Quando os fundamentalistas estudam os escritos dos "reformadores" (ou fundadores de suas seitas particulares) sobre Maria, a Mãe de Jesus, eles encontrarão que os "reformadores" aceitavam quase que a maior parte da doutrina mariana e consideravam ser essas doutrinas tanto baseadas na Escritura quanto fundamentais para a Fé Cristã histórica.
Martinho Lutero:
Maria, a Mãe de Deus
Por toda a sua vida, Lutero manteve sem mudança a afirmação cristã histórica de que Maria era a Mãe de Deus: "Ela é corretamente chamada não somente de mãe do homem, mas também a Mãe de Deus... É certo que Maria seja a Mãe do Deus real e verdadeiro."1
Virgindade Perpétua
Novamente, por toda a sua vida, Lutero sustentava que a virgindade perpétua de Maria era um artigo de fé para todos os cristãos - e interpretava Gálatas 4,4 para significar que Cristo foi "nascido de uma mulher" sozinha.
É um artigo de fé que Maria seja Mãe do Senhor e ainda uma Virgem."2
A Imaculada Conceição
Ademais, novamente, a Imaculada Conceição foi uma doutrina que Lutero defendia até a sua morte (como confirmado pelos estudiosos luteranos como Arthur Piepkorn). Como Agostinho, Lutero viu um vínculo inquebrável entre a maternidade divina de Maria, a virgindade perpétua e a imaculada conceição. Embora a sua formulação da doutrina da Imaculada Conceição não fosse claramente nítida, ele sustentava que a alma dela fosse isenta do pecado desde o início:
"Mas a outra concepção, nomeadamente a infusão da alma, é piedosa e devidamente acreditada, foi sem qualquer pecado, de modo que, enquanto a alma estava sendo infundida, ela seria ao mesmo tempo limpada do pecado original e adornada com as dádivas de Deus para receber a santa alma desta maneira infusa. E, desta maneira, no mesmo momento em que ela começou a viver, ela estava sem todo pecado..."3
Assunção
Embora ele não tivesse feito disso um artigo de fé, Lutero disse sobre a doutrina da Assunção:
"Não pode haver dúvida de que a Virgem Maria esteja no céu. Como isso aconteceu, nós não sabemos."4
Honra a Maria
Apesar de seu criticismo incessante das doutrinas tradicionais da mediação e intercessão marianas, ao final Lutero continuou a proclamar que Maria deveria ser honrada. Ele fez disso um ponto a pregar nos dias de festa dela.
"A veneração de Maria está inscrita nas profundezas do coração humano."5
"Somente Cristo é para ser adorado?" Ou a santa Mãe de Deus não deve ser honrada? Esta é a mulher que esmagou a cabeça da Serpente. Ouça-nos. Porque o teu Filho não te nega nada."6 Lutero fez esta declaração em seu último sermão em Wittenberg em janeiro de 1546.
João Calvino
Tem sido dito que João Calvino pertenceu à segunda geração dos reformadores e certamente a sua teologia da dupla predestinação governou as suas visões sobre a doutrina mariana e toda a cristã. Embora Calvino não fosse profuso em seu louvor a Maria como Martinho Lutero, ele não negou a sua virgindade perpétua. O termo que ele usava mais comumente para se referir a Maria era "Virgem Sagrada".
"Isabel chamou Maria de Mãe do Senhor, porque a unidade da pessoa de Cristo em duas naturezas foi tal que ela poderia ter dito que o homem mortal produzido no ventre de Maria era ao mesmo tempo o Deus eterno."7
"Helvídio mostrou-se muito ignorante ao dizer que Maria teve diversos filhos, porque a menção é feita em algumas passagens dos irmãos de Cristo."8 Calvino traduziu "irmãos" neste contexto para significar primos ou parentes.
"Não pode ser negado que Deus ao escolher e destinar Maria para ser a Mãe de seu Filho lhe garantiu a mais alta honra."9
"Até este dia nós não podemos apreciar a bênção trazida a nós em Cristo sem pensar ao mesmo tempo naquilo que Deus deu como adorno e honra a Maria, em querê-la para ser a mãe de seu Filho unigênito."10
Ulrich Zwingli
"Foi-lhe dado o que não pertence à criatura, que na carne ela deveria gerar o Filho de Deus."11
"Eu firmemente acredito em Maria, de acordo com as palavras do evangelho, como uma Virgem pura que gerou para nós o Filho de Deus, e no parto e depois do parto para sempre permaneceu uma Virgem pura, intacta."12 Zwingli usou Êxodo 4,22 para defender a doutrina da virgindade perpétua de Maria.
"Eu estimo imensamente a Mãe de Deus, a sempre casta, imaculada Virgem Maria."13
"Cristo... nasceu da mais incontaminada Virgem."14
"Era justo que tal Filho santo tivesse uma Mãe santa."15
"Quanto mais a honra e o amor de Cristo cresce entre os homens, mais a estima e a honra dadas a Maria devem crescer."16
Poderíamos querer saber por que as afirmações marianas dos reformadores não sobreviveram no ensinamento de seus herdeiros - especialmente os fundamentalistas. Esta quebra com o passado não veio por nenhuma descoberta ou revelação nova. Os próprios reformadores (veja acima) tomaram uma posição benigna, justamente positiva, da doutrina mariana - embora eles rejeitassem a mediação mariana por causa de sua rejeição a toda mediação humana. Além do mais, enquanto havia alguns excessos na piedade mariana popular, a doutrina mariana como ensinada na época pré-reformista extraiu a sua inspiração do testemunho da Escritura e foi enraizada na Cristologia. A real razão para a quebra com o passado deve ser atribuída à paixão iconoclasta dos seguidores da Reforma e as consequências de alguns princípios de reforma. Ainda mais influente sobre a quebra com Maria foi a influência da Era do Iluminismo, a qual essencialmente questionou ou negou os mistérios de fé.
Infelizmente, os ensinamentos e as pregações marianas dos reformadores têm sido "acobertados" pelos seus mais zelosos seguidores - com consequências teológicas e práticas prejudiciais. Esta "cobertura" pode ser detectada mesmo na Chosen by God: Mary in Evangelical Perspective(Escolhida por Deus: Maria na Perspectiva Evangélica), uma crítica evangélica à Mariologia. Um dos contribuidores admite que "O mais notável para os protestantes modernos é a quase aceitação universal dos reformadores da virgindade contínua de Maria, e a sua relutância generalizada em declarar Maria uma pecadora". Então ele pergunta se é "uma providência favorável" que manteve esses ensinamentos marianos dos reformadores de serem "transmitidos às igrejas protestantes"!17
O que é interpretado como "Providência" por um crítico mariano pode ser legitimamente interpretado como uma força de um tipo muito diferente por um cristão que reconheceu o papel de Maria no plano de Deus.
NOTAS
1 Martin Luther, Weimar edition of Martin Luther's Works, English translation edited by J. Pelikan [Concordia: St. Louis], volume 24, 107.
2 Martin Luther, op. cit., Volume 11, 319-320.
3 Martin Luther, Weimar edition of Martin Luther's Works, English translation edited by J. Pelikan [Concordia: St.Louis], Volume 4, 694.
4 [Martin Luther, Weimar edition of Martin Luther's Works (Translation by William J. Cole) 10, p. 268.
5 [Martin Luther, Weimar edition of Martin Luther's Works(Translation by William J. Cole) 10, III, p.313.
6 Martin Luther, Weimar edition of Martin Luther's Works, English translation edited by J. Pelikan [Concordia: St. Louis], Volume 51, 128-129.
7 John Calvin, Calvini Opera [Braunshweig-Berlin, 1863-1900], Volume 45, 35.
8 Bernard Leeming, "Protestants and Our Lady", Marian Library Studies, January 1967, p.9.
9 John Calvin, Calvini Opera [Braunshweig-Berlin, 1863-1900], Volume 45, 348.
10 John Calvin, A Harmony of Matthew, Mark and Luke (St. Andrew's Press, Edinburgh, 1972), p.32.
11 Ulrich Zwingli, In Evang. Luc., Opera Completa [Zurich, 1828-42], Volume 6, I, 639
12 Ulrich Zwingli, Zwingli Opera, Corpus Reformatorum, Volume 1, 424.
13 E. Stakemeier, De Mariologia et Oecumenismo, K. Balic, ed., (Rome, 1962), 456.
14 Ibid.
15 Ibid.
16 Ulrich Zwingli, Zwingli Opera, Corpus Reformatorum, Volume 1, 427-428.
17 David F. Wright, ed., Chosen by God: Mary in Evangelical Perspective (London: Marshall Pickering, 1989), 180.
Tradução de Marcos Zamith
Fonte: http://www.catholicapologetics.info/apologetics/general/mary.htm
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