, mostrava-se o Filho de Deus como visível sob a forma da humanidade, ao falar: Eis!

    Ele vem pessoalmente em sua natureza divina, no que revela infinita grandeza, como indica este extrato: [eu] venho. Esta é a pessoa que se exprimiu pela boca dos profetas, Isaias 52, 6: Sou eu quem diz: Eis-me aqui! [É a pessoa] que anuncia a redenção de todos os pecadores, Isaias 63, 1: Sou eu, que luto pela justiça.[É a pessoa] que proclama o julgamento do final dos tempos, Salmo 75 [74], 3: No tempo que fixei, julgarei o justo juízo, e Salmo 37 [36], 30: A sua língua exprime a justiça.

    É de justiça, pois a ele pertence a eternidade, e a existência antes da existência. Exôdo 3, 14: Eu sou aquele que é. Com efeito, ele procede de Deus de modo consubstancial e deste a eternidade, João 8, 42: É dele que eu provenho. Igualmente possui ele poderio infinito, e é o criador de tudo. Isaías 45, 6-7: Eu sou o Senhor, sem rival; formei a luz e criei as trevas. De fato, como o Filho é Deus, princípio gerado do princípio, possui ele junto com o Pai o ser e o poder. Também é dele o conhecimento perfeito, e assim governa todas as coisas, Sirácida 24, 3: Saí da boca do Altíssimo, engendrado antes de toda a criatura. Como ele é luz de luz, claridade da claridade, o Filho é, como o Pai, infinitamente poderoso. João 8, 12: Eu sou a luz do mundo.

    Todavia, “eis que venho, como amigo vestido em hábito de serviço, apesar de minha sublimidade e enorme dignidade”. [Eu] venho é o mesmo que dizer: “Não envio anjo, nem espírito, nem lugar-tenente, mas venho eu mesmo, e assim se revela o maior dos amores.” [Eu] venho, digo eu, por convide dos santos pais: realmente, todos os santos desde o começo do mundo o haviam convidado; eles são representados na figura da bem-amada, Cântico 6, 2: Meu bem-amado desceu a seu jardim, e no último capítulo do Apocalipse 22, 20: Vinde, Senhor Jesus, e também em Isaias, Jeremias e em outros profetas.

    A piedade me conduziu e comoveu desde o fundo do coração. Lucas 1, 78: Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que o oriente do alto nos visitou. “Lá mostrou seu poder e sabedoria; aqui, sua misericórdia”, como afirma Bernardo. Ele também se comparece de nossas enfermidades. Mateus 8, 7: Eu irei, e lhe darei saúde. Lucas 19, 10: Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. João 3, 17: Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.

    Realmente, porque decaíramos de toda dignidade, ele veio como chefe de infinita dignidade. Josué 5, 14: Eu agora venho como chefe do exército do Senhor. De igual modo, porque estávamos separados do amor de Deus, ele veio estabelecer uma inaudita paz de caridade, Efésios 2, 14: Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um. Ele veio para pregar a paz aos que estavam afastados. E não foi tão-somente o amor do Filho que veio, mas também o do Pai. E por fim, porque estávamos privados da luz ou claridade, ele veio como luz de infinito esplendor, João 12, 46: Eu sou a luz que vim ao mundo.

    Terceira Parte
    [A humildade da vinda do Salvador]

    Em terceiro lugar, nas palavras citadas ao começo, demonstramos a humildade da vinda [do Salvador]. Assim, venho residir no meio de ti, como se dissesse: “Durante a viagem, serei teu companheiro.” Por isso diz: venho residir.

    Ele residiu conosco de três modos: de modo geral, [ele residiu] junto com todos os homens a substância da carne, João 1,14: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; Baruque 3, 38: Foi então que ela, [a sabedoria], apareceu sobre a terra, onde permanece entre os homens; de modo particular, junto com os santos por meio da graça difundida sobre eles, 2 Corintios 6, 16: Eu habitarei e andarei entre eles, e serei o seu Deus e eles serão o meu povo; de modo familiar, junto com os bons por meio da presença visível, Salmo 24, 12: O Senhor se torna íntimo dos que o temem, e lhes manifesta a sua aliança. [Escreve] Bernardo: “Ele veio para habitar com os homens e neles, para iluminar suas trevas, para abreviar seus sofrimentos e afastar os perigos”.

    Veio ele também como mediador da reconciliação: No meio de vós. Lucas 22, 27: Eu estou no meio de vós, como aquele que serve. Ora, ele mediou para reconciliar Deus e o homem. João 2, 26: No meio de vós existe alguém que vós não conheceis. Deuteronômio 5, 5: Eu estava entre o Senhor e vós para transmitir-vos suas palavras.

    Quisera ele ainda nos trazer a plenitude da alegria, João 20, 19-20: Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja convosco!, e mais além: Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. Isaías 12, 6: Exultai de gozo e alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.

    Igualmente mostrou-se grande na distribuição das recompensas: Oráculo do Senhor!

    Tradução: Permanência
    (A partir da tradução francesa de Charles Duyck, março de 2005)

    Fonte: Permanência

    Adão e Cristo: do pecado (original) à liberdade

    PAPA BENTO XVI

    AUDIÊNCIA GERAL

    Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2008

    São Paulo (15)

    Adão e Cristo: do pecado (original) à liberdade

    Queridos irmãos e irmãs!

    Detemo-nos na catequese de hoje sobre as relações entre Adão e Cristo, traçadas por São Paulo na conhecida página da Carta aos Romanos (5, 12-21), na qual ele entrega à Igreja as orientações essenciais da doutrina sobre o pecado original. Na realidade, já na primeira Carta aos Coríntios, tratando da fé na ressurreição, Paulo tinha introduzido o confronto entre o progenitor e Cristo: "Assim como todos morrem em Adão, assim também, em Cristo, todos serão vivificados... O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente: o último Adão é um espírito vivificante" (1 Cor 15, 22.45). Com Rm 5, 12-21 o confronto entre Cristo e Adão torna-se mais articulado e iluminador: Paulo repercorre a história da salvação de Adão até à Lei e dela até Cristo. No centro do cenário não se encontra tanto Adão com as conseqüências do pecado sobre a humanidade, quanto Jesus Cristo e a graça que, através d'Ele, foi derramada em abundância sobre a humanidade. A repetição do "muito mais" relativo a Cristo ressalta como o dom recebido n'Ele supera, em grande medida, o pecado de Adão e as conseqüências causadas sobre a humanidade, de modo que Paulo pode chegar à conclusão: "Onde, porém, abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5, 20). Portanto, o confronto que Paulo traça entre Adão e Cristo põe em realce a inferioridade do primeiro homem em relação à prevalência do segundo.

    Por outro lado, é precisamente para pôr em ressalto o dom incomensurável da graça, em Cristo, que Paulo menciona o pecado de Adão: dir-se-ia que se não tivesse sido para demonstrar a centralidade da graça, ele não teria demorado a tratar o pecado que, "por causa de um só homem, entrou no mundo e, com o pecado, a morte" (Rm 5, 12). Por isso, se na fé da Igreja maturou a consciência do dogma do pecado original foi porque ele está relacionado inseparavelmente com o outro dogma, o da salvação e da liberdade em Cristo. A conseqüência disto é que nunca deveríamos tratar o pecado de Adão e da humanidade separando-os do contexto salvífico, isto é, sem os incluir no horizonte da justificação em Cristo.

    Mas como homens de hoje devemos perguntar-nos: o que é este pecado original? O que ensina São Paulo, o que ensina a Igreja? Ainda hoje se pode afirmar esta doutrina? Muitos pensam que, à luz da história da evolução, já não haveria lugar para a doutrina de um primeiro pecado, que depois se teria difundido em toda a história da humanidade. E, por conseguinte, também a questão da Redenção e do Redentor perderia o seu fundamento. Portanto, existe ou não o pecado original? Para poder responder devemos distinguir dois aspectos da doutrina sobre o pecado original. Existe um aspecto empírico, isto é, realidade concreta, visível, diria tangível para todos. E um aspecto mistérico, relativo ao fundamento ontológico deste facto. O dado empírico é que existe uma contradição no nosso ser. Por um lado, cada homem sabe que deve fazer o bem e intimamente até o quer fazer. Mas, ao mesmo tempo, sente também o outro impulso para fazer o contrário, para seguir o caminho do egoísmo, da violência, para fazer só o que lhe apraz, mesmo sabendo que assim age contra o bem, contra Deus e contra o próximo. São Paulo na sua Carta aos Romanos expressou esta contradição no nosso ser assim: "Quero o bem, que está ao meu alcance, mas realizá-lo não. Efectivamente, o bem que quero, não o faço, mas o mal que não quero é que pratico" (7, 18-19). Esta contradição interior do nosso ser não é uma teoria. Cada um de nós a vive todos os dias. E sobretudo vemos sempre em nossa volta a prevalência desta segunda vontade. É suficiente pensar nas notícias quotidianas sobre injustiças, violência, mentira, luxúria. Vemo-lo todos os dias: é uma realidade.

    Como conseqüência deste poder do mal nas nossas almas, desenvolveu-se na história um rio impuro, que envenena a geografia da história humana. O grande pensador francês Blaise Pascal falou de uma "segunda natureza", que se sobrepõe à nossa natureza originária, boa. Esta "segunda natureza" faz sobressair o mal como normal para o homem. Assim também a expressão habitual: "Isto é humano" pode querer dizer: este homem é bom, realmente age como deveria agir um homem. Mas "isto é humano" também pode significar falsidade: o mal é normal, é humano. O mal parece ter-se tornado uma segunda natureza. Esta contradição do ser humano, da nossa história deve provocar, e provoca também hoje, o desejo de redenção. E, na realidade, o desejo que o mundo seja mudado e a promessa que será criado um mundo de justiça, de paz, de bem, está presente em toda a parte: na política, por exemplo, todos falam desta necessidade de mudar o mundo, de criar um mundo mais justo. É precisamente esta a expressão do desejo que haja uma libertação da contradição que experimentamos em nós próprios.

    Por conseguinte, o facto do poder do mal no coração humano e na história humana é inegável. A questão é: como se explica este mal? Na história do pensamento, prescindindo da fé cristã, existe um modelo principal de explicação, com diversas variações. Este modelo diz: o próprio ser é contraditório, tem em si quer o bem quer o mal. Na antiguidade esta idéia incluía a opinião que existiam dois princípios igualmente originários: um princípio bom e um princípio mau. Este dualismo seria insuperável; os dois princípios estão no mesmo nível, por isso haverá sempre, desde a origem do ser, esta contradição. A contradição do nosso ser, portanto, reflectiria apenas, por assim dizer, a contrariedade dos dois princípios divinos. Na versão evolucionista, ateia, do mundo volta de maneira nova a mesma visão. Mesmo se, nesta concepção, a visão do ser é monista, supõe-se que o ser como tal desde o início tenha em si o mal e o bem. O próprio ser não é simplesmente bom, mas aberto ao bem e ao mal. O mal é igualmente originário como o bem. E a história humana desenvolveria apenas o modelo já presente em toda a evolução precedente. Aquilo a que os cristãos chamam pecado original na realidade seria apenas o carácter misto do ser, uma mistura de bem e de mal que, segundo esta teoria, pertenceria à própria capacidade do ser. No fundo, trata-se de uma visão desesperada: se assim é, o mal é invencível. No final conta unicamente o próprio interesse. E cada progresso deveria ser necessariamente pago com um rio de mal e quem quisesse servir o progresso deveria aceitar pagar este preço. No fundo, a política é delineada precisamente sobre estas premissas: e vemos os seus efeitos. Este pensamento moderno pode, no final, criar tristeza e cinismo.

    E assim perguntamos de novo: o que diz a fé, testemunhada por São Paulo? Como primeiro ponto, ela confirma o facto da competição entre as duas naturezas, o facto deste mal cuja sombra pesa sobre toda a criação. Ouvimos o capítulo 7 da Carta aos Romanos, poderíamos acrescentar o capítulo 8. O mal simplesmente existe. Como explicação, em contraste com os dualismos e os monismos que consideramos brevemente e que achamos desoladores, a fé diz-nos: existem dois mistérios de luz e um mistério de trevas, que contudo está envolvido pelos mistérios de luz. O primeiro mistério de luz é este: a fé diz-nos que não existem dois princípios, um bom e um mau, mas há um só princípio, o Deus criador, e este princípio é bom, só bom, sem sombra de mal. E por isso também o ser não é uma mistura de bem e mal; o ser como tal é bom e por isso é bom ser, é bom viver. É esta a boa nova da fé: há apenas uma fonte boa, o Criador. E por isso viver é um bem, é bom ser um homem, uma mulher, a vida é boa. Depois segue-se um mistério de escuridão, de trevas. O mal não provém da fonte do próprio ser, não tem a mesma origem. O mal vem de uma liberdade criada, de uma liberdade abusada.

    Como foi possível, como aconteceu? Isto permanece obscuro. O mal não é lógico. Só Deus e o bem são lógicos, são luz. O mal permanece misterioso. Apresentámo-lo com grandes imagens, como faz o capítulo 3 do Génesis, com aquela visão das duas árvores, da serpente, do homem pecador. Uma grande imagem que nos faz adivinhar, mas não pode explicar quanto é em si mesmo ilógico. Podemos adivinhar, não explicar; nem sequer o podemos contar como um facto ao lado do outro, porque é uma realidade mais profunda. Permanece um mistério de escuridão, de trevas. Mas acrescenta-se imediatamente um mistério de luz. O mal vem de uma fonte subordinada. Deus com a sua luz é mais forte. E por isso o mal pode ser superado. Portanto a criatura, o homem, é curável. As visões dualistas, também o monismo do evolucionismo, não podem dizer que o homem é curável; mas se o mal só vem de uma fonte subordinada, é uma verdade que o homem é curável. E o livro da Sabedoria diz: "São salutares as criaturas do mundo" (1, 14 vulg). E finalmente, último aspecto, o homem não é só curável, de facto está curado. Deus introduziu a cura. Entrou pessoalmente na história. Opôs à fonte permanente do mal uma fonte de bem puro. Cristo crucificado e ressuscitado, novo Adão, opõe ao rio impuro do mal um rio de luz. E este rio está presente na história: vejamos os santos, os grandes santos mas também os santos humildes, os simples fiéis. Vemos que o rio de luz que provém de Cristo está presente, é forte.

    Irmãos e irmãs, é tempo de Advento. Na linguagem da Igreja a palavra Advento tem dois significados: presença e expectativa. Presença: a luz está presente, Cristo é o novo Adão, está connosco e no meio de nós. Já resplandece a luz e devemos abrir os olhos do coração para ver a luz e para nos introduzirmos no rio da luz. Estar sobretudo gratos pelo facto de que o próprio Deus entrou na história como nova fonte de bem. Mas Advento significa também expectativa. A noite escura do mal ainda é forte. E por isso rezemos no Advento com o antigo povo de Deus: "Rorate caeli desuper". E rezemos com insistência: vem Jesus, dá força à luz e ao bem; vem onde dominam a mentira, a ignorância de Deus, a violência, a injustiça, vem, Senhor Jesus, dá força ao bem no mundo e ajuda-nos a ser portadores da tua luz, artífices da paz, testemunhas da verdade. Vem Senhor Jesus!

    Fonte: Vaticano

    sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

    Festa de Nossa Senhora de Guadalupe

    Festa de Nossa Senhora de Guadalupe

    12 do dezembro

    Um sábado de 1531 a princípios de dezembro, um índio chamado Juan Diego, ia muito de madrugada do povo em que residia à cidade do México a assistir a suas aulas de catecismo e para ouvir a Santa Missa. Ao chegar junto à colina chamada Tepeyac amanhecia e escutou uma voz que o chamava por seu nome.

    Ele subiu ao cume e viu uma Senhora de sobre-humana beleza, cujo vestido era brilhante como o sol, a qual com palavras muito amáveis e atentas lhe disse: "Juanito: o menor de meus filhos, eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus, por quem se vive. Desejo vivamente que me construa aqui um templo, para nele mostrar e prodigalizar todo meu amor, compaixão, auxílio e defesa a todos os moradores desta terra e a todos os que me invoquem e em Mim confiem. Vá ao Senhor Bispo e lhe diga que desejo um templo neste plano. Anda e ponha nisso todo seu esforço".

    Retornou a seu povo Juan Diego se encontrou de novo com a Virgem Maria e lhe explicou o ocorrido. A Virgem lhe pediu que ao dia seguinte fora novamente falar com o bispo e lhe repetisse a mensagem. Esta vez o bispo, logo depois de ouvir Juan Diego disse que devia ir e lhe dizer à Senhora que lhe desse alguma sinal que provasse que era a Mãe de Deus e que era sua vontade que lhe construíra um templo.

    De volta, Juan Diego achou Maria e lhe narrou os fatos. A Virgem lhe mandou que voltasse para dia seguinte ao mesmo lugar, pois ali lhe daria o sinal. Ao dia seguinte Juan Diego não pôde voltar para colina, pois seu tio Juan Bernardino estava muito doente. A madrugada de 12 de dezembro Juan Diego partiu a toda pressa para conseguir um sacerdote a seu tio, pois se estava morrendo. Ao chegar ao lugar por onde devia encontrar-se com a Senhora preferiu tomar outro caminho para evitá-la. de repente Maria saiu a seu encontro e lhe perguntou aonde ia. O índio envergonhado lhe explicou o que ocorria. A Virgem disse a Juan Diego que não se preocupasse, que seu tio não morreria e que já estava são. Então o índio lhe pediu o sinal que devia levar a bispo. Maria lhe disse que subisse ao cume da colina onde achou rosas de Castela frescas e colocando-as no poncho, cortou quantas pôde e as levou a bispo.

    Uma vez diante de Dom Zumárraga Juan Diego desdobrou sua manta, caíram ao chão as rosas e no poncho estava pintada com o que hoje se conhece como a imagem da Virgem de Guadalupe. Vendo isto, o bispo levou a imagem Santa à Igreja Maior e edificou uma ermida no lugar que tinha famoso o índio.

    Pio X a proclamou como "Padroeira de toda a América Latina", Pio XI de todas as "Américas", Pio XII a chamou "Imperatriz das Américas" e João XXIII "A Missionária Celeste do Novo Mundo" e "a Mãe das Américas".

    A imagem da Virgem de Guadalupe se venera no México com maior devoção, e os milagres obtidos pelos que rezam à Virgem de Guadalupe são extraordinários.

    Fonte: http://www.acidigital.com/santos/santo.php?n=353

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    Um interessante artigo sobre as análises científicas feitas sobre a imagem de Guadalupe pode ser encontrado em:

    Centro Latino-americano de Parapsicologia

    quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

    Orações do Cristão



    Esta disponível no Arquivo Veritas um pequeno compêndio chamado Orações do Cristão.

    Neste compêndio, estão disponíveis as orações fundamentais que o cristão deve saber e rezar, como: Creio, Pai-Nosso, Ave-Maria, Salva Rainha, Glória ao Pai, ao Anjo da Guarda, Ato de Fé, Ato de Esperança, Ato de Caridade, entre outras. O compêndio trás também os mandamentos de Deus e da Igreja, os Sacramentos, preparação para a Penitência que são catequeses básicas também fundamentais para o cristão.

    Baixe, salve e o imprima e não deixa de rezar.

    Ad Majorem Dei Gloriam

    Novos E-books

    Estão disponíveis para download os novos e-books no Arquivo Veritas:
    1. Santo Sudário: a impossibilidade de falsificação - de Mário Moroni e Francesco Barbesino;
    2. Luz sobre a Idade Média - de Régine Pernoud;
    3. Ortodoxia - de G. K. Chesterton;
    4. Preparação para a Morte - de Santo Afonso Maria de Ligório.
    Boa leitura!

    quinta-feira, 6 de novembro de 2008

    Campanha dos Folhetos

    Olá pessoal,

    Como já foi divulgado há algum tempo, o Grupo de Estudos Veritas está abrindo uma nova frente de divulgação da doutrina católica, a saber: Folhetos Catequéticos.
    Esses folhetos já possuem uma ampla divulgação na sua forma digital, entretanto, visamos desde o ínicio a propagação às pessoas que não possuem acesso à internet (com distribuição nas missas e encontros de pastorais).

    Uma estimativa inicial foi feita para a primeira edição (500 exemplares). Segundo o orçamento da Gráfica cada folheto sairia por R$ 0,79 (setenta e nove centavos) o que acarreta em um valor total de R$ 395,00 (trezentos e noventa e cinco reais). A impressão será feita em policromia e papel couchê 170g.
    Por esse motivo, pedimos respeitosamente a colaboração de todos os amigos do Grupo Veritas nesta nova empreitada rumo à Evangelização das pessoas. Fiquem à vontade para doar a quantia que puderem.

    um forte abraço em Cristo Jesus.

    Gabriel Leitão
    Grupo de Estudos Veritas (Fides et Ratio)

    domingo, 2 de novembro de 2008

    PRÓXIMO ENCONTRO!!!

    Data: 09/11/2008
    Local: Capela do Imaculado Coração de Maria - Compensa I - Manaus/AM
    Tema: A Verdade e as verdades

    Este tema tem relação à nova fase de encontros do Grupo Veritas sobre a História da Igreja (de Jesus Cristo à atualidade) e servirá de introdução e nivelamento para os novos participantes em nossos estudos.

    Mais informações em nossa lista de discussão ou por email para algum dos administradores do Blog.

    sábado, 1 de novembro de 2008

    Autoridade e “autoridades”

    Sidney Silveira

    Qualquer principiante no estudo da obra de Santo Tomás sabe que o argumento de autoridade não vale nada, razão pela qual não devemos escorar-nos em uma autoridade humana como se isto nos garantisse a posse da verdade, pois “não importa quem diz, mas a validade do que se diz”. As únicas autoridades que o Doutor Angélico aceita são a da Sagrada Escritura e a do Magistério da Igreja; aquela porque foi revelada, e este porque foi participado pelo próprio Cristo e, portanto, não pode errar em artigos de fé e doutrina, dada a sua origem divina. [“Ide e ensinai a todas as nações”, cf. Mateus, XXVIII, 19]

    Esse Magistério da Igreja participado pelo próprio Cristo sempre possuiu órgãos autênticos e órgãos subsidiários. Vejamos alguns deles, seguindo de perto a enumeração do Padre Álvaro Calderón, um simples teólogo (e, como veremos, um teólogo não tem autoridade magisterial, embora possa ter alguma autoridade teológica, se porventura não contraria o Magistério).

    1- ÓRGÃOS AUTÊNTICOS DO MAGISTÉRIO

    A) O Papa, no qual reside a suprema autoridade apostólica. Aqui, há uma divisão que deve ser feita:

    a.1) O Papa sozinho;
    a.2) O Papa e os Bispos reunidos em Concílio.

    B) Os Bispos em comunhão com o Papa, mestres ex officio da suprema autoridade apostólica. Distingamos, também aqui, as situações.

    b.1) Os Bispos dispersos pelo mundo, quando fazem uma declaração comum acerca de algum aspecto da doutrina revelada (e não sobre política ou outro assunto qualquer);
    b.2) Os Bispos sozinhos, no âmbito de suas dioceses.

    2- ÓRGÃOS SUBSIDIÁRIOS DO MAGISTÉRIO

    A) Papais: Congregações Romanas, Comissões Pontifícias, Delegados Apostólicos, etc. Aqui também há distinções, pois esses órgãos em geral são compostos por:

    a.1) Teólogos e peritos em ciências eclesiásticas;
    a.2) Catequistas.

    B) Episcopais: Conselhos de Presbíteros, Comissões Diocesanas, Curas, Párocos, etc.

    b.1) Aqui também se encontram, na base, os simples fiéis, os pais de família e os peritos em ciências naturais que possam auxiliar a defesa da fé — caso, por exemplo, do biólogo norte-americano Michael Behe, que, com o seu conceito de complexidade irredutível, refutou, em seu foro científico específico, a teoria evolucionista. Mas esta é uma conversa para outro post.

    Como vimos, um teólogo não tem autoridade magisterial nem em sentido pleno (que só o Papa possui) nem de modo não pleno (caso dos Bispos), pois a sua tarefa é subsidiária; por isso, se ele contraria a regra próxima e necessária da fé (ou seja, o Magistério infalível, tanto ordinário [pois o há, em alguns casos] como extraordinário), não só não possui autoridade magisterial, mas sequer possui a mínima autoridade teológica. O bom mesmo é que seja refutado, para que os seus erros não se propaguem e contaminem a fé, pondo em risco a salvação das almas — caso, por exemplo, do teólogo suíço Urs von Balthasar, que afirmara desgraçadamente que o inferno está vazio, ou melhor: está cheio de pecados, mas não de pecadores (sic.). Ou ainda o caso de teólogos que afirmam que o inferno não é um lugar, mas um estado. A teólogos defensores de tais “teses”, o Papa atual, Bento XVI, em recente alocução na Praça de S. Pedro, bem no começo da Quaresma deste ano (em 08/02), deu uma bela e firme resposta, ao dizer com todas as letras e com a sua autoridade: O inferno está cheio e é um lugar!

    Aqui vale perguntar: no que se refere a qualquer artigo de fé, vale mais o parecer do Papa — no qual reside a autoridade apostólica de modo pleno — ou o de um teólogo, que, como mostramos, trabalha em algo importante, mas absolutamente subsidiário?

    Ademais, nunca é demais lembrar que hoje há teólogos de todas as linhas e sabores: há por exemplo os que defendem o poligenismo (ou seja: afirmam que não existiram Adão e Eva, mas uma multidão de primeiros pais — tese que torna o pecado original teologicamente irresolvível, pelos problemas que traz) e o naturalismo (estes excluem a causa sobrenatural e afirmam coisas verdadeiramente portentosas, como por exemplo a seguinte: o Mar Vermelho foi dividido por um fenômeno natural ocorrido no exato momento em que Moiséis dizia dividi-lo — o que é, na verdade, incrível, literalmente).

    Portanto, aconselho a todos os vários amigos — antigos e recentes — que nos têm brindado com visitas cotidianas ao blog: estudem com grande afinco, e continuamente, o Magistério da Igreja e os Santos Doutores (que aliás assim o foram proclamados pelo próprio Magistério!), antes de dar crédito a qualquer teólogo, por mais criativo e erudito que pareça ser.

    quinta-feira, 23 de outubro de 2008

    Descartes (I): o começo de uma inversão

    Sidney Silveira


    “Penso, logo sou” (Cogito, ergo SUM). É com este o juízo que Descartes pensa reconstruir todo o edifício filosófico do ocidente, após brindar-nos com o que ele julga ser uma dúvida universal transformada em método. Veremos, mais à frente — pelo escrutínio feito por um bisturi dialético — se o Cogito cartesiano tem alguma chance de salvar-se como juízo válido. Antes disso, contudo, analisemos algumas das suas premissas, e não com a nossa modesta opinião, mas partindo do que o próprio filósofo francês consignou em seus textos. E isto sem deixar de assinalar que, em filosofia, as premissas de um sistema importam tanto ou mais do que as conclusões, pois a força de qualquer doutrina filosófica não se mede por suas afirmações expressas (dado que todas as têm!), e sim pelo que se supõe ser o seu edifício lógico, a sua estrutura interna, a sua capacidade de alcançar validez medindo forças com as teorias contrárias, com as genuínas objeções.

    A dúvida universal

    Como toda a filosofia anterior não lhe parecera segura, Descartes — que sem conhecer minimamente a escolástica considerava-a “dogmática" — anuncia ser necessário recomeçar tudo a partir de idéias claras e distintas, de um ponto por assim dizer arquimédico no qual o edifício filosófico, enfim, encontrasse o seu fundamento. A isto ele foi “inspirado” por três sonhos* (o que é verdadeiramente emblemático, para uma filosofia idealista), e, a partir desta famosa jornada onírica, o pensador francês acreditou-se um iluminado, um escolhido para mudar os destinos da filosofia.

    A mathesis universalis de Descartes parte da certeza de que os nossos conhecimentos são duvidosos (menos, é claro, o conhecimento pressuposto neste juízo, do qual ele tem toda a certeza, o que põe a nu a petitio principiis). E duvidosos a começar pelos dados que nos fornecem os sentidos e a imaginação*, os quais, para o cartesiano, são totalmente enganosos. É preciso, portanto, encontrar algo sólido, um critério seguro que nos permita discernir o verdadeiro do falso. E ele supõe encontrá-lo na dúvida “universal” a partir da qual chega à certeza de que pensa, e tal certeza lhe trará outra: a de que é — ou seja, a de que existe. "Penso, logo sou (existo)".

    Pergunta-se Octavio Derisi em seu para muitos embaraçoso Filosofía Moderna y Filosofía Tomista: é possível semelhante “dúvida universal”? De cara, registre-se que a simples postulação da dúvida “universal” mostra o total desconhecimento de Descartes da resolução que deram ao mesmo problema — e partindo de um ponto muitíssimo mais profundo e seguro — Aristóteles, na Metafísica, e Santo Tomás, em seu Comentário à Metafísica, III, lec. I, que não cabe expor aqui em detalhes, para não mudar de assunto. Por favor, procurem os textos e os leiam com atenção.

    A resposta decisiva é “não”! Não é possível tal dúvida. E as razões são muito simples, como diz o mesmo Derisi. A primeira é que a dúvida, como todo pensamento, deriva do objeto que significa (no caso, os conhecimentos [dubitáveis] que temos acerca das coisas), e não de si mesma. Uma dúvida universal que não aceitasse nada como verdade, a não ser ela mesma, seria não apenas contraditória, mas impensável e impossível, pois se diluiria como dúvida ao diluir-se como pensamento de algo. Ademais, se a dúvida fosse realmente universal deveria abarcar a si mesma, e Descartes deveria também estendê-la ao pensamento que lhe traz a certeza de que duvida, mas isto ele não faz. Escapou-lhe, incrivelmente, que A DÚVIDA JÁ PRESSUPÕE O “EU” EXISTENTE QUE DUVIDA; logo, este não poderia jamais ser a conseqüência lógica (e muito menos ontológica) daquela. E muito menos a única certeza que tal dúvida "universal", inadvertidamente, deixou escapar: o "Penso".

    Mas, como o melhor método de refutação é aceitar a premissa errada e dela extrair os corolários, concedamos a dúvida universal (ainda seguindo as pegadas de Derisi) e vejamos que bicho dá. Concedamos a possibilidade de um pensamento que, sem autodestruir-se, possa suspender todas as afirmações e negações e iniciar-se com uma dúvida real universal. Proponhamos a disjunção: ou há a dúvida universal, ou não há. Ora, se se aceita a dúvida universal, o Cogito não é válido porque tal dúvida estender-se-ia àquilo que Descartes considera certo: o mesmo Cogito. Portanto, dizer, como faz Descartes, que com o Cogito, ergo sum ele evadiu-se do círculo vicioso da dúvida universal não muda nada. Como brilhantemente afirma Derisi, posta em dúvida justamente a validez de todos os juízos da inteligência, como concluir algo por um ato da mesma inteligência? Estamos num beco sem saída. Como se vê, ou a dúvida universal existe, e o Cogito não é válido, ou vale o Cogito e a dúvida universal cai por terra. Tertium non datur. Eis a premissa com que se inaugura o pensamento moderno: um erro primário que não passaria despercebido a um estudante mediano do período escolástico.

    Encerro este primeiro texto da série — que, ao final, mostrará o quão insustentável é o juízo cartesiano mais famoso — com duas frases de Derisi no luminoso livro acima citado:

    “Com o seu Discurso, Descartes esboça uma filosofia de tipo imanentista, em que a inteligência "começa" por si mesma. Frente a uma filosofia que vai [em certo sentido] de fora para dentro, na qual a inteligência recebe do ser transcendente a luz da inteligibilidade, Descartes funda outra que vai de dentro para fora, na qual o ser é que é “iluminado” na imanência da própria inteligência” [o ser, na verdade, está à espera de que o "eu" pensante defina-o].

    “Esta é a importância do Discurso do Método: ter mudado o curso da filosofia de realista em idealista; ter desconectado a inteligência do ser transcendente (o ser extra mentis [extramental ou além da nossa mente, diríamos]) para apriosioná-lo na imanência; ter, por fim, oposto a uma filosofia de tipo metafísico-gnosiológica outra puramente gnosiológica”.

    * A este sofisma Santo Tomás já havia respondido séculos antes, inspirado em Aristóteles: Os sentidos jamais se enganam com relação ao seu objeto formal próprio. O objeto da audição é o audível, o do paladar o palatável, o da visão as formas visíveis, etc. Sendo assim, se eu coloco uma faca num copo d’água e a refração da água dá-me a imagem de uma faca com uma forma curva ou ondulada, diferente da faca real, isto não significa que o sentido da visão me “enganou”. Na verdade, o sentido deu-me a exata imagem de uma faca DENTRO do copo com água, e se a inteligência pressupôs que a faca mudou de forma, não culpemos os sentidos por tal asnice. Santo Tomás, com todo o seu realismo, diz que os sentidos só erram por um defeito no órgão que capta a realidade sensível (uma miopia no olho, por exemplo, ou um problema de surdez, etc).
    *A 10 de novembro de 1619, três sonhos maravilhosos advertem Descartes de que está destinado a unificar todos os conhecimentos humanos por meio de uma "ciência admirável" da qual será o inventor.
    Em tempo: No final da série, veremos se, de algum ponto de vista, o Cogito, ergo sum pode ser considerado como um juízo necessariamente verdadeiro. Antes — é claro! — deixando consignadas as definições dos termos implicados: “juízo”, “necessidade” e “verdade”.

    segunda-feira, 13 de outubro de 2008

    Ave Maria - Sermões de Santo Tomás de Aquino


    A SAUDAÇÃO ANGÉLICA

    PRÓLOGO

    1. — A saudação angélica é dividida em três partes: A primeira, composta pelo Anjo: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres. (Lc 1, 28).

    A segunda é obra de Isabel, mãe de João Batista, que disse: Bendito é o fruto do teu ventre.

    A terceira parte, a Igreja acrescentou: Maria

    O Anjo não disse: Ave Maria e sim, Ave, Cheia de graça. Mas este nome de Maria, efetivamente, se harmoniza com as palavras do Anjo, como veremos mais adiante.

    AVE

    2. — Na antiguidade, a aparição dos Anjos aos homens era um acontecimento de grande importância e os homens sentiam-se extremamente honrados em poder testemunhar sua veneração aos Anjos.

    A Sagrada Escritura louva Abraão por ter dado hospitalidade aos Anjos e por tê-los reverenciado.

    Mas um Anjo se inclinar diante de uma criatura humana, nunca se tinha ouvido dizer antes que o Anjo tivesse saudado à Santíssima Virgem, reverenciando-a e dizendo: Ave.

    3. — Sé na antiguidade o homem reverenciava o Anjo e o Anjo não reverenciava o homem, é porque o Anjo é maior que o homem e o é por três diferentes razões:

    Primeiramente, o Anjo é superior ao homem por sua natureza espiritual.

    Está escrito: Dos seres espirituais Deus fez seus Anjos. (Sl 103).

    4. — O homem tem uma natureza corrutível e por isso Abraão dizia a Deus: (Gn 18, 27) Falarei a meu Senhor, eu que sou cinza e pó.

    Não convém que a criatura espiritual e incorruptível renda homenagem à criatura corruptível.

    Em segundo lugar, o Anjo ultrapassa o homem por sua familiaridade com Deus.

    Com efeito, o Anjo pertence à família de Deus, mantendo-se a seus pés. Milhares de milhares de Anjos o serviam, e dez milhares de centenas de milhares mantinham-se em sua presença, está escrito em Daniel (7, 10).

    Mas o homem é quase estranho a Deus, como um exilado longe de sua face pelo pecado, como diz o Salmista: (54, 8) Fugindo, afastei-me de Deus.

    Convém, pois, ao homem honrar o Anjo por causa de sua proximidade com a majestade divina e de sua intimidade com ela.

    Em terceiro lugar, o Anjo foi elevado acima do homem, pela plenitude do esplendor da graça divina que possui. Os Anjos participam da própria luz divina em mais perfeita plenitude. Pode-se enumerar os soldados de Deus, diz Jó (25, 3) e haverá algum sobre quem não se levante a sua luz? Por isso os Anjos aparecem sempre luminosos. Mas os homens participam também desta luz, porém com parcimônia e como num claro-escuro.

    Por conseguinte, não convinha ao Anjo inclinar-se diante do homem, até, o dia em que apareceu urna criatura humana que sobrepujava os Anjos por sua plenitude de graças (cf n° 5 a 10), por sua familiaridade com Deus (cf. n° 10) e por sua dignidade.

    Esta criatura humana foi a bem-aventurada Virgem Maria. Para reconhecer esta superioridade, o Anjo lhe testemunhou sua veneração por esta palavra: Ave.

    CHEIA DE GRAÇA

    5. — Primeiramente, a bem-aventurada Virgem ultrapassou todos os Anjos por sua plenitude de graça, e para manifestar esta preeminência o Arcanjo Gabriel inclinou-se diante dela, dizendo: cheia de graça; o que quer dizer: a vós venero, porque me ultrapassais por vossa plenitude de graça.

    6. — Diz-se também da Bem-aventurada Virgem que é cheia de graça, em três perspectivas:

    Primeiro, sua alma possui toda a plenitude de graça. Deus dá a graça para fazer o bem e para evitar o mal. E sob esse duplo aspecto a Bem-aventurada Virgem possuía a graça perfeitissimamente, porque foi ela quem melhor evitou o pecado, depois de Cristo.

    O pecado ou é original ou atual; mortal ou venial.

    A Virgem foi preservada do pecado original, desde o primeiro instante de sua concepção e permaneceu sempre isenta de pecado mortal ou venial.

    Também está escrito, no Cântico dos Cânticos: (4, 7) Tu és formosa, amiga minha, e em ti não há mácula.

    «Com exceção da Santa Virgem, diz Santo Agostinho, em seu livro sobre a natureza e a graça; todos os santos e santas, em sua vida terrena, diante da pergunta: «estais sem pecados?» teriam gritado a uma só voz: «Se disséssemos: estamos sem pecado (cf. 1, Jo 1, 6), estaríamos enganando-nos a nós mesmos e a verdade não estaria conosco».

    «A Virgem santa é a única exceção. Para honrar o Senhor, quando se trata a respeito do pecado, não se faça nunca referência à Virgem Santa. Sabemos que a ela foi dada uma abundância de graças maior, para triunfar completamente do pecado. Ela mereceu conceber Aquele que não foi manchado por nenhuma falta».

    Mas o Cristo ultrapassou a Bem-aventurada Virgem. Sem dúvida, um e outro foram concebidos e nasceram sem pecado original. Mas Maria, contrariamente a seu Filho, lhe é submissa de direito. E se ela foi, de fato, totalmente preservada, foi por uma graça e um privilégio singular de Deus Todo Poderoso que é devido aos méritos de seu Filho, Jesus Cristo, Salvador do gênero humano. (N.T.).

    7. — A Virgem realizou também as obras de todas as virtudes. Os outros santos se destacam por algumas virtudes, dentre tantas. Este foi humilde, aquele foi casto, aquele outro, misericordioso, por isto são apresentados como modelo para esta ou aquela determinada virtude; como, por exemplo, se apresenta São Nicolau, como modelo de misericórdia.

    Mas a Bem-aventurada Virgem é o modelo e o exemplo de todas as virtudes. Nela achareis o modelo da humildade. Escutai suas palavras: (Lc 1, 38) Eis a escrava do Senhor. E mais (Lc 1, 48): O Senhor olhou a humildade de sua serva. Ela é também o modelo da castidade: ela mesma confessa que não conheceu homem (cf. Lc 1, 43). Como é fácil constatar, Maria é o modelo de todas as virtudes.

    A Bem-aventurada Virgem é pois cheia de graça, tanto porque faz o bem, como porque evita o mal.

    8. — Em segundo lugar, a plenitude de graça da Virgem Santa se manifesta no reflexo da graça de sua alma, sobre sua carne e todo o seu corpo.

    Já é uma grande felicidade que os santos gozem de graça suficiente, para a santificação de suas almas. Mas a alma da Bem-aventurada Virgem Maria possui uma tal plenitude de graça, que esta graça de sua alma reflete sobre sua carne, que, por sua vez, concebe o Filho de Deus.

    Porque o amor do Espírito Santo, nos diz Hugo de São Vitor, arde no coração da Virgem com um ardor singular, Ele opera em sua carne maravilhas tão grandes, que dela nasceu um Homem Deus, como avisa o Anjo à Virgem santa: (Lc 1, 35) Um Filho santo nascerá de ti e será chamado Filho de Deus.

    9. — Em terceiro lugar, a Bem-aventurada Virgem é cheia de graça, a ponto de espalhar sua plenitude de graça sobre todos os homens.

    Que cada santo possua graça suficiente para a salvação de muitos homens é coisa considerável. Mas se um santo fosse dotado de uma graça capaz de salvar toda a humanidade, ele gozaria de uma abundância de graça insuperável. Ora, essa plenitude de graça existe no Cristo e na Bem-aventurada Virgem.

    Em todos os perigos, podemos obter o auxílio desta gloriosa Virgem. Canta o esposo, no Cântico dos Cânticos: (4, 4) Teu pescoço é como a torre de Davi, edificada com seus baluartes. Dela estão pendentes mil escudos, quer dizer, mil remédios contra os perigos.

    Também em todas as ações virtuosas podemos beneficiar-nos de sua ajuda. Em mim há toda a esperança da vida e da virtude (Ecl 24, 25).

    MARIA

    10. — A Virgem, cheia de graça, ultrapassou os Anjos, por sua plenitude de graça. E por isto é chamada Maria, que quer dizer, «iluminada interiormente», donde se aplica a Maria o que disse Isaias: (58, 11) O Senhor encherá tua alma de esplendores. Também quer dizer: «iluminadora dos outros», em todo o universo; por isso, Maria é comparada, com razão, ao sol e à lua.

    O SENHOR É CONVOSCO

    11. — Em segundo lugar, a Virgem ultrapassa os Anjos em sua intimidade com o Senhor. O arcanjo Gabriel reconhece esta superioridade, quando lhe dirige estas palavras: O Senhor é convosco, isto é, venero-vos e confesso que estais mais próxima de Deus do que eu mesmo estou. O Senhor está, efetivamente, convosco.

    O Senhor Pai está com Maria, pois Ele não se separa de maneira nenhuma de seu Filho e Maria possui este Filho, como nenhuma outra criatura, até mesmo angélica. Deus mandou dizer a Maria, pelo Arcanjo Gabriel (Lc 1, 35) Uma criança santa nascerá de ti e será chamada Filho de Deus.

    O Senhor está com Maria, pois repousa em seu seio. Melhor do que a qualquer outra criatura se aplicam a Maria estas palavras de Isaias: (12, 6) Exulta e louva, casa de Sião, porque o Grande, o Santo de Israel está no meio de ti.

    O Senhor não habita da mesma maneira com a Bem-aventurada Virgem e com os Anjos. Deus está com Maria, como seu Filho; com os Anjos, Deus habita como Senhor.

    O Espírito Santo está em Maria, como em seu templo, onde opera. O arcanjo lhe anunciou: (Lc 1, 35) O Espírito Santo virá sobre ti. Assim, pois, Maria concebeu por efeito do Espírito Santo e nós a chamamos «Templo do Senhor», «Santuário do Espírito Santo». (cf. liturgia das festas de Nossa Senhora).

    Portanto, a Bem-aventurada Virgem goza de uma intimidade com Deus maior do que a criatura angélica.

    Com ela está o Senhor Pai, o Senhor Filho, o Senhor Espírito Santo, a Santíssima Trindade inteira. Por isso canta a Igreja: «Sois digno trono de toda a Trindade».

    É esta então a palavra mais nobre, a mais expressiva, como louvor, que podemos dirigir à Virgem.

    MARIA

    12. — Portanto o Anjo reverenciou a Bem-aventurada Virgem, como mãe do Soberano Senhor e, assim, ela mesma como Soberana. O nome de Maria, em siríaco significa soberana, o que lhe convém perfeitamente.

    13. — Em terceiro lugar, a Virgem ultrapassou aos Anjos em pureza.

    Não só possuía em si mesma a pureza, como procurava a pureza para os outros.

    Ela foi puríssima de toda culpa, pois foi preservada do pecado original e não cometeu nenhum pecado mortal ou venial, como também foi livre de toda pena.

    BENDITA SOIS VÓS ENTRE AS MULHERES

    14. — Três maldições foram proferidas por Deus contra os homens, por causa do pecado original.

    A primeira foi contra a mulher, que traria seu filho no sofrimento e daria à luz com dores.

    Mas a Bem-aventurada Virgem não está submetida a estas penas. Ela concebeu o Salvador sem corrupção, trouxe-o alegremente em seu seio e o teve na alegria. A Ela se aplica a palavra de Isaias: (35, 2) A terra germinará, exultará, cantará louvores.

    15. — A segunda maldição foi pronunciada contra o homem (Gn 3, 9): Comerás o teu pão com o suor de teu rosto.

    A Bem-aventurada Virgem foi isenta desta pena. Como diz o Apóstolo (1 Cor 7, 32-34): Fiquem livres de cuidados as virgens e se ocupem só com o Senhor.

    A terceira maldição foi comum ao homem e à mulher. Em razão dela devem ambos tornar ao pó.

    A Bem-aventurada Virgem disto também foi preservada, pois foi, com o corpo, assunta aos céus. Cremos que, depois de morta, foi ressuscitada e elevada ao céu. Também se lhe aplicam muito apropriadamente as palavras do Salmo 131, 8: Levanta-te, Senhor, entra no teu repouso; tu e a arca da tua santificação.

    MARIA

    A Virgem foi pois isenta de toda maldição e bendita entre as mulheres. Ela é a única que suprime a maldição, traz a bênção e abre as portas do paraíso.

    Também lhe convém, assim, o nome de Maria, que quer dizer, «Estrela do mar», Assim como os navegadores são conduzidos pela estrela do mar ao porto, assim, por Maria, são os cristãos conduzidos à Glória.

    BENDITO É O FRUTO DE VOSSO VENTRE

    18. — O pecador procura nas criaturas aquilo que não pode achar, mas o justo o obtém. A riqueza dos pecadores está reservada para os justos, dizem os Provérbios (13, 22). Assim Eva procurou o fruto, sem achar nele a satisfação de seus desejos. A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou em seu fruto tudo o que Eva desejou.

    19. — Eva, com efeito, desejou de seu fruto três coisas:

    Primeiro, a deificação de Adão e dela mesma e o conhecimento do bem e do mal, como lhe prometera falsamente o diabo: Sereis como deuses (Gn 3, 5), disse-lhes o mentiroso. O diabo mentiu, porque ele é mentiroso e o pai da mentira (cf. Jo 8, 44). E por ter comido do fruto, Eva, em vez de se tornar semelhante a Deus, tornou-se dessemelhante. Por seu pecado, afastou-se de Deus, sua salvação, e
    foi expulsa do paraíso.

    A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou sua deificação no fruto de suas entranhas. Por Cristo nos unimos a Deus e nos tornamos semelhantes a Ele. Diz-nos São João: (1 Jo 3, 2) Quando Deus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como Ele é.

    20. — Em segundo lugar, Eva desejava o deleite (cf. Gn 3, 6), mas não o encontrou no fruto e imediatamente conheceu que estava nua e a dor entrou em sua vida.

    No fruto da Virgem, ao contrário, encontramos a suavidade e a salvação. Quem come minha carne tem a vida eterna (Jo 6, 55).

    21. — Enfim, o fruto de Eva era sedutor no aspecto, mas quão mais belo é o fruto da Virgem que os próprios Anjos desejam contemplar (cf. 1 Pe 1, 12). É o mais belo dos filhos dos homens (Sl 44, 3), porque é o esplendor da glória de seu Pai (Heb 1, 3) como diz S. Paulo.

    Portanto, Eva não pôde achar em seu fruto o que também nenhum pecador achará em seu pecado.

    Acharemos, no entanto, tudo o que desejamos no fruto da Virgem. Busquemo-lo.

    22. — O fruto da Virgem Maria é bendito por Deus, que de tal forma encheu-o de graças que sua simples vinda já nos faz render homenagem a Deus. Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, declara São Paulo (Ef 1, 3).

    O fruto da Virgem é bendito pelos Anjos. O Apocalipse (7, 11) nos mostra os Anjos caindo com a face por terra e adorando o Cristo com seus cantos: O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém

    O fruto de Maria é também bendito pelos homens: Toda a língua confesse que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai, nos diz o Apóstolo (Fp 2, 11). E o Salmista (Sl 117, 26) o saúda assim: Bendito o que vem em nome do Senhor.

    Assim, pois, a Virgem é bendita, porém, bem mais ainda, é o seu fruto.

    De Santo Tomás de Aquino, Doutor Angélico.


    Fonte: Pai Nosso e Ave Maria - Sermões de Santo Tomás de Aquino. Editora Permanência, Rio de Janeiro, 2003.

    sábado, 11 de outubro de 2008

    Nosso Primeiro Folheto Catequético

    Como parte do nosso trabalho de divulgação da Doutrina da Igreja, visando um maior esclarecimento dos católicos e da sociedade acerca da mesma, o Grupo Veritas passará a publicar Folhetos Catequéticos. O primeiro tema escolhido foi a Santa Missa mais precisamente acerca da transubstanciação.

    Inicialmente, os Folhetos serão distribuídos nas missas e encontros de grupos e pastorais da Paróquia Cristo Libertador (onde a maioria dos membros do Veritas reside). O lançamento oficial dos mesmos será na próxima reunião extraordinária do Veritas (dia 19/10/2008).

    Quem desejar baixar, a versão digital do Folheto está disponível no link abaixo:

    Santa Missa - Parte I

    sexta-feira, 10 de outubro de 2008

    Reunião Extraordinária do Grupo Veritas

    O Grupo Veritas informa que haverá reunião dos membros do grupo e convidados.

    Dia: 19.10.2008 (Domingo)
    Hora: 15:30h
    Local: ICM - Sala de Reunião

    Quaisquer informações mande-nos um email ou responda este post.

    Salve Maria!

    Finis venit; venit finis


    Finis venit; venit finis.
    O fim chega; chega o fim (Ez 7,6)

    Por Santo Afonso Maria de Ligório

    Senhor, já que me fazeis reconhecer que tudo quanto o mundo estima não passa de fumo e demência, dai-me força para livrar-me dele antes que a morte me arrebate. Infeliz de mim, que tantas vezes, por míseros prazeres e bens terrenos, vos ofendi e perdi a vós que sois o Bem infinito! Ó meu Jesus, médico celestial, volvei os vossos olhos para minha pobre alma; vede as feridas que eu mesmo lhe abri com meus pecados, e tende piedade de mim. Mas, para me curar, quereis também que me arrependa das ofensas que vos fiz. Já que me arrependo de coração, curai-me, agora que podeis fazê-lo (Sl 40,5). Esqueci-me de vós; mas vós não me esquecestes, e agora me dais a entender que até quereis olvidar minhas ofensas, se eu as detestar (Ez 18,21).

    Sim, detesto e aborreço-as mais que todos os males. Esquecei, pois, meu Redentor, as amarguras que vos causei. Doravante, prefiro perder tudo, até a vida, a perder a vossa graça. De que me serviriam, sem ela, todos os bens do mundo? Dignai-vos ajudar-me, Senhor, já que conheceis minha fraqueza.

    O inferno não deixará de tentar-me; prepara mil assaltos para me reduzir de novo à condição de seu escravo. Mas vós, meu Jesus, não me abandoneis! Quero ser escravo de vosso amor. Sois meu único Senhor, que me criastes, que me remistes e que me amastes sem limites. Sois o único que mereceis amor, e só a vós é que eu quero amar.

    Amem!

    (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, pg. 18)

    HOMILIA DO PAPA BENTO XVI - SANTA MISSA COM OS DOENTES

    VIAGEM APOSTÓLICA À FRANÇA
    POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO
    DAS APARIÇÕES DE LOURDES
    (12 - 15 DE SETEMBRO DE 2008)

    SANTA MISSA COM OS DOENTES

    HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

    Sagrado da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Lourdes
    Segunda-feira, 15 de Setembro de 2008

    Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
    Queridos doentes, prezados acompanhantes e enfermeiros,
    Caros irmãos e irmãs!

    Ontem celebrámos a Cruz de Cristo, instrumento da nossa salvação, que nos revela em plenitude a misericórdia do nosso Deus. A Cruz é realmente o lugar onde se manifesta perfeitamente a compaixão de Deus pelo nosso mundo. Hoje, ao celebrarmos a memória de Nossa Senhora das Dores, contemplamos Maria que partilha a compaixão do Filho pelos pecadores. Como afirmava São Bernardo, a Mãe de Cristo entrou na Paixão do Filho através da sua compaixão (cf. Homilia do Domingo na Oitava da Assunção). Ao pé da Cruz cumpre-se a profecia de Simeão: o seu coração de Mãe é trespassado (cf. Lc 2, 35) pelo suplício infligido ao Inocente, nascido da sua carne. Tal como Jesus chorou (cf. Jo 11, 35), também Maria terá certamente chorado diante do corpo torturado do Filho. Todavia, a sua discrição impede-nos de medir o abismo da sua dor; a profundidade desta aflição é apenas sugerida pelo tradicional símbolo das sete espadas. Como sucedeu com seu Filho Jesus, é possível afirmar que este sofrimento levou-A também a Ela à perfeição (cf. Heb 2, 10), de modo a torná-La capaz de acolher a nova missão espiritual que o Filho Lhe confia imediatamente antes de “entregar o espírito” (cf. Jo 19, 30): tornar-Se a Mãe de Cristo nos seus membros. Naquela hora, através da figura do discípulo amado, Jesus apresenta cada um dos seus discípulos à Mãe dizendo-Lhe: “Eis o teu filho” (cf. Jo 19, 26-27).

    Maria vive hoje na alegria e glória da Ressurreição. As lágrimas derramadas ao pé da Cruz transformaram-se num sorriso que nada mais apagará, embora permaneça intacta a sua compaixão materna por nós. Atesta-o a intervenção da Virgem Maria em nosso socorro ao longo da história e não cessa de suscitar por Ela, no povo de Deus, uma confidência inabalável: a oração Memorare (“Lembrai-Vos”) exprime muito bem este sentimento. Maria ama cada um dos seus filhos, concentrando a sua atenção de modo particular naqueles que, como o Filho d’Ela na hora da Paixão, se acham mergulhados no sofrimento; ama-os, simplesmente porque são seus filhos, por vontade de Cristo na Cruz.

    O Salmista, vislumbrando de longe este vínculo materno que une a Mãe de Cristo e o povo crente, profetiza a respeito da Virgem Maria: “Os grandes do povo procurarão o teu sorriso” (Sal 44, 13). E assim, solicitados pela Palavra inspirada da Escritura, sempre os cristãos procuraram o sorriso de Nossa Senhora, aquele sorriso que os artistas, na Idade Média, tão prodigiosamente souberam representar e engrandecer. Este sorriso de Maria é para todos: no entanto, dirige-se de modo especial para os que sofrem, a fim de que nele possam encontrar conforto e alívio. Procurar o sorriso de Maria não é uma questão de sentimentalismo devoto ou antiquado; antes, é a justa expressão da relação viva e profundamente humana que nos liga Àquela que Cristo nos deu por Mãe.

    Desejar contemplar este sorriso da Virgem não é de forma alguma deixar-se dominar por uma imaginação descontrolada. A própria Escritura nos revela tal sorriso nos lábios de Maria, quando canta o Magnificat: “A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” (Lc 1, 46-47). Quando a Virgem Maria dá graças ao Senhor, toma-nos por suas testemunhas. Maria, como que por antecipação, partilha com os futuros filhos, que somos nós, a alegria que mora no seu coração, para que uma tal alegria se torne também nossa. E cada proclamação do Magnificat faz de nós testemunhas do seu sorriso. Aqui em Lourdes, durante a aparição de 3 de Março de 1858, Bernadete contemplou de maneira muito especial este sorriso de Maria. Foi esta a primeira resposta dada pela Bela Senhora à jovem vidente, que queria saber a sua identidade. Antes de apresentar-Se-lhe alguns dias mais tarde como “a Imaculada Conceição”, Maria fez-lhe conhecer antes de mais nada o seu sorriso, como se tal fosse a porta mais apropriada para a revelação do seu mistério.

    No sorriso da mais eminente de todas as criaturas, que a nós se dirige, reflecte-se a nossa dignidade de filhos de Deus, uma dignidade que nunca se extingue em quem está doente. Aquele sorriso, verdadeiro reflexo da ternura de Deus, é a fonte duma esperança invencível. Acontece infelizmente – bem o sabemos – que o sofrimento prolongado quebre os equilíbrios melhor consolidados duma vida, abale as mais firmes certezas da confiança e chegue por vezes até a fazer desesperar do sentido e valor da vida. Há combates que o homem não pode sustentar sozinho, sem a ajuda da graça divina. Quando a palavra já não consegue encontrar expressões adequadas, subentra a necessidade duma presença carinhosa: procuramos então a solidariedade não só daqueles que compartilham o nosso próprio sangue ou estão ligados connosco por vínculos de amizade, mas também a solidariedade de quantos se acham intimamente unidos a nós pelo laço da fé. E quem de mais íntimo poderíamos nós ter além de Cristo e da sua santa Mãe, a Imaculada? Mais do que qualquer outrem, Eles são capazes de nos compreender e perceber a dureza do combate que travamos contra o mal e o sofrimento. A Carta aos Hebreus, referindo-se a Cristo, afirma que Ele não é alguém incapaz de “compadecer-Se das nossas fraquezas; pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo” (Heb 4, 15).

    Queria, humildemente, dizer àqueles que sofrem e a quantos lutam e se sentem tentados a virar as costas à vida: Voltai-vos para Maria! No sorriso da Virgem, encontra-se misteriosamente escondida a força para continuar o combate contra a doença e a favor da vida. Junto d’Ela, encontra-se igualmente a graça para aceitar, sem medo nem mágoa, a despedida deste mundo na hora querida por Deus.

    Quão justa era a intuição daquela bela figura espiritual francesa que foi o Padre Jean-Baptiste Chautard, quando, na obra A alma de todo o apostolado, propunha ao cristão fervoroso frequentes “trocas de olhar com a Virgem Maria”! Sim, procurar o sorriso da Virgem Maria não é um pio infantilismo; é a inspiração – diz o Salmo 44 – daqueles que são “os grandes do povo” (v. 13). “Os grandes”, entenda-se, na ordem da fé, aqueles que possuem a maturidade espiritual mais elevada e sabem por isso reconhecer a sua fraqueza e pobreza diante de Deus. Naquela manifestação muito simples de ternura que é o sorriso, apercebemo-nos de que a nossa única riqueza é o amor que Deus nos tem e que passa através do Coração d’Aquela que Se tornou nossa Mãe. Procurar este sorriso significa em primeiro lugar perceber a gratuidade do amor; significa também saber suscitar este sorriso com o nosso empenho em viver segundo a palavra do seu dilecto Filho, tal como a criança procura suscitar o sorriso da mãe fazendo aquilo que é do agrado dela. E nós sabemos o que agrada a Maria pelas palavras que Ela mesma dirigiu aos serventes em Caná: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

    O sorriso de Maria é uma fonte de água viva. “Do seio daquele que acredite em Mim – disse Jesus –, correrão rios de água viva” (Jo 7, 38). Maria é Aquela que acreditou e, do seu seio, correram rios de água viva, que vêm regar a história dos homens. A fonte indicada por Maria a Bernadete, aqui em Lourdes, é o sinal humilde desta realidade espiritual. Do seu coração de crente e de mãe corre uma água viva que purifica e cura. Inúmeros são aqueles que, mergulhando nas piscinas de Lourdes, descobriram e experimentaram a doce maternidade da Virgem Maria, agarrando-se a Ela para melhor se prenderem ao Senhor! Na sequência litúrgica desta festa de Nossa Senhora das Dores, Maria é honrada sob o título de “Fons amoris”, “Fonte de amor”. Realmente, do coração de Maria, brota um amor gratuito que suscita uma resposta filial, chamada a aperfeiçoar-se sem cessar. Como toda a mãe, e melhor do que qualquer outra mãe, Maria é a educadora do amor. É por isso que tantos doentes vêm aqui, a Lourdes, para dessedentar-se nesta “Fonte de amor” e deixar-se conduzir até à única fonte da salvação, o seu Filho, Jesus Salvador.

    Cristo dispensa a sua salvação através dos sacramentos e, de modo especial, às pessoas que estão doentes ou são portadoras de qualquer deficiência, através da graça da Unção dos Enfermos. Para cada um, o sofrimento é sempre um estranho. Não nos habituamos nunca à sua presença. Por isso é difícil suportá-lo, e mais difícil ainda – como fizeram algumas grandes testemunhas da santidade de Cristo – acolhê-lo como parte integrante da própria vocação, ou aceitar, segundo a expressão de Bernadete, “tudo sofrer em silêncio para comprazer Jesus”. Para se poder dizer isto, é necessário ter percorrido já um longo caminho em união com Jesus. Em contrapartida, é possível imediatamente desde já abandonar-se à misericórdia de Deus tal como esta se manifesta por meio da graça do sacramento dos doentes. A própria Bernadete, no decurso duma existência frequentemente marcada pela doença, recebeu este sacramento quatro vezes. A graça própria deste sacramento consiste em acolher em si mesmo Cristo médico. Cristo, porém, não é médico à maneira do mundo. Para nos curar, Ele não fica fora do sofrimento que se experimenta; mas alivia-o vindo habitar naquele que está atingido pela doença, para a suportar e viver com ele. A presença de Cristo vem quebrar o isolamento que a dor provoca. O homem deixa de carregar sozinho a sua provação, mas enquanto membro sofredor de Cristo, fica conformado a Ele que Se oferece ao Pai e n’Ele participa no parto da nova criação.

    Sem a ajuda do Senhor, o jugo da doença e do sofrimento pesa cruelmente. Recebendo o sacramento dos doentes, não desejamos levar outro jugo que não seja o de Cristo, fortalecidos pela promessa que Ele nos fez, isto é, que o seu jugo será fácil de levar e leve o seu peso (cf. Mt 11, 30). Convido as pessoas que vão receber a Unção dos doentes durante esta Missa a abrirem-se a uma tal esperança.

    O Concílio Vaticano II apresentou Maria como a figura na qual está compendiado todo o mistério da Igreja (cf. LG 63-65). A sua vida pessoal apresenta o perfil da Igreja, sendo esta convidada a estar atenta como Ela às pessoas que sofrem. Dirijo uma saudação afectuosa aos componentes do Serviço de Saúde e Enfermagem, bem como a todas as pessoas que por diversos títulos, nos hospitais e noutras instituições, contribuem para o cuidado dos doentes com competência e generosidade. De igual modo ao pessoal de acolhimento, aos maqueiros e aos acompanhantes que, originários de todas as dioceses de França e de mais longe ainda, se prodigalizam ao longo de todo o ano à volta dos doentes que vêm em peregrinação a Lourdes, quero dizer quão precioso é o seu serviço. Eles são os braços da Igreja, humilde serva. Desejo enfim encorajar aqueles que, em nome da sua fé, acolhem e visitam os doentes, de modo particular nas capelanias dos hospitais, nas paróquias ou, como aqui, nos santuários. Possais vós sentir sempre, nesta importante e delicada missão, o apoio eficaz e fraterno das vossas comunidades! E, neste sentido, saúdo e agradeço também de modo particular meus irmãos no episcopado, os bispos franceses, os bispos estrangeiros e os sacerdotes que, todos eles, são acompanhadores dos enfermos e dos homens marcados pelo sofrimento no mundo. Obrigado pelo vosso serviço junto ao Senhor que sofre.

    O serviço de caridade que prestais é um serviço mariano. Maria confia-vos o seu sorriso, para que vós próprios vos torneis, na fidelidade a seu Filho, fontes de água viva. Aquilo que estais fazendo, fazeis-lo em nome da Igreja, de quem Maria é a imagem mais pura. Possais vós levar o seu sorriso a todos!

    Ao concluir, desejo unir-me à oração dos peregrinos e dos doentes e retomar juntamente convosco um pedaço da oração a Maria feita para a celebração deste Jubileu:

    Porque Vós sois o sorriso de Deus, o reflexo da luz de Cristo, a habitação do Espírito Santo,

    porque Vós escolhestes Bernadete na sua miséria, Vós que sois a estrela da manhã, a porta do céu e a primeira criatura ressuscitada,


    Nossa Senhora de Lourdes”, com os nossos irmãos e as nossas irmãs cujos corações e corpos estão a sofrer, nós Vos rezamos!

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