Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Da Unidade da Igreja Católica - São Cipriano de Cartago (Parte 8)

Capítulo XXV - O exemplo dos primeiros cristãos

1. Essa unidade reinou ao tempo dos Apóstolos e a nova plebe, o povo dos que acreditaram, guardava os preceitos do Senhor e ficava fiel à sua caridade. Prova-o a divina Escritura, dizendo: "A multidão daqueles que acreditaram se comportava como se fossem todos uma só alma e uma só mente" (At 4,32).

2. E antes: "Estavam perseverando todos unânimes na oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos" (At 1,14). Por isto oravam de modo eficaz e podiam confiar em alcançar o que estavam pedindo à misericórdia divina.

Capítulo XXVI - Exortação para uma vida cristã integral

1. Entre nós, ao contrário, esta união está demasiado relaxada, e ao mesmo tempo aparece muito enfraquecida a generosidade nas obras (boas). Então vendiam as suas casas e as suas propriedades e entregavam o preço aos Apóstolos, para que fosse distribuído aos pobres: assim colocavam seus tesouros no céu [Cf Mt 6,19]. Hoje nem se dão os dízimos dos patrimônios e, enquanto o Senhor diz "vendei" [Cf Lc 12,33], nós preferimos comprar e possuir mais. Como, entre nós, murchou o vigor da fé, como esmoreceu a força daqueles que crêem!

2. Por isto o Senhor, falando destes nossos tempos, diz no Evangelho: "Quando vier o Filho do homem, pensas que encontrará fé na terra?" (Lc 18,8). Vemos que está acontecendo o que ele predisse. No que diz respeito ao temor de Deus, à lei da justiça, ao amor, às obras, não há mais fé. Ninguém se preocupa com as coisas que hão de vir, ninguém pensa no dia do Senhor, na ira de Deus, nos futuros suplícios dos incrédulos, nos eternos tormentos destinados aos pérfidos. Se crêssemos, a nossa consciência teria medo de tudo isto. Se não temos medo é sinal que não cremos. Quem acredita se acautela, quem se acautela se salva.

3. Despertemos, irmãos diletíssimos, quebremos o sono da inércia rotineira e, por quanto for possível, sejamos vigilantes em guardar e cumprir os preceitos do Senhor. Sejamos prontos, como ele seja, quando diz: "Estejam cingidos os vossos rins, e as lâmpadas acesas nas vossas mãos, e vós sede semelhantes a homens que esperam o seu dono, quando voltar das núpcias, para lhe abrirem logo que ele chegar e bater. Bem-aventurados os servos que o Senhor, chegando, encontrar vigilantes" (Lc 12,35-37). É necessário que estejamos cingidos, a fim de que, quando vier o dia da partida, não sejamos surpreendidos cheios de impedimentos e de embaraços. Fique sempre viva a nossa luz e brilhe em boas obras, para nos guiar da noite deste mundo aos esplendores da claridade eterna. Sempre solícitos e cautos, fiquemos à espera da chegada repentina do Senhor. Quando ele bater, encontre a nossa fé vigilante com uma tal vigilância que mereça receber o prêmio do mesmo Senhor.

4. Se forem observados esses mandamentos, se forem postas em prática essas exortações, não acontecerá que sejamos vencidos, no sono, pela falácia do demônio, mas, como servos bons e vigilantes, reinaremos com Cristo glorioso.

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Notas:
[Capítulo XVII] Parece até intolerância de S. Cipriano, mas defender a fé não é intolerância. A culpa não é tanto estar fora da Igreja "in-fidelis", mas em ter saído da Igreja e teimar numa fé espúria e pervertida "perfídia". S. Cipriano deseja defender os que permanecem na Igreja, das falsas doutrinas dos hereges, e não incitar um preconceito gratuito.
[Capítulo XIX] Lapsos era o nome dado aos cristãos que durante a perseguição tinham sacrificado incenso aos ídolos, o que significava renúncia à fé. Para serem reintegrados na comunidade da Igreja deviam se submeter às penitências prescritas.
[Capítulo XX] Os confessores eram os cristãos que afirmavam a fé perante os perseguidores, e por um motivo ou outro, não eram condenados a morte. Alguns deles, cheios de soberba pelo ato de fé que praticou, achavam que tinham o direito de dar o aval aos lapsos (ver nota acima) e reintegrá-los na comunidade sem as penitências. Alguns confessores se tornaram cismáticos.


Tradução: Toni Lopes

Fonte: http://cocp.veritatis.com.br/

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