- Cartas sobre Fé - Introdução
- Cartas sobre Fé - Primeira Carta
- Cartas sobre Fé - Segunda Carta
- Cartas sobre Fé - Terceira Carta
- Cartas sobre Fé - Quarta Carta
- Cartas sobre Fé - Quinta Carta
- Cartas sobre Fé - Sexta Carta
Por Pe. Emmanuel-André
Deus nos deu os sentidos, a razão e a fé. Pelos sentidos nós entramos em contato com as coisas sensíveis, que lhes são proporcionadas; pela razão atingimos coisas superiores aos sentidos, coisas intelectuais; mas pela fé, Deus nos dá o modo de atingirmos, por um conhecimento mais elevado, as coisas divinas e o próprio Deus.
A razão criada por Deus, para Deus mesmo, só encontrará repouso em Deus, verdade primeira; a razão tem pois uma necessidade inata de Deus e o procuraria naturalmente se o homem não tivesse pecado, assim enfraquecendo-se, inclinando-se na maior parte das vezes, prendendo-se às coisas sensíveis.
A fé que Deus nos deu repara, ao menos em parte, a doença original da razão humana. Restaurando, retificando, fortalecendo a razão, faz com que ela atinja uma ordem de conhecimento que nunca poderia abordar: a ordem do conhecimento sobrenatural, ou das verdades reveladas por Deus.
É a fé que nos faz acreditar nas coisas invisíveis, diz São Paulo. Estas coisas invisíveis são parte daquilo que Deus conhece. Ele se revelou por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os apóstolos e, depois deles, a Igreja, nos transmitem a própria palavra de Deus; e por uma graça que chamamos o dom da fé recebemos esta palavra e nos convencemos de que esta palavra é a verdade.
O homem que não tem fé, só conhece na medida de seus sentimentos e de sua razão; o homem que possui a fé vai mais longe: percebe o insensível, atinge o invisível; em certa medida, entra na participação da ciência e da razão de Deus.
Então faz-se em sua alma uma nova luz, superior a qualquer luz natural; e em virtude de sua superioridade, essa luz se torna reguladora das luzes interiores que são a razão e os sentidos.
Assim tudo se subordina à fé, tudo entra na ordem sobrenatural; o olhar de nossos olhos, os pensamentos de nosso espírito, acharam leis que os salvaguardam, os preservam dos embates, os dirigem ao bem, leis que os fazem atingir o próprio Deus.
Nesta luz superior o homem de fé sente-se bem, é feliz: goza da verdade, ao menos tanto quanto é possível à criatura na vida presente. Para um homem de fé, diz São Jerônimo, o mundo inteiro é um grande tesouro. Como assim? Porque dominando todas as coisas e percebendo-as sob um novo dia que é o dia da fé, o homem reconhece em tudo a obra de Deus; reconhece em tudo a vontade de Deus. Debaixo de todas as coisas o homem encontra a vontade de Deus, boa, bela, perfeita. E nela o homem se alegra.
Mesmo as coisas sensíveis vistas nesta luz são para o homem de fé um grande tesouro. Como o fiel é mais rico quando seu espírito repousa nos bens espirituais, nos invisíveis de Deus - como diz São Paulo.
É preciso ser um São Paulo para falar dignamente destas riquezas de nossa fé; eu por mim, me limitarei a mostrar em ação, uma fé prática dotada destes bens invisíveis de Deus.
A senhora mora em uma cidade. Qual é, na sua opinião, o lugar que lhe parece o mais importante da localidade? Qual é o personagem que é, a seus olhos, realmente maior entre todos os que moram no lugar? A tal questão, quantos responderiam dando o nome de um monumento, de um senhor ou uma senhora? Quem sabe?
O homem de fé iria mais longe e diria imediatamente: Nosso Senhor Jesus Cristo presente no Santíssimo Sacramento. Eis a verdadeira sabedoria, a verdadeira grandeza. Os olhos não vêem nada disso, é verdade; a razão humana não a alcança, é também verdade; mas Deus nos deu a fé precisamente para nos tornar atentos ao que nossos olhos não vêem. É a fé que nos faz acreditar nas coisas invisíveis, diz São Paulo.
Entre as coisas invisíveis, naturalmente depois de Deus, temos de contar as almas. O homem de fé está atento às almas. Para os outros, um homem é apenas um corpo. Depois das almas, ou melhor, junto com as almas, o homem de fé considera o estado da alma: a graça ou o pecado, seu mérito diante de Deus, seu presente e seu futuro. Ele é solícito para com as almas; trata dos seus interesses, com Deus todos os dias, e sempre que pode, com elas mesmo.
E é por tais atos que a fé se revela, que a fé cresce, que a fé nos leva a Deus.
Digamos juntos: Credo.
Continua...
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