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Por Pe. Emmanuel-André
Houve outrora, no berço do cristianismo, em Roma, uma disputa muito viva sobre a fé e as obras. Uns diziam: a fé é suficiente; outros: as obras, as obras, é o necessário!
Se um belo dia estivéssemos no jardim de sua casa e submetêssemos a seus filhos uma pergunta análoga: meninos, digam o que acham, o que é mais necessário: as maçãs ou a macieira? Os meninos certamente nos diriam que bastam as maçãs. Mas os mais velhos, compreendendo que sem as macieiras não haveria maçãs, responderiam: o que é preciso são as macieiras com as maçãs. E com efeito, é impossível haver maçãs sem macieiras, e macieiras sem maçãs são inúteis.
Deixando o apólogo, diremos que a fé é a árvore indispensável para haver os frutos da salvação e que os frutos que se pode colher sem a fé, não serão frutos de salvação.
São Gregório Magno disse numa palavra: Nec fides sine operibus, nec opera adjuvant sine fide. Quer dizer: A fé sem as obras ou as obras sem a fé, de nada valem.
A fé é, para o cristão, a raiz da salvação e de toda obra que leva à salvação. A santa esperança e a caridade divina vêm dar ao fruto ou à obra o gosto, o sabor, a doçura, o mérito; mas sem a fé não há mérito, nem doçura, nem sabor, nem gosto, nem fruto, nem obra que seja útil à salvação.
Guarde bem esse primeiro princípio. Eis um outro que deste decorre incontestavelmente: a medida da fé é a medida do mérito da obra. Sei bem que a última palavra, o mérito do cristão, pertence à caridade; mas a caridade é filha da fé, filha que pode crescer com sua mãe de modo que, no final das contas, o cristão deve ter a fé como medida de todas as coisas. Nosso Senhor dizia com este pensamento: «Vossa fé vos salvou!».
Isto posto, vamos dar uma volta por esse mundo e procurar um pouco por onde anda a fé, onde estão as obras, filhas da fé.
E para começar, já notou muitas vezes, que nosso século é o século das obras? Nunca, nunca se viu surgir tantas obras, com tal exuberância.
Mas será na mesma proporção um século de fé? Ai de nós! É preciso que se diga quanto a fé é rara em nossos dias.
De uma árvore singularmente enfraquecida, vemos surgir uma quantidade de frutos que nos encantariam se pudéssemos esquecer o estado de sua alma. As obras surgem e crescem sempre, e ao mesmo tempo somos obrigados a convir que a fé está morrendo. Não haverá nisto umas espécie de contradição? A contradição é apenas aparente. As obras da salvação, dissemos, nascem da fé; mas as obras que se parecem com as obras da salvação, podem nascer de um outro princípio que não seja a fé.
E então que dizer? De duas uma: ou as obras nascidas de um princípio que não é a fé serão úteis para outra coisa que não as almas, e assim não terão nada a ver com Deus; ou essas obras não subsistirão e perecerão.
Nascidos de outro princípio que não seja a fé, criações da inteligência ou da imaginação, as obras que não são alimentadas pelo suco vivificante da fé, o único que vivifica, vivem da habilidade do homem ou de seu dinheiro ou de seu crédito. Essas obras não salvam os homens e são, diante de Deus, árvores estéreis; o tempo virá com seu machado para abatê-las, não faltará.
A Igreja, que é obra de Deus, permanece e permanecerá porque guarda e guardará a fé. Nós, filhos de Deus e da Igreja só permanecemos e permaneceremos, nós e nossas obras, na medida de nossa fé.
Se todas as obras que hoje pululam em volta de nós tivessem tanto ardor em vivificar a árvore da fé quanto para produzir frutos, certamente veríamos maravilhas. Mas infelizmente, falta a fé e não falta quem queira recolher os frutos da fé antes de havê-la semeado. Neste sentido, caminha-se a passos largos, porém à margem do caminho. Magnum passus, sed extra viam, dizia Santo Agostinho.
Digamos juntos: Credo.
Continua...
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